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204<br />

O Quimono<br />

Escarlate<br />

The Crimson Kimono<br />

1959, 35 mm, 82 min, 1.85 : 1<br />

Direção: Samuel Fuller<br />

roteiro: Samuel Fuller<br />

Fotografia: Sam Leavitt<br />

Montagem: Jerome Thoms<br />

Música: Harry Sukman<br />

Produção: Samuel Fuller<br />

Companhia Produtora: Globe Enterprises<br />

elenco: Victoria Shaw, Glenn Corbett, James Shigeta, Anna Lee,<br />

Paul Dubov, Jaclynne Greene, Neyle Morrow, Gloria Pall, Pat<br />

Silver, George Yoshinaga, Kaye Elhardt<br />

Classificação Indicativa: 16 anos<br />

Em Los Angeles, dois amigos, veteranos combatentes da Guerra<br />

da Coreia, trabalham juntos como detetives da divisão de homicídios e<br />

estão encarregados de resolver o assassinato de uma dançarina. Durante<br />

as investigações, eles se apaixonam por uma misteriosa mulher.<br />

Na Main Street de Los Angeles, às oito da<br />

noite, Sugar Torch, uma loira belzebu, faz um<br />

striptease na casa Burlesque, onde é a atração<br />

principal. Ao entrar no camarim depois<br />

de fazer um gracejo no segurança distraído,<br />

encontra uma figura de sobretudo, chapéu e<br />

óculos escuros que atira na pintura pendurada<br />

na parede e em seguida dispara em sua<br />

direção. A stripper sai correndo pela rua e<br />

é alvejada por um tiro em meio ao trânsito<br />

de carros. O que esse trecho inicial nos revela?<br />

Muito. Isso não quer dizer que nesse<br />

início o filme nos dê as chaves de compreensão<br />

do mistério, mas induz o espectador a<br />

uma imersão singular em um universo, tanto<br />

que começa em um plano geral aéreo, seguido<br />

de outro que revela a rua de inferninhos,<br />

na sequência um striptease, e, depois dos<br />

tiros, a câmera volta à rua em meio ao movimento<br />

urbano noturno onde Sugar Torch<br />

é assassinada miseravelmente. Sua morte é<br />

exato oposto da morte de dimensões épicas<br />

de Tony Camonte em Scarface. Morre como<br />

“qualquer uma”. O tempo não para, e ela é só<br />

mais um cadáver na noite. No dia seguinte,<br />

a imprensa marrom já fez o seu trabalho, e<br />

a polícia começa o seu. Estamos em um dos<br />

grandes filmes noir de Samuel Fuller.<br />

O fato de o diretor trabalhar nas caracterizações<br />

e regras do gênero – seja noir,<br />

guerra ou western – dá a ele esta possibilidade<br />

de conceber universos atravessados<br />

pela contradição, sem apelar para truques<br />

de roteiro e psicologia vagabunda. Todos os<br />

personagens que conhecemos, entre o assassinato<br />

da garota e a descoberta do autor<br />

do crime em O Quimono Escarlate, estão<br />

expostos em suas ambiguidades. Os policiais<br />

de Fuller, como seus bandidos e mercenários,<br />

são profundamente afetados pelo elemento<br />

humano em jogo. As paixões, sejam elas<br />

quais forem, é o que os desestabiliza, mas<br />

não os arrefecem. O assassinato da stripper<br />

é um ponto de partida para o desnudamento<br />

de algo que, no entanto, não dissimula sua<br />

imagem: uma comunidade urbana, moderna,<br />

com diferenças profundas – conciliáveis ou<br />

inconciliáveis – e injustiças flagrantes entre<br />

seus membros.<br />

Durante o filme, o crime parece se tornar<br />

secundário, porém, se vimos tudo começar<br />

nele, voltamos para ele em seu final. Nesse<br />

ínterim, temos os dois policiais, o branco e o<br />

nissei, ambos apaixonados por uma pintora a<br />

quem protegem e amigos de uma outra pintora,<br />

mais efusiva e inteligente só que constantemente<br />

bêbada. Há também uma observação<br />

curiosa sobre mistura de culturas, com freiras<br />

coreanas e ocidentais engajados na cultura<br />

japonesa, cemitérios de heróis de guerra<br />

nisseis que lutaram contra o país de seus pais<br />

e etc. Para tanto, uma mise en scène que<br />

relaciona fatores distintos. Fuller conjuga os<br />

interiores (estúdio) e exteriores, a construção<br />

de um espaço dramático e o agenciamento<br />

caótico de uma locação a céu aberto. Enfim, o<br />

realismo colateral de Samuel Fuller que aqui<br />

explora todas as suas ambivalências com uma<br />

elegância bruta (na ação, nas asserções) e sutil<br />

(no ritmo, nos detalhes).<br />

Francis Vogner dos Reis<br />

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