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Tormenta Sob<br />
os Mares<br />
Hell and High Water<br />
1954, 35 mm, 103 min, 2.55 : 1<br />
Direção: Samuel Fuller<br />
roteiro: Jesse L. Lasky Jr.,<br />
Samuel Fuller<br />
Fotografia: Joe MacDonald<br />
Montagem: James B. Clark<br />
Música: Alfred Newman<br />
Produção: Raymond A. Klune<br />
Companhia Produtora: Twentieth<br />
Century-Fox<br />
elenco: Richard Widmark, Bella<br />
Darvi, Victor Francen,<br />
Cameron Mitchell, Gene Evans,<br />
David Wayne,<br />
Stephen Bekassy, Richard Loo<br />
Classificação<br />
Indicativa: 16 anos<br />
Um cientista e sua equipe rumam ao Ártico em um submarino<br />
em busca de provas de um iminente ataque comunista que poderia<br />
culminar com a Terceira Guerra Mundial.<br />
Uma pequena cena de Tormenta Sob<br />
os Mares expõe a marca infalível de Samuel<br />
Fuller: após capturarem um prisioneiro, os<br />
personagens liderados pelo Capitão Jones<br />
precisam obter dele uma informação. Um<br />
dos tripulantes do submarino se oferece<br />
para disfarçar-se de soldado inimigo e<br />
tentar descobrir o que eles precisam saber<br />
junto ao prisioneiro. A missão é um sucesso,<br />
mas o personagem acaba desmascarado<br />
pelo inimigo e morto friamente antes que a<br />
tripulação possa chegar para ajudá-lo. Uma<br />
morte banal, estúpida, completamente inesperada<br />
(não estávamos, ali, em um dos clímax<br />
dramáticos do filme). Mas que morte<br />
não é, em si, sempre estúpida e banal? Em<br />
Fuller, a morte é uma regra; é preciso que<br />
os personagens morram, trata-se de um de<br />
seus temas centrais. E há também a outra<br />
face da moeda: morte aqui é também sinônimo<br />
de sacrifício, outra ideia que guia seus<br />
filmes de guerra.<br />
A morte banal do tripulante provoca<br />
um estranhamento num filme que até então<br />
mantinha certa leveza, impulsionado<br />
pela personagem feminina de Bella Darvi,<br />
que alegra o ambiente do submarino. Algumas<br />
coisas precisam ser ditas aqui: que<br />
essa presença feminina, tal como a encontramos,<br />
não existe em nenhum outro filme<br />
do diretor, sendo, provavelmente, remanescente<br />
do roteiro escrito por Jesse Lasky Jr.<br />
Nos filmes de Fuller, as mulheres em geral<br />
ou inexistem, ou são parte natural de uma<br />
realidade brutal e desencantada. Temos<br />
boas razões para acreditar, portanto, que o<br />
romance entre Bella Darvi e o Capitão Jones<br />
é uma concessão. Nada porém que destrua<br />
a eficácia do filme. Digamos apenas que não<br />
é tarefa das mais simples realizar um filme<br />
quase inteiramente passado num submarino,<br />
ambiente monótono, feio, apertado,<br />
sem grandes atrativos. O Cinemascope e as<br />
cores, sem dúvida, emprestam aqui alguma<br />
vida, e a decupagem alternada entre exterior/interior<br />
do submarino confere eficiência<br />
às sequências de ação embaixo d’água. O<br />
maior mérito de Fuller, no entanto, é conseguir<br />
transmitir a sensação de claustrofobia<br />
do ambiente, por exemplo, na cena em que<br />
os personagens lutam contra a escassez de<br />
oxigênio enquanto tentam escapar de outro<br />
submarino. Contrariando toda a fantasia infantil<br />
que cerca o ambiente dos submarinos,<br />
tudo o que desejamos durante boa parte do<br />
filme, juntamente com aqueles corpos suados<br />
dos tripulantes, é reemergir e inspirar<br />
um pouco de ar puro.<br />
Calac Nogueira<br />
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