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Amantes Solitários, Clubes de Companhia. Mas o Comet era o primeiro<br />

jornal a vender Amor em escala maciça.<br />

E foi Carl Chapman, editor de Cidade do Comet, quem deu à luz<br />

a ideia, além de cuidá-la e fazê-la crescer até se tornar o mais irônico<br />

propulsor de circulação do universo jornalístico.<br />

Num canto próximo à cabine do estado de Idaho, ele saboreava<br />

seu próprio brainstorm. Seus olhos varriam a multidão com<br />

arrogância. Ela representava dólares e cêntimos, um aumento na<br />

circulação e elogios de seu editor. Ele sempre soubera que tinha o<br />

talento, a experiência e o amor aberrante do choque necessários ao<br />

planejamento de uma tal jogada; essa farsa provaria que jogar migalhas<br />

de romance aos famintos de amor pagava espetacularmente.<br />

Os mistérios, perigos, delícias e promessas descobertos hoje à noite,<br />

fariam de cada um dos presentes um leitor vitalício do Comet.<br />

Uma mulher baixa e morena estava diante dele, sorrindo, a cabeça<br />

inclinada de maneira coquete. Um grosso aparelho de ouro segurava<br />

seus dentes no lugar. Ela o olhava fixamente, esperando. Viu<br />

seu crachá oficial e foi-se embora.<br />

Então ele viu sua esposa. Ela estava dançando com um magro<br />

rapaz de Vermont com o queixo reentrado. Ela o estava fazendo rir.<br />

Rose sempre levara tudo na esportiva. Era essa uma das dúzias de<br />

motivos pelos quais ele se apaixonara tanto por ela. Eram tão afinados<br />

entre si que ela conseguia sentir a sua presença através dos casais que<br />

circulavam. Ela voltou-se, viu–o e acenou. Ele acenou de volta.<br />

Uma diminuta figura adentrou seu campo de visão – Julie Allison.<br />

Era tão pequena, e tão imensamente sincera; estava correndo para<br />

cima e para baixo, tratando que os membros se sentissem confortáveis,<br />

respondendo a perguntas, alegrando-se do amor que brotava<br />

entre aqueles estranhos que traziam os próprios corações nas mãos.<br />

Um rapaz alto e magricela atravessava a multidão com dificuldade,<br />

seus olhos azuis examinando os rostos impacientemente. Era<br />

a primeira vez naquela noite que Carl via Lancelot Seumas McCleary.<br />

Começou a varar as linhas para alcançá-lo.<br />

Uma sueca gorda, ruge aplicado às faces em dois discos flamejantes<br />

de laranja amarelado, trajando um vestido de veludo azul,<br />

apaixonou-se por Lance McCleary a poucos passos da cabine de Indiana<br />

e bloqueou-lhe a passagem, sorridente.<br />

Carl agachou-se atrás da cabine.<br />

“Sou Hulda”, ele a ouviu dizer para Lance. Ótima festa, yah?”<br />

Carl deu uma risota. Lance dera um passo para trás ao ver surgir<br />

diante de si aquela montanha perfumada e reluzente.<br />

“Yah”, ele resmungou, numa mímica débil.<br />

Ela inclinou-se para a frente e leu-lhe o crachá pendurado na lapela.<br />

Número um-quatro-seis-oito-seis. Blick! Veja só, eu sou doistrês-nove.<br />

Membra velha. Você acabou de se juntar, yah?”.<br />

Antes que Lance pudesse responder, ela já o tinha arrastado<br />

para a pista de dança lotada. Carl esticou o pescoço para assistir.<br />

Dois compassos e a música parou. Lance desvencilhou-se e fugiu.<br />

Porém, a Número 239 não se deixava intimidar. Começara a<br />

caçada. Carl correu de detrás da cabine a tempo de ver as mãos dela<br />

se enroscando no pescoço de Lance. O fugitivo do amor girou.<br />

“Varsor Springer? Por que você foge?”, ela perguntou inocentemente,<br />

casualmente esfregando a listra de graxa marrom que tatuava<br />

seu cotovelo. Não se acanhe, vacker man. Rapaz adorável, gosto<br />

de você. Você gosta de mim, yah?”<br />

Ela apertou a mão de Lance carinhosamente; ele recuou sob a<br />

pressão. Procurava desesperadamente uma saída enquanto ela lhe<br />

murmurava que eram almas gêmeas. A firmeza do toque dela em<br />

seu braço o compelia a ouvir. Não havia mais nada que ele pudesse<br />

fazer, não havia saída alguma.<br />

Carl decidiu que Lance já sofrera o suficiente. Caminhou até<br />

eles, apartou-os cuidadosamente e dirigiu a ela uma graciosa vênia.<br />

“Logo mais, fotos”, ele lhe disse musicalmente. “Sua foto no jornal,<br />

yah?”<br />

“Eu? Porträtt?”, ela ofegou.<br />

Carl instruiu-a a esperar pelo fotógrafo perto da cabine da Carolina<br />

do Norte, e prometeu não perder de vista seu recém-encontrado<br />

noivo.<br />

“Yah!”, ela disse. Seus olhos bebiam Lance avidamente. Ela acariciou<br />

sua bochecha. “Vackerman”, ela disse, cantarolante. Depois<br />

foi-se embora com seus passos de pata-choca. Lance voltou-se para<br />

Carl, que agora ria incontrolavelmente.<br />

“Veja só isso, ele disse mordazmente, golpeando com o dedo o<br />

crachá preso à lapela. “Muito bonito!”<br />

Carl enxugou os olhos.<br />

Lance continuou. “Caí na conversa de Julie feito um tonto. Você<br />

sabia que eu cairia esse tempo todo. Quando eu encontrar aquelazinha<br />

–“Carl sorriu. Fora fácil arrastar o seu melhor repórter<br />

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