19.04.2013 Views

3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

glória da Ressurreição. É assim que, desde o século II, o Domingo é também chamado «oitavo<br />

dia» 15 , porque é «o dia em que Jesus ressuscitou <strong>dos</strong> mortos e, depois de Se ter manifestado, subiu<br />

ao céu». E S. Justino, cerca do ano 150, afirma que «o primeiro dia, continuando a ser o primeiro de<br />

to<strong>dos</strong> os dias, contando-o de novo depois de to<strong>dos</strong> os dias da semana, é chamado oitavo, sem deixar<br />

por isso de ser o primeiro» 16 . Os sete dias da semana são o símbolo do tempo presente; por isso, o<br />

sábado judaico era o último dia da semana, dia do repouso depois do trabalho. O Domingo cristão,<br />

se é também dia de repouso, já o não é como descanso relacionado principalmente com o trabalho<br />

do homem, mas como figura do repouso eterno em Deus, dia de contemplação e acção de graças,<br />

dia de festa, pela vida nova introduzida neste mundo por Cristo ressuscitado, como agora diz o<br />

Concílio e já o explicava, logo no início do século II, S. Inácio de Antioquia: «Os que viviam<br />

segundo a ordem antiga das coisas (o povo da antiga Aliança) chegaram à nova esperança; não<br />

observam já o sábado, mas o Domingo, dia em que a nossa vida se levantou por Cristo e pela sua<br />

morte» 17 .<br />

Este acesso à vida divina pela fé em Jesus, manifestado «Senhor» pela Ressurreição,<br />

constitui a característica mais própria do Domingo como oitavo dia. Pois, é esta característica pascal<br />

do Dia do Senhor que vai ser estendida a todo o Tempo pascal, o qual é, por isso mesmo, o «grande<br />

domingo».<br />

2. A «semana de semanas»<br />

Não admira, pois, que os <strong>primeiros</strong> cristãos tivessem como único dia de festa o Domingo, o<br />

Dia do Senhor. Nele celebravam todo o Mistério <strong>Pascal</strong> de Jesus, o Senhor. Mas sabemos como<br />

desde cedo apareceu a celebração mais solene do Mistério <strong>Pascal</strong> uma vez em cada ano, no Tríduo<br />

pascal. Não foi a Páscoa anual que se começou a repetir em cada Domingo, mas o mistério do<br />

Domingo que tomou relevo especial na solenidade da Páscoa de cada ano.<br />

É natural que o simbolismo do «oitavo dia» aplicado ao Domingo tenha inspirado o<br />

simbolismo das sete semanas e <strong>dos</strong> oito Domingos, do Domingo da Ressurreição até ao oitavo, ou<br />

seja, os 50 dias do Tempo pascal. O Tempo pascal foi assim um «Pentecostes», uma Cinquentena,<br />

uma semana de semanas, uma oitava de Domingos. S. Hilário de Poitiers († c. 367) assim explicava<br />

o simbolismo deste tempo:<br />

«É a semana de semanas, como o mostra o número setenário, obtido pela multiplicação de<br />

sete por si mesmo (7 x 7 = 49). É, no entanto, o número 8 que o leva à perfeição, pois que é<br />

o mesmo dia que é, ao mesmo tempo, o primeiro e o último, acrescentado à última semana,<br />

conforme a plenitude do Evangelho. Esta semana de semanas é celebrada segundo uma<br />

prática que vem <strong>dos</strong> Apóstolos: nestes dias do Pentecostes ninguém adora com o corpo<br />

prostrado por terra, nem põe obstáculo com o jejum a esta solenidade de alegria espiritual. É<br />

aliás o mesmo que está estabelecido para os Domingos» 18 .<br />

O Tempo pascal é, pois, uma semana de semanas. Não nos interessa a tabuada com que se<br />

possa explicar o número 50 nele contido, mas o mistério que por ele se simboliza e nele é celebrado.<br />

Trata-se da celebração, ampliada até ao oitavo Domingo, do Mistério <strong>Pascal</strong>, celebração que tem o<br />

seu ponto de partida no Tríduo pascal e se conclui no oitavo Domingo, dito hoje de Pentecostes.<br />

Esta perspectiva era bem clara para a Igreja <strong>dos</strong> <strong>primeiros</strong> <strong>quatro</strong> <strong>séculos</strong>. Do século IV, a época da<br />

grande estruturação das Igrejas locais, abundam os testemunhos de muitos <strong>dos</strong> seus bispos, que, por<br />

falta de tempo, não podemos agora citar.<br />

15 Ep, de Barnabé, éd. H. HEMMER, Picard, 1926, p. 88-89, ib., p. 47.<br />

16 S. JUSTINO, I Apol. 67, ib., p. 47.<br />

17 S. INÁCIO DE ANTIOQUIA, Magn. 9, ib., p. 48.<br />

18 S. HILÁRIO DE POITIERS, Super psalm.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!