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3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

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<strong>3.</strong>4. Quaresma<br />

A Quaresma é um período de cerca de 40 dias, que se destina a preparar-nos para a<br />

celebração e vivência da Páscoa. “O Tempo da Quaresma destina-se a preparar a celebração da<br />

Páscoa: a liturgia quaresmal prepara para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos,<br />

através <strong>dos</strong> diversos graus da iniciação cristã, como os fiéis, por meio da recordação do Baptismo e<br />

das práticas de penitência” (27). Assim, a Quaresma existe por causa da Páscoa e tem uma dupla<br />

característica: baptismal e penitêncial.<br />

As origens da Quaresma não são claras. O seu elemento mais antigo é o jejum. Já desde o<br />

século II que os cristãos se preparavam para a Páscoa com um jejum de dois dias. Tratava-se, é<br />

certo, do jejum pascal. Com o tempo, a duração do jejum foi aumentando. Em finais do século III<br />

ou inícios do IV surge, no Egipto, um jejum de quarenta dias. Não tinha, inicialmente, o sentido de<br />

preparação para a Páscoa, mas sim de celebrar o jejum do Senhor no deserto, ao longo de 40 dias.<br />

Porém, depressa este período de jejum se começou a orientar para preparação da celebração da<br />

Páscoa. E já em 325, o cânon 5 do Concílio de Niceia fala da Quadragesima paschae como de algo<br />

normal e já conhecido de to<strong>dos</strong>.<br />

S. Jerónimo, a quem devemos o mais antigo testemunho da existência da Quaresma em<br />

Roma (numa carta a Marcela, em 384), numa das suas homilias relaciona expressamente essa<br />

prática com os 40 dias de jejum de Jesus no deserto:<br />

Os servos do Senhor devem jejuar sempre, mas mais ainda agora que nos<br />

preparamos para o sacrifício do Cordeiro, para o sacramento do Baptismo, para a<br />

Comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo (...) Por isso, irmãos caríssimos, a<br />

partir do momento em que fazemos a nossa preparação para o Sacramento do<br />

Senhor, através de um jejum de quarenta dias, jejuamos em expiação <strong>dos</strong> nossos<br />

peca<strong>dos</strong>, durante tantos dias quantos o próprio Senhor quis jejuar pelas nossas<br />

iniquidades (S. Jerónimo, Homilia sobre a Quaresma).<br />

Historicamente, a Quaresma nasce da conjugação de 3 itinerários distintos:<br />

- Por um lado, uma vez que a Vigília <strong>Pascal</strong> era a grande data da celebração da iniciação cristã, a<br />

noite baptismal por excelência, o período que a antecedia era um tempo de preparação intensa <strong>dos</strong><br />

que iam ser baptiza<strong>dos</strong>. Daí o carácter baptismal deste tempo.<br />

- Por outro lado, esse mesmo período era também o da preparação <strong>dos</strong> penitentes para a<br />

reconciliação, na manhã de quinta-feira santa.<br />

- Por fim, dada a importância das celebrações pascais, sentiu-se a necessidade de proporcionar à<br />

comunidade cristã um tempo de preparação, marcado pelos dois itinerários já indica<strong>dos</strong> - baptismal<br />

e penitencial. O modelo desse tempo vai-se então buscar à passagem de Cristo pelo deserto, durante<br />

40 dias. Daí que esse texto evangélico se tenha fixado para o primeiro domingo da Quaresma<br />

Foi, pois, no decurso do século IV que a Quaresma, como período de 40 dias de jejum de<br />

preparação para a Páscoa, se formou. Em Roma, ainda em mea<strong>dos</strong> do século IV, o jejum de<br />

preparação para a Páscoa era de apenas 3 semanas (isto testemunha Sócrates escolástico, + 450);<br />

nos 3 domingos liam-se as perícopas joaninas da Samaritana, da cura do cego de nascença e da<br />

ressurreição de Lázaro (os grandes textos evangélicos da preparação para o baptismo). Foi no<br />

período entre 354 e 384 que, em Roma, se chegou a um tempo de 40 dias de preparação para a<br />

Páscoa.<br />

A Bíblia associa este número a perío<strong>dos</strong> de espera, de preparação de algo importante, de<br />

humilhação, de esforço, de penitência e de luta. Só no fim <strong>dos</strong> 40 dias ou anos há o encontro, o<br />

prémio, o dom, a vitória. Abundam as referências bíblicas ao número 40. O facto de Jesus se ter<br />

retirado para o deserto durante 40 dias recorda-nos os 40 anos de peregrinação de Israel pelo<br />

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