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3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

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é, por excelência, o tempo da mistagogia.<br />

Faz também parte desta mistagogia pascal a descoberta e o aprofundamento do mistério da<br />

própria Igreja, da vida da comunidade cristã onde nos inserimos. [...]<br />

<strong>3.</strong> Tempo de acção de graças<br />

[...] O Tempo <strong>Pascal</strong> é, por excelência, este tempo de reconhecer, de louvar e dar graças, de<br />

viver da vida pascal do Espírito do Ressuscitado.<br />

Se os antigos punham de parte as formas penitenciais, concretamente o rezar de joelhos e o<br />

jejum, não era por não terem consciência de que a conversão é atitude de to<strong>dos</strong> os dias; era porque<br />

sabiam que cada coisa há-de ter o seu tempo e o seu lugar, e que nestes dias, os dias em que o<br />

Esposo estava com eles, tinham de alegrar-se e viver em festa.<br />

Esta festa nasce do coração encantado com a presença do Ressuscitado, glorioso, dador do<br />

Espírito de Deus. Durante o Tempo <strong>Pascal</strong>, a Igreja parece continuar a atitude de Maria Madalena<br />

na manhã da ressurreição: procura o Senhor, não tira os olhos d’Ele, contempla-O, encanta-se com a<br />

sua presença e só sabe dizer-Lhe palavras de quem está encantado: «Rabuni! Este é o dia que o<br />

Senhor fez! Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom! A sua misericórdia é eterna! A terra inteira<br />

está cheia da sua glória! Cantai um cântico novo! Anunciai até aos confins da terra: ‘O Senhor<br />

libertou o seu povo!’» Contempla-O como o Bom Pastor, que deu a vida por ela; acolhe-O nas suas<br />

aparições; senta-se com Ele à mesa; partilha do mesmo pão. Não fica romanticamente triste no dia<br />

da Ascensão, porque O vê glorificado e n’Ele contempla a sua própria glória, a glória a que também<br />

ela se sabe chamada; e tem consciência de que é agora que Ele está mais com ela, e com ela ficará<br />

até à consumação <strong>dos</strong> <strong>séculos</strong> (cf. Mt. 28, 20).<br />

4. O símbolo do mundo que há-de vir<br />

Não é para admirar que um <strong>dos</strong> aspectos mais sublinha<strong>dos</strong> pela tradição cristã, nos Padres da<br />

Igreja, seja a perspectiva escatológica do Tempo <strong>Pascal</strong>. Ele é ainda «tempo», e, por isso, ainda<br />

deste mundo; mas, pelo mistério que celebra – o Mistério <strong>Pascal</strong> – e até pela sua própria estrutura –<br />

uma semana de semanas mais o oitavo Domingo – o Tempo <strong>Pascal</strong> é o símbolo do «mundo que háde<br />

vir». Um testemunho, entre muitos, de S. Basílio, bispo de Cesareia da Capadócia († 379):<br />

«Todo o Pentecostes nos recorda a ressurreição que esperamos no outro mundo. Na verdade,<br />

este dia um e primeiro, sete vezes multiplicado por sete, completa as sete semanas do santo<br />

Pentecostes, porque ele começa no “primeiro (dia)” e nele termina, desdobrando-se<br />

cinquenta vezes, no intervalo, em dias semelhantes. Por isso, o Pentecostes imita, de certo<br />

modo, a eternidade, porque, à maneira do movimento circular, vem a terminar onde<br />

começou. Nele, é a atitude de pé na oração que as leis da Igreja nos ensinaram a preferir;<br />

esta evocação em acto faz, por assim dizer, emigrar a parte superior do nosso espírito do<br />

presente ao que há-de vir» 22 .<br />

E S. Isidoro de Sevilha, ainda nos fins do século VI ou já no século VII, podia, na nossa península<br />

hispânica, continuar a escrever:<br />

«Sete multiplicado por sete dá cinquenta, se lhe juntarmos uma unidade, que, segundo a<br />

tradição vinda da autoridade <strong>dos</strong> antigos, prefigura o século futuro. Este dia é sempre o<br />

oitavo e o primeiro; mais ainda, ele é sempre único, é o Dia do Senhor» 23 .<br />

[Fim do artigo: J. FERREIRA, «O Tempo <strong>Pascal</strong> na Tradição da Igreja»]<br />

22 S. BASÍLIO DE CESAREIA, De Spir. Sancto, 27, col. Sources Chrétiennes, 17, p. 237 c); cf. CABIÉ, op. cit., p.<br />

51.<br />

23 S. ISIDORO DE SEVILHA, De eccl. Offic., I, 24, in H. CABIÉ, op. cit., p. 51.<br />

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