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3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

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A celebração. Quanto à celebração da Páscoa, como se deduz do que foi dito a propósito da<br />

data da festa, era constituída por dois momentos: o jejum e a solene e festiva vigília. Os<br />

testemunhos mais antigos já apresentavam esta estrutura celebrativa. No século III, a Didascália <strong>dos</strong><br />

Apóstolos (cerca de 230) descreve deste modo a celebração:<br />

É necessário, irmãos, que observeis diligentemente o dia de Páscoa e façais o vosso<br />

jejum com toda a diligência. [...] A sexta-feira e o sábado passai-os integralmente no<br />

jejum, sem tomar nada. Durante toda a noite, permanecei reuni<strong>dos</strong> uns com os outros,<br />

despertos e em vigília, suplicando e orando, lendo os Profetas, o Evangelho e os Salmos,<br />

com temor e tremor e com aclamações solenes, até à terceira hora da noite depois do<br />

sábado e então ponde fim ao vosso jejum... Depois levai as vossas oferendas, e a seguir<br />

comei e alegrai-vos, enchei-vos de júbilo e exultai, pois Cristo, penhor da nossa<br />

ressurreição, ressuscitou. Isto será para vós uma lei perpétua até ao fim do mundo. Com efeito,<br />

para aqueles que não crêem no nosso Salvador, Ele morreu, porque a esperança que têm<br />

n’Ele também morreu; mas para vós, os crentes, o nosso Kyrios e Salvador ressuscitou,<br />

porque a vossa esperança n’Ele é imortal e vive eternamente... (AL 854-856)<br />

Como se passou, então, de uma Vigília ao Tríduo (= 3 dias)? Sobretudo por influência da<br />

liturgia de Jerusalém. De facto, em Jerusalém, lugar onde aconteceram os factos celebra<strong>dos</strong>, no<br />

século IV começaram a seguir-se as indicações evangélicas sobre a paixão, morte e ressurreição do<br />

Senhor, celebrando cada acontecimento no lugar e dia indicado pelos evangelistas. Chegou até nós<br />

o testemunho de uma peregrina da Península Ibérica, Etéria ou Egéria, que no século IV foi em<br />

peregrinação à Terra Santa por volta do ano 38<strong>3.</strong> Ora, esta peregrina só relata o que era diferente<br />

daquilo que ela conhecia. Por exemplo, quando chega à Vigília <strong>Pascal</strong>, diz apenas: “As vigílias<br />

pascais fazem-se como entre nós” (38, 1: AL 1680). Assim, graças ao seu testemunho, sabemos que<br />

foi de Jerusalém que partiu o costume de celebrar com ramos a entrada de Jesus na Cidade Santa,<br />

no Domingo de Ramos. Quanto ao Tríduo <strong>Pascal</strong>, na noite da quinta para a sexta-feira santa os<br />

cristãos faziam uma vigília itinerante: à meia-noite subiam ao monte da Ascensão (Inbomon) e daí<br />

desciam, com círios acesos e cantando hinos, para o Getsémani, onde se lia a passagem do<br />

Evangelho referente à prisão de Jesus. Diz a nossa peregrina que<br />

“Mal termina a leitura, são tais os gritos e gemi<strong>dos</strong> de todo o povo em lágrimas,<br />

que talvez até na cidade se ouçam as lamentações de todo o povo. Depois disso,<br />

parte-se para a cidade a pé com hinos, e chega-se à porta à hora em que se<br />

começa quase a distinguir uma pessoa da outra” (36, 3: AL 1678)<br />

Já na manhã de sexta-feira dirigem-se à Cruz, ao Gólgota. Aí se fazia a adoração da Cruz e a<br />

narração da morte de Jesus:<br />

“O bispo, sentado, segura com as suas mãos as extremidades do santo lenho [...]<br />

Assim, pois, todo o povo passa, um a um; to<strong>dos</strong> se inclinam, um de cada vez,<br />

tocando primeiro com a fronte e depois com os olhos a cruz e o título, e, beijando a<br />

cruz, afastam-se; mas ninguém estende a mão para a tocar. Mais ou menos da<br />

segunda até à sexta hora (meio-dia) todo o povo desfila, entrando por uma porta e<br />

saindo pela outra [...] Entretanto, chegada a hora sexta (meio-dia), vai-se até diante<br />

da Cruz [...] Ali, pois, é que se reúne todo o povo, de tal forma que nem se pode<br />

abrir caminho. Coloca-se então uma cadeira para o bispo diante da Cruz e, da<br />

sexta até à nona hora (das doze às quinze), nada mais se faz senão ler as leituras<br />

[...] E assim, desde a hora sexta até à hora nona (das doze às quinze), fazem-se<br />

continuamente leituras ou dizem-se hinos, para mostrar a todo o povo que tudo<br />

quanto os Profetas predisseram da Paixão do Senhor se realizou, como se vê tanto<br />

pelos Evangelhos como pelos escritos <strong>dos</strong> Apóstolos. E assim, durante estas três<br />

horas, ensina-se a todo o povo que nada aconteceu que não tivesse sido<br />

anteriormente anunciado, e que nada foi anunciado que não se tivesse<br />

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