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3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

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Pessoas mais atentas e mais doutas descobriram que Páscoa é uma palavra hebraica,<br />

que não significa paixão, mas passagem. O Senhor passou, pela paixão, da morte à vida,<br />

e fez-Se caminho <strong>dos</strong> que crêem na sua Ressurreição, para que também nós passemos<br />

da morte à vida. Não é coisa de grande vulto crer que Cristo morreu. Isso também o<br />

crêem os pagãos, os Judeus e os ímpios. To<strong>dos</strong> crêem que Cristo morreu. A fé <strong>dos</strong><br />

cristãos consiste em crer na Ressurreição de Cristo. Consideramos coisa muito<br />

importante acreditar que Cristo ressuscitou. Foi então, quando passou, isto é, quando<br />

ressuscitou, que Ele quis deixar-Se ver. Quis que acreditássemos n’Ele quando passou,<br />

porque foi entregue por causa <strong>dos</strong> nossos peca<strong>dos</strong> e ressuscitou para nossa justificação.<br />

(Comentários aos Salmos, Salmo 120, 6: AL 3206)<br />

Irmãos, a palavra Páscoa não é, como alguns julgam, uma palavra grega, mas é hebraica.<br />

Todavia deu-se no emprego desta palavra uma coincidência providencial nas duas<br />

línguas. Em grego, sofrer diz-se pasxein, pelo que pascha foi interpretado no sentido de<br />

«paixão», como se Páscoa viesse de passio. Mas, na língua original, isto é em hebraico,<br />

Páscoa significa passagem. Com efeito, o povo de Deus celebrou pela primeira vez a<br />

Páscoa quando, ao fugir do Egipto, «passou» através do mar Vermelho. Aquela figura<br />

profética já teve a sua realização, quando Cristo foi conduzido como cordeiro ao<br />

matadouro e quando os nossos dintéis foram ungi<strong>dos</strong> com o seu sangue, ou seja, quando<br />

o sinal da cruz foi colocado como selo na nossa fronte, e, assim, fomos liberta<strong>dos</strong> da<br />

escravidão e da ruína do Egipto e realizámos a mais libertadora das passagens, quando<br />

passámos do Demónio para Cristo, do tempo passado para o seu reino futuro. Passemos,<br />

pois, para Deus que é imutável, para não passarmos (ao nada) com o mundo que passa.<br />

Louvando a Deus por esta graça que nos foi concedida, o Apóstolo diz: Foi Ele que nos<br />

libertou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu amado Filho12. O santo<br />

Evangelista, explicando-nos, por assim dizer, a nós, aquela palavra Páscoa, que em latim,<br />

como já disse, significa passagem, diz: Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem<br />

que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, etc. Eis a Páscoa, eis a<br />

passagem. Donde e para onde? Deste mundo para o Pai. Na cabeça foi dada aos<br />

membros uma esperança: a de seguirem com certeza Aquele que passou.<br />

(Trata<strong>dos</strong> sobre o Evangelho de João 55, 1: AL 3302)<br />

Apesar das divergências quanto à data da celebração e quanto à origem do termo Páscoa, é<br />

forçoso reconhecer uma grande concordância no que diz respeito ao sentido global da Páscoa. “O<br />

conteúdo da celebração é a totalidade da obra da redenção: a encarnação, a paixão, a ressurreição e<br />

a glorificação, tudo acontecimentos centra<strong>dos</strong> na Cruz como lugar do triunfo de Cristo” 5 . Isto é, na<br />

Páscoa anual celebrava-se o Mistério <strong>Pascal</strong> de Jesus em toda a sua amplitude. Isto mesmo é<br />

evidente na homilia pascal de Melitão de Sardes. A paixão de Jesus não é considerada como um<br />

acontecimento distinto da sua glorificação. “A Páscoa primitiva celebrava o memorial da morte de<br />

Jesus como a festa total da nossa redenção em Cristo, incluindo não só a sua glorificação, mas<br />

também a encarnação” 6 . O conteúdo ultrapassa largamente a própria morte e ressurreição para<br />

proclamar o mistério total da Cruz em todas as suas dimensões, da encarnação à parusia. E isto<br />

porque a morte e a ressurreição não são encaradas pela Igreja antiga como aspectos ou momentos<br />

separa<strong>dos</strong>, independentes, da experiência pascal; são, sim, acentuações do único mistério.<br />

Até ao século IV, a Páscoa foi a única festa anual; festa em que se celebrava, tal como na<br />

Eucaristia, todo o mistério de Cristo, mistério de morte e ressurreição. Tudo o que nós, hoje,<br />

celebramos ao longo de um ano, era então celebrado numa única festa: a Páscoa. Somente a partir<br />

do século IV se detecta uma certa tendência a “fragmentar” o Mistério <strong>Pascal</strong> de Jesus Cristo, o que<br />

dará origem ao Ano Litúrgico, com a estrutura que hoje lhe conhecemos.<br />

5 Th.J. TALLEY, Les origines de l’Année Liturgique, Cerf, Paris 1990, 19.<br />

6 TALLEY, Les origines de l’Année Liturgique, 26.<br />

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