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3. Ciclo Pascal 3.1. Evolução dos quatro primeiros séculos

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da antiga Páscoa. Apesar de esta ser a única referência explícita a um sentido cristão da Páscoa,<br />

todo o Novo Testamento está cheio de alusões ao paralelismo entre a antiga e a nova Páscoa, entre o<br />

cordeiro pascal e Jesus Cristo. A Páscoa judaica foi interpretada pelos cristãos como prefiguração da<br />

Páscoa de Jesus Cristo.<br />

Segundo as esperanças judaicas, o messias libertador deveria manifestar-se em Jerusalém,<br />

numa noite de Páscoa. Não é, pois, mera casualidade o facto de Jesus terminar a sua vida histórica<br />

em Jerusalém, no contexto de uma festa de Páscoa <strong>dos</strong> anos trinta.<br />

É inegável o ambiente pascal em que tem lugar quer a última ceia de Jesus com os seus<br />

discípulos, quer a sua paixão e morte. É no contexto da ceia pascal judaica que os três Sinópticos<br />

apresentam a última ceia. Mas também o relato da última ceia de João conserva alguns elementos<br />

claramente pascais. Esta ceia, nos relatos evangélicos, está intimamente ligada à memória do<br />

acontecimento fundante da história de Israel - a libertação do Egipto.<br />

O tema pascal volta a aparecer nos relatos da paixão e morte de Jesus. No Evangelho de<br />

João, o “pano de fundo” do relato da paixão e morte de Jesus é o cordeiro pascal: Jesus é o<br />

verdadeiro cordeiro pascal que, com a Sua entrega, liberta o mundo do pecado e estabelece um novo<br />

povo. Neste Evangelho, Jesus morre no momento em que se sacrificavam os cordeiros no Templo<br />

para a celebração da Páscoa judaica. A morte de Jesus é interpretada como cumprimento das<br />

esperanças messiânicas, representadas pelo cordeiro pascal.<br />

Estas breves referências neotestamentárias manifestam não apenas a centralidade da Páscoa<br />

no cristianismo primitiva: não já da páscoa judaica, mas da Nova páscoa da morte e ressurreição de<br />

Jesus Cristo, que passou deste mundo para o Pai. Esta centralidade teológica da Páscoa explica que<br />

a Igreja primitiva não conhecesse nenhuma outra celebração além da celebração pascal: a ceia do<br />

Senhor, o Baptismo como participação na páscoa de Cristo, o Domingo, Páscoa semanal.<br />

<strong>3.</strong>1.<strong>3.</strong> Do período apostólico ao século IV<br />

Vimos já que a Igreja primitiva celebrava a Páscoa cada semana, na Eucaristia dominical.<br />

Junto a essa Páscoa semanal, vai desenvolver-se uma outra celebração: a Páscoa anual, que está na<br />

origem de todo o Ano Litúrgico. Na tradição ocidental, a Páscoa anual não é senão a solenização da<br />

Páscoa semanal no Domingo seguinte à Páscoa Judaica; mas, como veremos, havia também uma<br />

corrente oriental que não seguia este princípio. Trataremos destas questões de seguida. De qualquer<br />

modo, o desenvolvimento de todo o Ano Litúrgico a partir deste núcleo, que é a celebração anual da<br />

Páscoa, põe em evidência que todo ele é percorrido por uma profunda dimensão pascal.<br />

Não é fácil determinar a data em que a Igreja começou a celebrar a Páscoa, uma vez por ano,<br />

assim como não é fácil afirmar se essa celebração começou em to<strong>dos</strong> as Igrejas na mesma época, ou<br />

se se desenvolveu a partir de comunidades judeo-cristãs.<br />

O primeiro testemunho claro sobre a observância de uma Páscoa anual aparece no século II:<br />

trata-se da Epistula Apostolorum (Carta <strong>dos</strong> Apóstolos). A Carta <strong>dos</strong> Apóstolos, apresentada como<br />

um colóquio de Jesus com os seus Apóstolos depois da ressurreição, foi escrita na Ásia Menor ou<br />

no Egipto, entre os anos 140 e 170. Aí se lê:<br />

Quando Eu voltar para o meu Pai, celebrareis então a memória da minha morte, isto é, a<br />

Páscoa. Nesse dia, um de entre os que estais agora comigo será lançado na prisão por<br />

causa do meu nome e ficará cheio de tristeza porque, enquanto vós celebrais a Páscoa,<br />

ele não a celebrará convosco por estar na prisão. Mas Eu enviarei o meu poder sob a<br />

forma do meu Anjo, e as portas da cadeia abrir-se-ão. Ao sair da prisão virá ter convosco,<br />

para velar e descansar durante a noite até ao cantar do galo. E quando tiverdes realizado<br />

o meu ágape e a minha memória, será de novo encarcerado em testemunho, até que saia<br />

dali e proclame o que vos transmiti. (AL 429) Neste texto, a Páscoa seria provavelmente<br />

celebrada de 14 para 15 de Nisan como memorial da morte e ressurreição do Senhor. A celebração<br />

consistia numa vigília que durava toda a noite e terminava de madrugada com a Eucaristia.<br />

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