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REVISTA BRASILEIRA 58-pantone.vp - Academia Brasileira de Letras

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Lucila Nogueira<br />

no centro <strong>de</strong> Santiago, ouvi novamente sobre Nélida, mito também em terras<br />

da Galiza, on<strong>de</strong> me <strong>de</strong>ixei fotografar entre os hórreos e os eucaliptos.<br />

Vi quando passou para a exposição no Hotel dos Reis Magos, com seu blazer<br />

escuro, enquanto nos dirigíamos ao café do lado, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobri que ali o<br />

caldo ver<strong>de</strong> era na verda<strong>de</strong> caldo galego. De alguma forma, pensei, estávamos<br />

unidas. Pois ela era um tipo <strong>de</strong> imagem que pontuava situações limite quando<br />

me surgia. Assim foi em Paris, quando o Brasil foi homenageado no Salão do<br />

Livro. Assim foi no Porto, no congresso <strong>de</strong> Arnaldo Saraiva, a me ce<strong>de</strong>r seu lugar<br />

– imagine – na condução coletiva. Ela surgia em situações <strong>de</strong> atendimento<br />

à vocação, <strong>de</strong> resgate <strong>de</strong> uma origem. E novamente a escritora reconhecida<br />

sempre gentil com essa outra escritora <strong>de</strong> província, apesar <strong>de</strong> nascida também<br />

no Rio, no caso específico, uma escritora interrompida, mãe solteira como a<br />

outra Lucila, mas por opção, assumindo sem superstição burocrática a união<br />

estável com o companheiro e as filhas. E pagando o preço da falta <strong>de</strong> recolhimento,<br />

solidão e tempo para a escrita.<br />

Fruto contemporâneo das conquistas femininas ao longo dos acontecimentos<br />

do século XX, Nélida Piñon chega ao Recife neste 2007, ano redondo <strong>de</strong><br />

sua vida, para abrir a Festa Literária Internacional <strong>de</strong> Porto <strong>de</strong> Galinhas. Inda<br />

recordo o seu abraço espontâneo, meses antes, na escada da ABL, tão vitoriosa<br />

e tão menina, Apolo que não dispensa Dioniso. Vou recebê-la com o encantamento<br />

preso na doçura da cana nor<strong>de</strong>stina, <strong>de</strong>sta terra aquática on<strong>de</strong> me arremessou<br />

o <strong>de</strong>stino. Ela me entrega um leque <strong>de</strong> Espanha pequenino. Provi<strong>de</strong>ncio<br />

para que tudo corra bem em sua vinda, mas o excesso <strong>de</strong> trabalho me <strong>de</strong>smorona<br />

justo no dia da abertura, em que sua fala se mistura com as energias<br />

mais antigas da América Latina.<br />

Nélida, anagrama <strong>de</strong> Daniel, aquele que é julgado por Deus, o profeta que<br />

tinha visões, representa com soberania, mas sem arrogância, essa condição do<br />

escritor brasileiro que mais obteve prêmios internacionais, tantos e tão importantes,<br />

que não sabemos se é <strong>de</strong> se lamentar ainda não ter sido laureada com o<br />

Nobel sueco. Na verda<strong>de</strong>, para nós brasileiros é extraordinário saber que um<br />

<strong>de</strong> nós, homem ou mulher, tem semelhante trajetória: Prêmio Príncipe <strong>de</strong> Astú-<br />

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