REVISTA BRASILEIRA 58-pantone.vp - Academia Brasileira de Letras
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Paradigmas do samba-enredo<br />
Além <strong>de</strong> necessariamente longos – <strong>de</strong> um lado submetidos ao imperativo <strong>de</strong><br />
contarem uma história completa, a saber, um enredo, e <strong>de</strong> outro lado <strong>de</strong>vendo<br />
durar exatamente o tempo do percurso porque as repetições são proibidas –,<br />
estes sambas se caracterizam pela linguagem rebuscada e guindada, em consonância<br />
com o extraordinário luxo que o <strong>de</strong>sfile ostenta.<br />
Não só se pren<strong>de</strong>m tardiamente ao código poético do parnasianismo, <strong>de</strong> há<br />
muito superado, como ainda ten<strong>de</strong>m ao exagero hiperbólico típico do discurso<br />
<strong>de</strong> exaltação do país, <strong>de</strong> sua gente, <strong>de</strong> seu monumental Carnaval, da exuberância<br />
<strong>de</strong> suas riquezas naturais, on<strong>de</strong> tudo é <strong>de</strong>smesurado – enorme extensão<br />
territorial, oito mil quilômetros <strong>de</strong> praias, o maior rio do mundo, a floresta<br />
amazônica, etc.<br />
Nessa postura ecoa a poesia culta, como esta, do “príncipe dos poetas”, o<br />
parnasiano Olavo Bilac, <strong>de</strong>corada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as escolas primárias:<br />
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!<br />
Criança! Não verás nenhum país como este!<br />
Olha que céu, que mar, que rios, que floresta!<br />
A natureza aqui perpetuamente em festa<br />
É um seio <strong>de</strong> mãe a transbordar carinho!<br />
(Olavo Bilac, trecho <strong>de</strong> “A pátria”, escrito em 1895 e publicado em 1904)<br />
Mas não só os parnasianos. Antes <strong>de</strong>les, também os românticos insistiram<br />
na mesma tecla, como o mostra, entre muitos outros, o poeta Gonçalves Dias,<br />
num trecho da “Canção do exílio” (1843) composta em Portugal, na qual o<br />
<strong>de</strong>sterrado confessa suas sauda<strong>de</strong>s da pátria:<br />
Nosso céu tem mais estrelas<br />
Nossas várzeas têm mais flores<br />
Digressões Carnavalescas<br />
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