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REVISTA BRASILEIRA 58-pantone.vp - Academia Brasileira de Letras

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namento que não compromete a comunicação e um caráter documental que<br />

não per<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista a complexida<strong>de</strong> da vida e da literatura. Busca difícil, que termina<br />

dando numa obra <strong>de</strong>sigual, mas, por isso mesmo, interessante e rica.<br />

Muito <strong>de</strong>ssa trajetória se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r analisando a relação entre aspectos<br />

da vida e da obra. Ao menos no que se refere à profissão <strong>de</strong> jornalista<br />

(que exerceu <strong>de</strong> 1937 a 1975) e a uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>ssa: do viajante.<br />

Em 1941, o jovem escritor viajou para Londres para trabalhar na BBC, on<strong>de</strong><br />

se manteve até 1945, quando passou à Radiodifusão Francesa em Paris. Em<br />

1947, <strong>de</strong> regresso ao Brasil, reiniciou seu trabalho no Correio da Manhã eaírecomeçaram<br />

suas viagens: 1948, Bogotá, para cobrir a IX Conferência Pan-<br />

Americana; 1951, Washington, para a Conferência dos Ministros do Exterior<br />

do Hemisfério; 1952, Xingu, na busca dos restos do Coronel Fawcett;<br />

1959, Pernambuco, para ver <strong>de</strong> perto a luta dos camponeses do Engenho<br />

Galiléia, on<strong>de</strong> começou a ganhar forças o movimento das chamadas Ligas<br />

Camponesas <strong>de</strong> Francisco Julião; 1963, regresso a Pernambuco, <strong>de</strong>sta vez<br />

em tempo do Governador Miguel Arraes 1 , como repórter do Jornal do Brasil;<br />

1968, Vietnã do Norte em plena guerra e 1978, Cuba, quando era perigoso<br />

até ter um vestígio da viagem no carimbo do passaporte, daí este ser feito<br />

num papel à parte.<br />

O jornalismo e suas viagens proporcionam ao escritor experiências das mais<br />

cosmopolitas às mais regionais e provincianas. A experiência <strong>de</strong>cisiva do jovem<br />

intelectual, adaptado à vida londrina, a quase transformação do brasileiro<br />

em europeu refinado (que falava perfeitamente o inglês e havia casado com<br />

uma inglesa) afinou-lhe paradoxalmente a sensibilida<strong>de</strong> e abriu-lhe os olhos<br />

para, segundo suas próprias palavras em uma entrevista, “ver essas coisas que o<br />

brasileiro raramente vê“. É assim que ele explica seu profundo interesse pelo<br />

48<br />

Ligia Chiappini<br />

1 No governo progressista <strong>de</strong> Miguel Arraes, em Pernambuco, que o golpe militar interrompeu<br />

brutalmente, foram notáveis alguns projetos <strong>de</strong> caráter social, entre eles uma campanha <strong>de</strong><br />

alfabetização, inspirada no método Paulo Freire, que aparece em Quarup, envolvendo seus personagens<br />

principais, Nando e Francisca. Em outro texto, <strong>de</strong>nominado “Nem lero nem clero”, analiso mais<br />

<strong>de</strong>tidamente como as contradições <strong>de</strong>sse trabalho aparecem no romance.

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