Revista 2002 - Beija-Flor
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Uma escola fazendo história<br />
Neguinho, "até lá fora é o samba que a galera mais gosta<br />
e conhece". Parceiro do puxador em "A criação do mundo...",<br />
Gilson Doutor considera esse samba, que já foi gravado<br />
pelo menos uma dúzia de vezes, "o maior sucesso<br />
da história da escola".<br />
Mas afinal de contas, dos tempos de Cabana até hoje,<br />
a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> conseguiu criar uma marca registrada, um estilo<br />
próprio de compor samba-enredo? "Não. E acho que<br />
isso não pode ser dito de nenhuma escola. Mesmo porque,<br />
hoje o compositor está aqui, amanhã ele troca de<br />
escola... Temos a nossa ala de compositores, mas ela é<br />
aberta a todos", diz Neguinho, se referindo à inovação<br />
introduzida há alguns anos pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>: a permissão<br />
para compositores não-afiliados à escola concorrerem com<br />
seus sambas. "O estilo de samba de cada escola é ditado<br />
pela harmonia e pela técnica da bateria", explica Gilson<br />
Doutor. "Você reconhece um samba da Mangueira quando<br />
ouve aquela cadência típica da bateria de lá. O mesmo<br />
acontece com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>."<br />
Cabana, o pioneiro da Azul-e-Branco<br />
Silvestre David dos Santos, o Cabana, é sinônimo de<br />
compositor para a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. Legítimo pioneiro, Cabana<br />
foi figura marcante não apenas na agremiação que ajudou<br />
a fundar, mas também na própria construção do moderno<br />
carnaval carioca. Passados 15 anos de sua morte,<br />
sua importância só faz crescer. E embora tenha deixado<br />
seu nome como compositor também em outras<br />
escolas, Cabana sempre será associado<br />
ao carnaval de Nilópolis.<br />
Inscrito na história da agremiação como<br />
autor de seu primeiro samba-enredo — "Caçador<br />
de esmeraldas", de 1954 —, Cabana<br />
foi ainda um dos responsáveis pela criação<br />
da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> como escola de samba propriamente<br />
dita: foi ele quem registrou, em 1953,<br />
o então bloco Associação Carnavalesca <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
na Confederação das Escolas de Samba<br />
para o desfile oficial de 1954, no segundo<br />
grupo. O resto é história: "Caçador de esmeraldas"<br />
levou a escola a seu primeiro título e<br />
Cabana transformou-se em símbolo da Ala<br />
de Compositores da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>. "Ele tinha um<br />
estilo único, tanto de compor quanto de can-<br />
tar. Era reconhecido em todo o Rio de Janeiro e com ele a<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> seguia junto", afirma Gilson Doutor.<br />
Nascido a 22 de julho de 1924, no bairro da Saúde,<br />
Silvestre ganhou o apelido de Cabana logo que começou a<br />
compor, em meados dos anos 40. Mesmo não tendo participado<br />
da histórica reunião de dezembro de 1948, que criou<br />
a Associação Carnavalesca <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, esteve sempre presente<br />
na evolução do então bloco de carnaval.<br />
"Quem trouxe o Cabana para a escola foi Zairo<br />
Rodrigues, o Zairo Gogó de Ouro, o melhor crooner que a<br />
escola já teve", conta o compositor Ary Carobinha." Na época,<br />
o pioneiro compositor já defendia sambas nas escolas<br />
União Entre Nós, Deixa Malhar e Unidos da Barão de<br />
Petrópolis. "Acho que foi quando ele saía nessa escola do<br />
Rio Comprido, no final dos anos 40, que tomou a navalhada<br />
que lhe deixou uma cicatriz no rosto", recorda Carobinha.<br />
O grande passo para a aparição do Grêmio Recreativo<br />
e Escola de Samba <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> foi dado por Cabana em<br />
pessoa. Em 1953, ele tomou a iniciativa de registrar a então<br />
Associação Carnavalesca como escola propriamente<br />
dita. Em seu primeiro carnaval na avenida (até então só<br />
desfilava em Nilópolis e adjacências), a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> venceu<br />
o campeonato do segundo grupo.<br />
Cabana era muito popular, conhecido em todas as<br />
agremiações e rodas de samba. "As músicas que ele fazia<br />
levavam o nome dele longe", diz Carobinha. Com suas boas<br />
relações entre os sambistas, Cabana trouxe para a escola<br />
O compositor Ary Carobinha, ao lado do irmão, Aluizio Ribeiro, presidente da Velha-Guarda da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
Arquivo <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
28 <strong>Revista</strong> <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> www.beija-flor.com.br