Revista 2002 - Beija-Flor
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meiros desfiles da<br />
escola, no início dos<br />
anos 30, no tempo<br />
em que as escolas<br />
se apresentavam na<br />
Praça Onze, Rufino,<br />
o tesoureiro, ficou<br />
assustado quando<br />
verificou que teria<br />
que pagar 90 passagens<br />
para os componentes<br />
que iriam pegar<br />
o trem na estação<br />
de Dona Clara<br />
com destino à Central<br />
do Brasil. "Meu<br />
Deus! Isso não é<br />
Carnaval de rua, na Avenida Rio Branco, em 1969<br />
uma escola de samba,<br />
é um rancho.<br />
Nunca vi tanta gente numa escola de samba!" (Na época,<br />
os ranchos carnavalescos tinham muito mais projeção<br />
do que as escolas de samba.) Depois disso, quando<br />
queriam chamar a atenção para a grandiosidade do<br />
desfile das escolas, os jornais diziam que havia algumas<br />
com mais de 100 integrantes! (O ponto de exclamação<br />
reforçava a importância da revelação estarrecedora.)<br />
Nos sete anos consecutivos em que foi campeã,<br />
de 1941 a 1947, a Portela apresentou várias novidades,<br />
valorizando as fantasias, as alegorias e começando<br />
a inovar na própria dança do samba. Quando o Império<br />
Serrano desfilou pela primeira vez, no carnaval<br />
de 1948, trouxe várias surpresas, como o timbre metálico<br />
da bateria, o mestre-sala e a porta-bandeira desfilando<br />
no meio da escola, e não no início como todas<br />
as rivais, e apresentando fantasias luxuosas, que viriam,<br />
mais tarde, a ser identificadas como destaques.<br />
Na década de 1950, com o desfile passando a atrair<br />
um público de classe média, es escolas passaram a<br />
preocupar-se com o próprio visual. As grandes escolas<br />
saíram em busca dos figurinistas de teatro. Houve<br />
um ano em que a Portela entregou a execução do seu<br />
enredo a Chianca de Garcia, o diretor teatral português<br />
radicado no Brasil. As escolas chegaram ao ponto<br />
Arquivo Nacional<br />
de trocar as bordadeiras do morro na confecção das<br />
suas bandeiras (um quesito, na época) pela produção<br />
acética e industrial da empresa conhecida como Arnaldo<br />
das Faixas.<br />
Uma das mais profundas mudanças no visual das<br />
escolas de samba, porém, ocorreu no carnaval de 1960,<br />
quando a Acadêmicos do Salgueiro teve o seu enredo<br />
"Palmares" elaborado por Fernando Pamplona e Arlindo<br />
Rodrigues. O luxo foi trocado pela criatividade. Querendo<br />
imitar a linha do Salgueiro, as demais escolas<br />
cometeram inúmeros equívocos nos anos seguintes,<br />
até que descobriram o óbvio: entregaram seus enredos<br />
aos jovens integrantes da equipe de Pamplona e<br />
Arlindo. E foi um desses jovens, Joãosinho Trinta, que<br />
acabou fazendo a definitiva revolução estética nas escolas<br />
de samba. Várias inovações apresentadas pela<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> no tricampeonato de 1976, 77 e 78 foram incorporadas<br />
pelas demais escolas e permanecem até<br />
hoje. Aliás, por falar em <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, é bom que se diga<br />
que coube a ela a mais importante novidade dos últimos<br />
anos, que foi entregar a uma equipe — e não a<br />
uma pessoa apenas — a responsabilidade de elaboração<br />
do enredo. A impressão que tenho é que, com<br />
tal decisão, ocorreu uma redução de vedetismo em favor<br />
do aumento da eficiência.<br />
janeiro <strong>2002</strong><br />
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