Revista 2002 - Beija-Flor

História do carnaval
O saudosismo e
a escola de samba
Sérgio Cabral
Ouvindo, um dia desses, o depoimento ao
Museu da Imagem e do Som do genial
instrumentista Jacob do Bandolim, realizado em fevereiro
de 1967, chamou-me a atenção a sua afirmação
de que, já naquela época, não havia mais escola de
samba: "O que há atualmente é show. Um show muito
bonito, mas show. Não é mais escola de samba", disse
ele. O curioso é que, hoje, às vésperas do carnaval de
2002, encontraremos certamente um crítico a dizer que
a escola de samba mesmo, a verdadeira, era aquela de
1967, e que hoje é show.
É que, cá entre nós, o carnaval — e a escola de samba,
em particular — é um campo fértil de saudosismo.
A Rainha do Carnaval de 1956
As pessoas não percebem que, atrás da sua opinião
sobre o tema, o que existe, quase sempre, é uma imensa
saudade da sua juventude, dos seus 18 anos. O carnaval
paga o pato porque é uma forte referência das
várias etapas de nossas vidas (um samba de antigamente
sempre lembra alguma coisa, não é verdade?).
Mas os saudosistas de todas as épocas têm razão pelo
menos num detalhe: o carnaval e as escolas de samba
mudaram muito com o tempo. Eu, por exemplo, prefiro
as escolas do tempo em que o samba, em todos os
seus aspectos — a composição, o canto, o ritmo e a
dança —, era o mais importante. Reconheço, porém, que
cada um tem o direito a escolher a sua época preferida e
até gostar de todas
as épocas.
Tenho amigos
que basta falar
de escola de
samba para ficarememocionados.
O saudoso
compositor
Alvaiade, da
Portela, numa
entrevista que
me concedeu,
contou que,
num dos pri-
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