Revista 2002 - Beija-Flor
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Pinah<br />
“A cinderela negra que<br />
ao príncipe encantou"<br />
Claudia Pinheiro<br />
Março de 1978. Para homenagear príncipe<br />
Charles, que visita o Rio a convite<br />
do então prefeito Marcos Tamoio, a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
improvisa uma apresentação no Palácio da Cidade.<br />
Da sacada, ao lado do prefeito e de outras<br />
autoridades, o herdeiro do trono britânico acompanha<br />
a evolução da escola com grande interesse,<br />
embora sem trair a proverbial fleuma britânica.<br />
Mas eis que surge na pista a fulgurante Pinah<br />
— negra, 1,80m, esbelta, cabeça raspada, sorriso<br />
largo e perfeito: o supra-sumo da elegância e<br />
da sensualidade nos desfiles das escolas de samba.<br />
Foi demais para Charles.<br />
"De repente, vi um cara de terno vindo na minha<br />
direção, todo desengonçado, dançando<br />
charleston em pleno samba. Mas ele sorriu, me<br />
estendeu a mão... Quando me dei conta de quem<br />
se tratava, Joãosinho Trinta já havia aberto uma<br />
roda para eu sambar com o príncipe" — conta<br />
Pinah, relembrando o acontecimento que a transformou<br />
em tema de reportagens e capa de revistas<br />
em todo o mundo.<br />
Nascida Maria da Penha Ferreira, em Muriaé,<br />
Minas Gerais, Pinah foi criada no Rio de Janeiro e,<br />
atualmente, mora em São Paulo. Na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, vem<br />
saindo há 25 carnavais, nos 14 primeiros como destaque.<br />
De 1989 para cá, porém, tem desfilado apenas<br />
como integrante da diretoria. "Achei que era hora<br />
de dar oportunidade para a nova geração", explica.<br />
E acrescenta: "É possível fazer muito pela escola<br />
Arquivo <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
Pinah encantou o príncipe Charles numa apresentação da<br />
<strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> no Palácio da Cidade, em 1978<br />
sem ter que estar, necessariamente, num carro alegórico."<br />
Prova do tanto que Pinah já fez pela <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> é a homenagem<br />
que lhe foi prestada por Neguinho da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong><br />
e Nego na letra de "A grande constelação das estrelas<br />
negras", samba-enredo de 1983. "Quer coisa melhor do<br />
que ser homenageada pela sua escola?" — pergunta, emocionada.<br />
"Imagine: passar na avenida com todo mundo<br />
cantando o seu nome... Não tem nem como definir. Você<br />
quer chorar, quer sorrir e não quer nada ao mesmo tempo",<br />
define, com a precisão de sua espontaneidade."<br />
O envolvimento com a <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> se deu nos anos 70.<br />
Pinah fazia moda e desfilava para o estilista Armando Nogueira<br />
quando conheceu Luiz Claudio Ribeiro, que a levou<br />
para desfilar na Em Cima da Hora e no Salgueiro. No Salgueiro<br />
conheceu Jésus Henrique, que a apresentou a<br />
Joãosinho Trinta, o carnavalesco da escola na época.<br />
No auge do sucesso, em 1982, Pinah se casou com o<br />
empresário de origem árabe Elias Ayoub, e se mudou para<br />
São Paulo: "São 20 anos de casamento. E com o mesmo<br />
marido", brinca. O casal tem uma filha, Claudia, de 10 anos,<br />
que desde os seis sai na <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong>, pela qual é, segundo a<br />
mãe, apaixonada: "Fala pra ela de outra escola pra você ver!"<br />
Atualmente, Pinah Ayoub divide seus dias entre a filha,<br />
o marido e a administração da loja Palácio das Plumas<br />
— uma das maiores empresas de artigos de carnaval<br />
do país. Ainda assim, encontra tempo para acompanhar,<br />
lá de São Paulo, a preparação da <strong>Beija</strong>-<strong>Flor</strong> para o<br />
carnaval. E sempre que pode, vem ao Rio para estar mais<br />
a par dos preparativos: "Acompanho passo a passo o que<br />
está acontecendo na escola. Quero saber de tudo."<br />
janeiro <strong>2002</strong><br />
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