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MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL

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conversa para meter goela abaixo um balão colorido repleto de nitrous<br />

oxide, gás hilariante, consumido para atenuar-lhe as dores dos<br />

carcinomas. E voltava sempre a criticar o neoliberalismo, apontandolhe<br />

os traços de um gigante tatibitate, de um “bruhahá babélico”. Ou<br />

melhor, convenhamos, interpretava ele: o neoliberalismo não passaria<br />

de um golpe de Estado baseado no truque semântico para mostrar o<br />

suposto fim da história. Uma cantilena, tonitruante, a tentar provar que<br />

tudo já foi resolvido e que a auto-regulagem do mercado irá,<br />

indesviavelmente, botar um fim em todas as agonias do planeta. O fim<br />

das utopias seria, ao lado dos dias e noites, o mais novo hábito do<br />

tempo. Mas Leary acreditava loucamente no sonho, no “divagar e<br />

sempre”. Eu só encontraria consolo semelhante numa frase do<br />

embaixador Sérgio Paulo Rouanet, frase que hoje habita meu criadomudo<br />

num pedacinho de papel: “Walter Benjamin diz em Paris,<br />

capital do século 20, que cada época sonha a seguinte, sob a forma de<br />

imagens em que o arcaico, impregnando-se do novo, gera a utopia”.<br />

Estávamos ali, os três, tentando decifrar os memes dos<br />

neoliberais sob o mesmo teto em que John Lennon um dia se cevara<br />

dos conselhos lisérgicos do guru. Timothy Leary vinha dizendo, nos<br />

últimos tempos e em todas as nossas conversas, que os memes são<br />

idéias, conceitos, paradigmas básicos, palavras-chave que<br />

determinam a evolução biológica. Os memes se reproduzem e se<br />

espalham de pessoa para pessoa, podem ser expressados numa<br />

palavra, num símbolo ou num ícone. Nas suas palavras, a coisa é<br />

mais ou menos assim: a bandeira de um país é um meme. Cristo,<br />

Alá, são supermemes, assim como a suástica. A Coca-Cola é quase<br />

um supermeme.<br />

Os memes são como marcas, selos, para os arquivos de nosso<br />

computador biológico, que é o nosso cérebro. O meme Stálin, por<br />

exemplo, ativa certos arquivos históricos no cérebro da maioria das<br />

pessoas. Uma forma de mudar a cultura, de modificar as mentes é<br />

introduzir novos memes no cérebro das pessoas. Isso é feito pelo<br />

estímulo multissensorial da atividade psicomotora. A massa católica,<br />

por exemplo, é ricamente abastecida de sons, perfumes, luzes,<br />

reflexos, os quais imprimem a realidade católica no cérebro das<br />

pessoas. Assim, as organizações vão usando os memes para controlar<br />

o cérebro das pessoas. Em certas épocas, novos memes se instalam na<br />

cultura, como verdadeiras epidemias. Durante os anos 60, os memes<br />

da liberdade individual e do questionamento das autoridades<br />

dominaram toda a América, espalhados pelo movimento do rock and<br />

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