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MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL

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sentido, consumidores de notícias estão vendo, no jornalista, o<br />

mesmo papel do padreco: para que ele, se eu mesmo posso editar<br />

tudo? Eis todo o segredo dos blogs, do syndication (RSS), etc.<br />

Queremos nos livrar dos protozoários que fazem o meio campo de<br />

nossas vidas. Jornalistas, protozoários e padrecos caminham lado a<br />

lado, neste início de século 21.<br />

Pinky Wainer e Xico Sá achavam que esta obra, editada pelo<br />

Bispo, deveria se chamar de início O Aquário da Demônia. A força<br />

programática do catolicismo é de fazer rufar nos sapatos. Ou, por<br />

outra, uma pontinha imperceptível de corrupção vai nisso. Daquela<br />

que o Octavio Paz falava como “a primeira forma de corrupção, que<br />

se dá na linguagem”. Vejamos: Nietzsche apontava que o vocábulo<br />

“bom” já significou (em tempos melhores e mais longínquos) apenas<br />

“guerreiro” – e coube aos santos padres transformar “bom” no sentido<br />

que hoje conhecemos e que, em alguns cafarnauns, pode até<br />

significar “bobo”. Se “guerreiro” virou “bonzinho”, o mesmo se fez<br />

com o demônio.<br />

Sócrates, o filósofo, dizia-se orientado pelo seu “demônio”<br />

(daimon). No mundo grego dispúnhamos de dois vocábulos a<br />

nomear o divino: theos, a divindade individual, e daimon, tida como<br />

manifestação genérica do divino. Em “Trabalhos e os dias”, Hesíodo<br />

conta: após terem acabado sua existência na idade de ouro, os machos<br />

e costelas de Adão foram transformados por Zeus em daimones, que<br />

aparecem como protetores dos mortais, que vigiam suas decisões.<br />

Pois é, a bela origem de daimon e sua ressonância peculiar viraram o<br />

que viraram: o demônio de hoje. Ou melhor: a demônia. Essa<br />

entidade, que aqui congrega as duas significações, a grega e a católica,<br />

é simplesmente a imprensa.<br />

• Mas que diabo é esse?<br />

Samuel Wainer bolou o termo “aquário” para aquele cercado<br />

vítreo em que os decision makers das redações decidem sobre a linha<br />

editorial e as cabeças a serem cortadas, dentro e fora do jornal. Por sua<br />

imposição, o aquário da redação passou a ser transparente. Repórteres,<br />

sobretudo, vêem no aquário não apenas um habitat em que velhas<br />

baleias do jornalismo vão se recostar (para arrancar craca das costas),<br />

mas também em que velhos tubarões vão divisar carne fresca – e onde<br />

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