MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL
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ou pela fenomenologia. Vamos aplicar isso ao ofício da reportagem.<br />
Usemos como exemplo o crime. Se você for medir a criminalidade<br />
de um local apenas pelos números (policiais mortos, ladrões presos,<br />
crescimento de ataques, liberação de verbas, etc.), estará sendo de<br />
uma metodologia positivista. Governantes gostam de ser<br />
positivistas, explicar o crime pelo aumento do número de ataques,<br />
além de satanizar o bandido, digamos, pedem que se aumente o<br />
efetivo. Os governantes gostam de aumentar e dotar verbas sem<br />
licitação pública de serviços. Jornalistas que explicam o crime pelos<br />
números, apenas, são também positivistas.<br />
Se você tentar explicar o aumento ou diminuição do crime<br />
pelas relações trabalho/capital (como diria Marx, pela práxis, vulgo<br />
trabalho humano infinito) estará obviamente sendo marxista.<br />
Governantes não gostam de explicar o crime por aí, porque assim é<br />
mais difícil combatê-lo: exige um esforço social além da polícia,<br />
botar empresários no esforço, banqueiros, fomentadores de taxas de<br />
juros, enfim todos aqueles que o ex-governador Claudio Lembo, de<br />
São Paulo, chamava de a “grande burguesia branca” . Nova York só<br />
deixou de ser uma das cidades mais violentas do mundo quando a<br />
economia dos EUA cresceu, não quando se matou mais bandidos.<br />
Volta-e-meia nossa imprensa é marxista, porque isso cai bem junto<br />
ao público “escrarecido”, cai bem aos militantes progressitas e<br />
viúvas das Diretas-Já. Só por isso.<br />
Agora, se você vai a uma cadeia entrevistar um bandido e<br />
faz um texto de impressões, está sendo fenomenológico. Aí se<br />
trata do “lance” direto entre você, o entrevistado e o “clima” que<br />
pintou. Alguém poderia chamar isso de jornalismo literário, mas<br />
na verdade quem fala algo pensou outra coisa, quem ouviu isso<br />
capturou outra coisa. Quando relatou isso num texto<br />
jornalístico, saiu outra coisa. E quem leu, vulgo leitor, entendeu<br />
outra coisa. Isso é Wiitgenstein puro, ou seja, a linguagem é<br />
incapaz de tudo exprimir. Esse lufa-lufa caleidoscópico, em que<br />
cada um entende o que quer (e quando ler de novo, num outro<br />
clima, outro dia, entenderá outra coisa) se chamará nesta obra de<br />
jornalismo quântico.<br />
Infelizmente, nossa crítica de mídia autóctone é<br />
fenomenológica. Trata de impressões. Não há uma investigação<br />
sobre a investigação jornalística. Esta obra pretende investigar<br />
investigações, ser poética e fenomenológica, e também positivista,<br />
cartesiana. Mas, sobretudo, pretende ser quântica.<br />
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