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MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL

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Bandas que para mim eram valores a serem preservados – o Ira!,<br />

por exemplo, para quem eu quis dar uma capa –, eram vistas, ao<br />

contrário, como sinônimo de incompetência. ‘Tiveram uma música<br />

como tema de novela e nem assim estouraram’, nas palavras do<br />

diretor de grupo, Carlos Arruda.<br />

O Carlos Arruda, aliás, era campeão em conclusões idiotas.<br />

Insistiu em dar a capa do número 4 da revista para o Gilberto Gil,<br />

que tentava desesperadamente sobreviver à onda pop pós-Blitz<br />

mas não conseguia disfarçar um certo ranço de ‘aristocracia da<br />

MPB’ – e evidentemente as vendas (excelentes) caíram um pouco.<br />

Muito tempo depois, quando eu propus uma capa para o Living<br />

Colour, que efetivamente roubou a cena do Hollywood Rock de que<br />

participou, Arruda lembrou do caso do Gil para decretar que<br />

‘preto na capa não vende revista’... Foi por essas e por outras que<br />

resolvi seguir meu caminho de novo.<br />

EM BUSCA DO EDITOR SURTADO – Mais tarde, já na Folha<br />

de S.Paulo, o susto foi outro. Uma combinação de fatores fazia<br />

do caderno cultural do jornal, a Folha Ilustrada, um lugar bom,<br />

em princípio, para ‘enfants terribles’. O projeto de modernização<br />

da Folha tivera seu ápice com a campanha das Diretas-Já, o que<br />

gerou depois o slogan ‘De rabo preso com o leitor’ – sugestão de<br />

que os outros veículos serviam a lobbies, políticos e culturais,<br />

não declarados.<br />

Uma peça importante para dar o ar ‘modernizante’ da Folha<br />

tinha sido exatamente a Ilustrada. Sob a gestão de Matinas<br />

Suzuki, no início dos anos 80, ela era generosamente aberta às<br />

novas expressões artísticas, particularmente o rock<br />

underground, nacional e estrangeiro. A Ilustrada antecipou<br />

tendências que depois seriam maciçamente exploradas pela<br />

Bizz, que recrutou inclusive um dos principais escribas da<br />

Ilustrada, Pepe Escobar.<br />

Mas, já no final da década de 80, a coisa do ‘enfant terrible’ já<br />

era mais um vício do que propriamente uma qualidade.<br />

Esgotado por gente interessante como Luis Antonio Giron e<br />

André Forastieri (outro que depois foi parar na Bizz), o recurso<br />

de investir contra as ‘vacas sagradas’ da cultura brasileira e<br />

internacional continuou a ser seguido – com igual iconoclastia,<br />

mas com muito menos autoridade – pelos jovens jornalistas que<br />

a casa ia buscar em seus grupos de trainees.<br />

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