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MÍDIA, MÁFIAS E ROCK'N'ROLL

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• Por um jornalismo quântico.<br />

A frase que preside estas linhas é de Timothy Leary:<br />

“A realidade é uma opinião”. Se crermos sinceramente nisso, quaisquer<br />

críticas de mídia não deveriam levar essa definição, pois a crítica da<br />

mídia é a crítica do homem (“conheci o homem, ele é inconsistente”,<br />

notou Einstein). Tudo o que se critica na mídia é um fenômeno<br />

humano, tão demasiadamente humano, que não existe crítica de mídia:<br />

há crítica de condições tão singularmente humanas que, uma vez<br />

amplificadas por um meio (medium), acabam virando crítica mídia.<br />

Talvez nesse sentido o crítico mais agudo do homem, que em crítica de<br />

mídia se chama editor, tenha sido o Nietzsche de “Além do Bem e do<br />

Mal” terminado em 1885.<br />

Acusamos editores de interpretar o mundo à sua maneira, o que<br />

seria um crime, dizem os críticos de plantão. Nietzsche já apontava<br />

esse primado dos sentidos sobre a verdade:<br />

Talvez cinco ou seis cérebros começam a perceber que a física<br />

também não passa de uma interpretação e adaptação subjetivas do<br />

mundo (à nossa imagem, é bom lembrar), e não uma explicação, mas na<br />

medida em que a física se apóia nessa crença nos sentidos, mais valor lhe<br />

é atribuído e por muito tempo assim seguirá, porque será considerada<br />

como uma explicação. Tem a seu favor olhos e dedos, a aparência visível<br />

e palpável. Numa época de gosto predominantemente plebeu, isso possui<br />

um efeito mágico, persuasivo e convincente, pois segue instintivamente o<br />

cânon de verdades do sensualismo eternamente popular”. (ABM, 27)<br />

Acusamos leitores de lerem mal um jornal mal editado.<br />

Nietzsche prossegue:<br />

“É penoso e difícil para o ouvido ouvir algo novo; ouvimos mal<br />

uma música estranha. Ao ouvirmos uma outra língua, tentamos<br />

involuntariamente adaptar os sons ouvidos a palavras que nos sejam<br />

familiares. O que é novo encontra também os nossos sentidos com uma<br />

posição hostil e contrária; de um modo geral, já nos processos ‘mais<br />

simples’ da sensualidade dominam afetos como medo, amor, ódio,<br />

incluindo os afetos passivos de preguiça. Assim como hoje um leitor não<br />

lê todas as palavras (e muito menos as sílabas) de uma página – pelo<br />

contrário, escolhe, ao acaso, cerca de cinco entre vinte, ‘adivinhando’ o<br />

sentido que provavelmente corresponde a elas –, do mesmo modo não<br />

vemos uma árvore exata e completamente, detalhando as suas folhas,<br />

ramos, cor e forma. É muito mais fácil para nós imaginar algo parecido<br />

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