Itaú Cultural
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0 LEFEBVRE, Henri,<br />
op. cit., p. 7.<br />
11 Conversa com Henri<br />
Lefebvre, op. cit., p. 6 . O<br />
autor refere-se, aqui, ao<br />
conceito de produção<br />
do espaço, tratado em<br />
seu livro La production<br />
de l’espace. Paris: Éditions<br />
Anthropos, 97 , p. 86.<br />
LEFEBVRE, Henri, op. cit.,<br />
p. .<br />
de grupos sociais determinados sob condições de sua própria história.<br />
Essas condições teriam prevalecido nas cidades comerciais, construídas<br />
no período da Idade Média ocidental, dominada por mercadores<br />
e banqueiros, cuja ação tinha como propósito a promoção e a<br />
disseminação da troca. Esses produtores do espaço urbano visavam<br />
ampliar o domínio do valor de troca; contudo, a cidade constituiu para<br />
eles muito mais um valor de uso do que de troca. 0<br />
Com a emergência da cidade industrial, a prevalência do valor de<br />
troca estaria se impondo e a visão da cidade como valor de uso teria<br />
sido alterada pelo capitalismo, que se apropriou, recentemente,<br />
também do espaço da cidade, transformando-o em mercadoria.<br />
Nesse contexto, igualmente estaria ocorrendo a homogeneização<br />
e o empobrecimento da cultura e da vida cultural, conforme<br />
mencionamos ao tratar da segregação das funções urbanas.<br />
Desse modo, para transformar o processo de urbanização capitalista,<br />
devemos compreender que<br />
o direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos:<br />
direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat<br />
e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito<br />
à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão<br />
implicados no direito à cidade.<br />
Complementando as idéias expostas, torna-se indispensável buscar<br />
uma compreensão da cidade no momento atual, quando a quase<br />
totalidade de seus espaços foi convertida em mercadoria, conforme<br />
reflexões posteriores de Lefebvre. Sendo assim, alguns espaços<br />
considerados simbólicos na estrutura urbana subsistiriam sem<br />
transformações expressivas, na medida em que fossem preservados.<br />
Entretanto, tal processo faria emergir uma contradição nas visões<br />
de preservação dos ambientes culturais que, a rigor, deveriam<br />
permanecer com características de valores de uso. Todavia, essa<br />
visão dificilmente poderia ser mantida, uma vez que, na cidade<br />
atual, transformada em contexto de valores de troca, os ambientes<br />
preservados consistiriam em lugares a ser negociados, seja através<br />
da criação de atividades de turismo, seja através de centros culturais,<br />
de espaços de lazer, entre outros. Resta considerar, ainda, que a<br />
construção da cidade do futuro, mediante a ação de seus diversos<br />
grupos sociais, poderá alterar as condições do presente.<br />
LEITURAS SOBRE<br />
POLÍTICA CULTURAL<br />
006, e A era do rádio. Zahar, 00 .<br />
DUARTE, Paulo. Mário de Andrade por ele mesmo. São Paulo: Hucitec, 977.<br />
SANDRONI, Carlos. Mário contra Macunaíma: cultura e política em Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Vértice/Iuperj, 988.<br />
. 0 .<br />
Lia Calabre<br />
imagem: Humberto Pimentel/<strong>Itaú</strong> <strong>Cultural</strong><br />
A tarefa de iniciar ou de aprofundar o conhecimento sobre determinado tema pode ser empreendida<br />
através de estratégias diversas. Como se poderia começar a estudar e conhecer a problemática das<br />
políticas culturais no Brasil? A estratégia por mim eleita, como historiadora, é a de tentar resgatar<br />
a trajetória das relações estabelecidas entre Estado e cultura no século XX através das obras que a<br />
mapeiam, buscando identificar os atores políticos e as ações que a compõem.<br />
Uma boa forma de começar a pensar na problemática das políticas culturais no Brasil é com<br />
a leitura Mário de Andrade por Ele Mesmo, de Paulo Duarte, e Mário contra Macunaíma:<br />
Cultura e Política em Mário de Andrade, de Carlos Sandroni. As obras trazem um conjunto<br />
de informações fundamentais sobre a criação do Departamento de Cultura da cidade de São<br />
Doutora em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa,<br />
professora de políticas culturais do MBA de gestão cultural da Universidade Candido Mendes. Autora, entre outros, dos<br />
livros O rádio na sintonia do tempo: radionovelas e cotidiano ( 9 0- 9 6). Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa,