Itaú Cultural
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CENOGRAFIAS E<br />
CORPOGRAFIAS URBANAS:<br />
ESPETÁCULO E EXPERIÊNCIA<br />
NA CIDADE CONTEMPORÂNEA<br />
Paola Berenstein Jacques<br />
Gosto de banzar ao atá pelas ruas das cidades ignoradas […] S. Salvador me<br />
atordoa vivida assim a pé num isolamento de inadaptação que dá vontade de<br />
chorar, é uma gostosura. [...] é o mesmo do saber físico que dá a passeada a pé.<br />
[…] Passear a pé em S. Salvador é fazer parte dum quitute magnificiente e ser<br />
devorado por um gigantesco deus Ogum, volúpia quase sádica, até.<br />
(Mário de Andrade, sobre sua experiência de andar pela cidade de<br />
São Salvador da Bahia no dia 7 de dezembro de 9 8)<br />
Este artigo se divide em duas partes distintas mas complementares: uma crítica à atual<br />
espetacularização das cidades – as cenografias – e uma apologia da experiência corporal nas<br />
cidades – as corpografias –, o que poderia ser considerado uma microrresistência ao processo de<br />
espetacularização das culturas, das cidades e dos corpos. O que chamo de espetacularização das<br />
cidades contemporâneas, que também pode ser chamado de cidade-espetáculo (espetáculo<br />
no sentido dado por Guy Debord), está diretamente relacionado a uma diminuição da própria<br />
experiência corporal das cidades enquanto prática cotidiana, que será exemplificada aqui pelo<br />
que chamo de errâncias urbanas. O que nos leva a repensar a questão do corpo, ou, como diria<br />
Milton Santos, da corporeidade dos homens lentos, ou seja, a própria experiência corporal da<br />
cidade, que acredito que possa nos mostrar alguns caminhos alternativos à espetacularização<br />
urbana, ou seja, microdesvios nessa lógica espetacular.<br />
1 Professora da faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), vice-coordenadora do<br />
Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade, pesquisadora do CNPq, associada<br />
ao LAA/EAPLV (França) e autora dos livros Les Favelas de Rio (Paris, l’Harmattan, 00 ); Estética da Ginga (Rio de Janeiro,<br />
Casa da Palavra, 00 ); e Esthétique des Favelas (Paris, l’Harmattan, 00 ); co-autora de Maré, Vida na Favela (Rio de<br />
Janeiro, Casa da Palavra, 00 ); e organizadora de Apologia da Deriva (Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 00 ), Corps et<br />
Décors Urbains (Paris, l’Harmattan, 006), e Corpos e Cenários Urbanos (Salvador, Edufba, 006).<br />
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