13.05.2013 Views

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ninguém po<strong>de</strong>rá fugir à <strong>morte</strong> porque ela encontrará o homem on<strong>de</strong> quer que ele<br />

esteja. Para ela, não há escon<strong>de</strong>rijo difícil. Nesse mesmo sentido, po<strong>de</strong>mos também ler em El<br />

Fiscal (1998), <strong>de</strong> Augusto Roa B<strong>as</strong>tos: “No se vem cortejos ni coches fúnebres. No se oye<br />

doblar campan<strong>as</strong>. Es como si la muerte solo se hubiera transformado en u<strong>na</strong> enfermedad<br />

invisible que cada uno la lleva escondida bajo la ropa 52 ”.<br />

Ainda Roa B<strong>as</strong>tos em El Fiscal (1998), referindo-se ao perso<strong>na</strong>gem Solano López,<br />

escreve: “Miré fijamente los ojos inyectados <strong>de</strong> sangre, vidriosos por la muerte, la<br />

enmarañada barba, moteada <strong>de</strong> grumos rojos, coágulos <strong>de</strong>l último vómito <strong>de</strong> la agonía, la boca<br />

abierta, la mandíbula <strong>de</strong>squijarada, colgando sobre el pecho 53 ”. Nesse fragmento a pintura<br />

realisticamente crua - criada por Roa B<strong>as</strong>tos sobre a imagem da <strong>morte</strong> presente - provoca<br />

náusea e, <strong>de</strong> certo modo, convida ao distanciamento da <strong>morte</strong> e do morto.<br />

O homem inquieta-se com o silêncio da <strong>morte</strong> e, muit<strong>as</strong> vezes, explo<strong>de</strong> em gritos por<br />

meio da arte. Para Stendhal, citado por Süskind (2006), o amor é maior que a <strong>morte</strong>, ainda que<br />

ambos estejam relacio<strong>na</strong>dos. “El verda<strong>de</strong>ro amor hace pensar en la muerte freqüente,<br />

levemente, sin espanto; la muerte se convierte en un simple término <strong>de</strong> comparación en el<br />

precio que hay que pagar por much<strong>as</strong> cos<strong>as</strong>”. 54<br />

José Saramago, em O Evangelho segundo Jesus Cristo (2005), ao referir-se ao<br />

sofrimento <strong>de</strong> Maria com a <strong>morte</strong> <strong>de</strong> José, escreve: “(...) <strong>na</strong> inexprimível solidão da <strong>morte</strong> (...)<br />

ajoelhou-se enfim no chão, exaurida <strong>de</strong> forç<strong>as</strong>, e <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> vieram para ela e ro<strong>de</strong>aram-<strong>na</strong>,<br />

“Quem é<br />

Este infeliz soldado,<br />

que aos nossos pés caiu<br />

pintado todo <strong>de</strong> sangue?<br />

Sou um homem <strong>de</strong>sgraçado,<br />

Que por querer-me guardar<br />

da <strong>morte</strong>, busquei-a.<br />

Fugindo <strong>de</strong>la, encontrei-a<br />

Com ela, pois para a <strong>morte</strong> não há lugar<br />

Para a <strong>morte</strong> secreto:<br />

De on<strong>de</strong> se questio<strong>na</strong><br />

Que quem mais foge <strong>de</strong> seu efeito,<br />

É quem chega a seu efeito”.<br />

52 BASTOS, A. Roa El Fiscal. 2ª ed. Argenti<strong>na</strong>: Sudamerica<strong>na</strong>, 1998, p. 54. “Não se vêem cortejos nem carros<br />

fúnebres. Não se ouve repicarem os sinos. É como se a <strong>morte</strong> houvesse se transformado em uma enfermida<strong>de</strong><br />

invisível que cada um carrega, escondida <strong>de</strong>baixo da roupa”.<br />

53 “Olhei fixamente os olhos injetados <strong>de</strong> sangue, vidrados pela <strong>morte</strong>, a emaranhada barba, mosqueada <strong>de</strong><br />

grumos vermelhos, coagulados do último vômito da agonia, a boca aberta, a mandíbula caída, pendurada sobre o<br />

peito”. I<strong>de</strong>m p. 35.<br />

54 SÜSKIND, Pátria. Sobre el amor y la muerte. Trad. Miguel Saem. México: Ceais Barral, 2006, p. 51. “O<br />

verda<strong>de</strong>iro amor faz pensar <strong>na</strong> <strong>morte</strong> freqüente, levemente, sem espanto; a <strong>morte</strong> se converte em um simples<br />

término <strong>de</strong> comparação, no preço que se tem que pagar por muit<strong>as</strong> cois<strong>as</strong>”.<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!