a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
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<strong>morte</strong>. Este, ao perceber que não chegaria ao seu objetivo, pe<strong>de</strong> para voltar, m<strong>as</strong> seus<br />
companheiros não permitem, pois queriam sua <strong>morte</strong>.<br />
A fé afigura-se como du<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> motrizes oponentes - que se imbrica <strong>na</strong> construção<br />
da <strong>na</strong>rrativa. O <strong>de</strong>senrolar do emaranhado <strong>de</strong> situações mostra que os três perso<strong>na</strong>gens se<br />
encontram em conflito constante. A dor, a pieda<strong>de</strong> e o consolo mesclam-se por toda a jor<strong>na</strong>da.<br />
Assim, é mantido um clima surpreen<strong>de</strong>ntemente dinâmico e dramático. Além dos obstáculos<br />
reais, também são <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ntes <strong>as</strong> conseqüênci<strong>as</strong> e influênci<strong>as</strong> psicológic<strong>as</strong> <strong>de</strong>sta<br />
peregri<strong>na</strong>ção.<br />
Nesse conto visualiza-se, claramente, a importância <strong>de</strong> dois <strong>as</strong>pectos. De um lado<br />
Tanilo Santos, com a intenção <strong>de</strong> buscar em Talpa a energia vital para continuar vivendo. Do<br />
outro, Natalia e seu cunhado buscam energia no fim <strong>de</strong> Tanilo e usam a esperança como arma<br />
fatal contra o próprio enfermo. Tanilo <strong>de</strong>seja ar<strong>de</strong>ntemente ficar curado. Natalia e o cunhado<br />
são movidos pelo <strong>de</strong>sejo sexual.<br />
Eram ess<strong>as</strong> su<strong>as</strong> intenções, pois <strong>de</strong> imediato a manifestam - quando apóiam o enfermo<br />
<strong>na</strong> peregri<strong>na</strong>ção à “Virgencita <strong>de</strong> Talpa”. Todos <strong>de</strong>sejam, individualmente, ter seu objetivo<br />
alcançado. Entretanto, <strong>as</strong> <strong>as</strong>perez<strong>as</strong> da trajetória complicam a extenuante peregri<strong>na</strong>ção. Por<br />
vezes, Tanilo manifesta fraqueza física, e o c<strong>as</strong>al amante celebra uma primeira conquista.<br />
Assim a <strong>na</strong>rrativa vai <strong>de</strong>lineando a perso<strong>na</strong>lida<strong>de</strong> do <strong>na</strong>rrador, que toma consciência <strong>de</strong> si<br />
mesmo quando ocorre a consumação do fato.<br />
Para justificar o inesperado da <strong>morte</strong>, é necessário que se volte o olhar para <strong>as</strong><br />
condições <strong>de</strong> viagem a que o enfermo - já tão <strong>de</strong>bilitado - foi submetido. O corpo, fragilizado<br />
pela doença, submete-se à busca da cura. É o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trocar o corpo enfermo por um corpo<br />
saudável, para que lhe seja possível <strong>de</strong>sfrutar do que a vida oferece. E há possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
isso ocorrer no tempo e no espaço. E é a caminho <strong>de</strong> Talpa, no trajeto para a <strong>morte</strong>, no<br />
silêncio e <strong>na</strong> dor, <strong>na</strong> <strong>de</strong>sesperança e <strong>na</strong> qu<strong>as</strong>e <strong>de</strong>sistência que se escon<strong>de</strong> a última<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver: quando se dá conta que, se continuar, não viverá. Por isso, pe<strong>de</strong> para<br />
voltar. Quer <strong>de</strong>sistir da busca do corpo novo. Ac<strong>as</strong>o percebeu que estava sendo traído? Os<br />
companheiros não permitem sua volta. Ele está marcado para a <strong>morte</strong>. O <strong>na</strong>rrador - confessa:<br />
“(...) cuando él ya no queria seguir, cuando sintió que era inútil seguir y nos pidió que lo<br />
regresáramos, a estirones lo levantábamos <strong>de</strong>l suelo para que siguiera cami<strong>na</strong>ndo, diciendo<br />
que yá no podíamos volver atrás 105 ”. Maliciosamente esse “volver atrás” parece apontar para<br />
105 I<strong>de</strong>m p. 38. “Quando ele já não queria seguir, quando sentiu que era inútil seguir e pediu que o<br />
regressássemos, a estirões, o levantávamos do chão para que seguisse caminhando, dizendo-lhe que já não<br />
podíamos voltar atrás.”<br />
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