13.05.2013 Views

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Juan Preciado se surpreen<strong>de</strong> com o que vê. É oposto à informação da mãe. É outro<br />

tempo, fica <strong>de</strong>sorientado. Há diversos caminhos. Os que vão pela montanha não regressam.<br />

Outro caminho dá para o céu: é um buraco estreito no teto. Em Mt (7,14) o caminho que leva<br />

ao céu é igualmente estreito 157 . Indica a dificulda<strong>de</strong> da entrada - pela qual poucos conseguirão<br />

entrar.<br />

Como já foi sugerida, a <strong>morte</strong> tem sentidos diferentes n<strong>as</strong> vári<strong>as</strong> esfer<strong>as</strong>. Po<strong>de</strong>-se falar<br />

d<strong>as</strong> folh<strong>as</strong>, não obstante a ausência d<strong>as</strong> árvores. Dos frutos azedos que já foram doces. De<br />

terr<strong>as</strong> <strong>de</strong>sértic<strong>as</strong> que já foram ver<strong>de</strong>s. A mãe <strong>de</strong> Juan Preciado se lembrava da “vista muy<br />

hermosa <strong>de</strong> u<strong>na</strong> llanura ver<strong>de</strong>, algo amarilla por el maiz maduro. Des<strong>de</strong> ese lugar se ve<br />

Comala, blanqueando la tierra, iluminándola durante la noche 158 ”. Há lembranç<strong>as</strong> <strong>de</strong> Comalaé<strong>de</strong>n,<br />

on<strong>de</strong> havia odor <strong>de</strong> pão recém-<strong>as</strong>sado e <strong>de</strong> mel-<strong>de</strong>rramado. Terra da promessa 159 . Em<br />

semelhante situação vive Pedro Páramo, <strong>de</strong>sejando reencontrar com Susa<strong>na</strong> San Juan. Des<strong>de</strong> a<br />

infância a amava. Vivia lembrando, saudosamente, daquele tempo. Juan Preciado espera<br />

encontrar a Comala <strong>de</strong>scrita pela mãe moribunda e realizar seu sonho <strong>de</strong> encontrar o pai. E <strong>de</strong><br />

c<strong>obra</strong>r-lhe seus direitos.<br />

Entre fartura e miséria, presença e ausência, esperança e <strong>de</strong>sesperança os perso<strong>na</strong>gens<br />

<strong>de</strong> Pedro Páramo vão construindo a engre<strong>na</strong>gem da <strong>na</strong>rrativa. Nem tudo está acabado para os<br />

comalenses. Esta terra já foi farta. Abundância que está presente <strong>na</strong> memória <strong>de</strong> alguns dos<br />

perso<strong>na</strong>gens. Há esperança também <strong>de</strong> que, morto o cacique Pedro Páramo, a riqueza - que<br />

por todos foi produzida e por ele acumulada - seja distribuída entre todos 160 .<br />

Conforme a ensaísta Irma Dávalos Pardo, a <strong>morte</strong> em Pedro Páramo não está somente<br />

no espaço físico - em que a ação se <strong>de</strong>senvolve e no contexto sócio-histórico –pois, ao<br />

pronunciar-se a partir da <strong>morte</strong>, toda a paisagem fica com uma coloração envelhecida: visual<br />

<strong>de</strong> <strong>morte</strong>. Todos os lugares - dos quais se está falando, olhando e ouvindo - são ataú<strong>de</strong>s cuja<br />

umida<strong>de</strong> faz com que os mortos se mexam e falem. Enquanto outros mortos ficam <strong>de</strong> ouvidos<br />

atentos para escutar <strong>as</strong> novida<strong>de</strong>s 161 . O <strong>as</strong>sunto entre os mortos é sobre a difícil vida que<br />

tiveram - subjugados à tiranía <strong>de</strong> Pedro Páramo - e sobre a <strong>morte</strong>, tanto nos c<strong>as</strong>os individuais<br />

quanto nos que se inter-relacio<strong>na</strong>m.<br />

157<br />

I<strong>de</strong>m Mt. 7,14. “Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida. E poucos são os que<br />

entram”.<br />

158<br />

I<strong>de</strong>m p. 110. “A vista muito bonita <strong>de</strong> uma planície ver<strong>de</strong>, amarelada pelo milho maduro. Desse lugar se vê<br />

Comala, branqueando a terra, ilumi<strong>na</strong>ndo-a durante a noite”.<br />

159<br />

“(...) para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e v<strong>as</strong>ta, terra que ema<strong>na</strong> leite e mel (...) Ex. (3,8)”.<br />

160<br />

I<strong>de</strong>m. p. 163. “(...) Otros se quedaron esperando que Pedro Páramo se muriera, pues según <strong>de</strong>cían les había<br />

prometido heredarles sus bienes, y con esa esperanza vivieron todavía algunos.”<br />

161<br />

I<strong>de</strong>m. p. 162. “Eso dice ella. Que <strong>na</strong>die había ido a ver a su madre cuando murió (...). De eso hablaba (...).<br />

Cuando volv<strong>as</strong> a oírla me avis<strong>as</strong>, me gustaría saber lo que dice (...)”.<br />

68

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!