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a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

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individual quanto no histórico/social. Tais recordações se centram em um eixo que<br />

movimenta os perso<strong>na</strong>gens à sua volta com uma linguagem dura, como se fosse a extensão da<br />

paisagem apresentada e da dureza do protagonista Pedro Páramo. O mundo da <strong>na</strong>rrativa é<br />

complexo. Estão presentes conflitos <strong>de</strong> toda índole, ganância, miséria, volência e <strong>morte</strong>. Tudo<br />

consiste em lembranç<strong>as</strong> <strong>de</strong> um p<strong>as</strong>sado difícil, apoiado no trágico e enigmático da história que<br />

continua oprimindo no presente, no além-da-<strong>morte</strong>.<br />

Pedro Páramo foi o romance <strong>de</strong> maior repercussão nos países <strong>de</strong> língua espanhola<br />

“pues constituye un antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>l realismo mágico 149 ”. O romance continua sendo um<br />

referente para que se entendam os processos <strong>de</strong> mitificação da cultura <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>, pois<br />

a literatura é o espaço que reflete a cultura <strong>de</strong> uma <strong>na</strong>ção. Segundo o mesmo crítico: como<br />

produto literário, Pedro Páramo é uma espécie <strong>de</strong> rito, porém fechado em si, repleto <strong>de</strong><br />

significado. Portanto, só por meio da totalida<strong>de</strong> dos componentes míticos será possível sua<br />

interpretação.<br />

Conforme David García Perez (2000), Rulfo sentiu-se com absoluta liberda<strong>de</strong> para sair<br />

do padrão do romance realista tradicio<strong>na</strong>l 150 e utilizar um mundo cheio <strong>de</strong> fant<strong>as</strong>m<strong>as</strong> e<br />

rumores, sem preocupações com a or<strong>de</strong>m cronológica. São ess<strong>as</strong> postur<strong>as</strong> que combi<strong>na</strong>m com<br />

seus perso<strong>na</strong>gens e cenários, que complementam <strong>as</strong> crític<strong>as</strong> que ele fez.<br />

Nessa <strong>obra</strong> vale o não-tempo, o tempo comum da <strong>morte</strong>: “El reloj <strong>de</strong> la iglesia dio l<strong>as</strong><br />

hor<strong>as</strong>, u<strong>na</strong> trás otra, u<strong>na</strong> trás otra, como si se hubiera encojido el tiempo 151 ”. Os tempos, em<br />

termos <strong>de</strong> <strong>na</strong>rrativa, são fragmentados e, simultaneamente, relacio<strong>na</strong>dos pela ausência do<br />

tempo - ou tempo da <strong>morte</strong> ou da confusão própria dos murmúrios. O que une os perso<strong>na</strong>gens<br />

é exatamente o que eles têm em comum: o não-tempo, o tempo da <strong>morte</strong>. O <strong>na</strong>rrador organiza<br />

esse caos <strong>de</strong> vozes que são <strong>na</strong>rrad<strong>as</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro 152 , e que são constantes e permanentes.<br />

Organiza também os movimentos contínuos dos perso<strong>na</strong>gens com uma presença muito<br />

discreta. Tor<strong>na</strong> “o ponto <strong>de</strong> vista imanente à metéria <strong>na</strong>rrada; o modo <strong>de</strong> <strong>na</strong>rrar tor<strong>na</strong>-se<br />

orgânico em relação ao que se <strong>na</strong>rra 153 ”. O tom do discurso é meditativo. É recordação<br />

angustiada <strong>de</strong> um tempo difícil que apagou <strong>as</strong> fronteir<strong>as</strong> entre a vida e a <strong>morte</strong>. Apagou o<br />

149<br />

PÉREZ, D. García. Literatura en Latinoamérica. México: Ediciones Coyacan, 2000, p. 9. “(...) pois<br />

constitui um antece<strong>de</strong>nte do realismo mágico”.<br />

150<br />

MASSAUD, Moisés. Dicionário <strong>de</strong> termos literários, Cultrix São Paulo 1974 - O romance caracteriza-se<br />

pela pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ações que se inter-relacio<strong>na</strong>m, estabelecendo, com a realida<strong>de</strong>, permanente intercâmbio.<br />

151<br />

RULFO, Juan. Obra completa. 2ªed. Carac<strong>as</strong>: Biblioteca Ayacucho, 1985, p.118. “O relógio da igreja<br />

marcou <strong>as</strong> hor<strong>as</strong>, uma atrás da outra, uma atrás da outra, como se se houvesse encolhido o tempo”.<br />

152<br />

ARRIGUCCI Jr., Davi. Enigma e comentário. São Paulo: Companhia d<strong>as</strong> Letr<strong>as</strong>, 1987, p.168.<br />

153<br />

COSTA, Walter C. e Rafael C. Alcaraz. Entrevista com Davi Arrigucci Jr. In: Fragmentos. Florianópolis, nº<br />

27, 2005, p. 134.<br />

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