13.05.2013 Views

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

um cacho vivo que não precisa ser pisado para verter esse branco sangue que é a lágrima (...)<br />

não é possível ver a <strong>morte</strong> e continuar como antes 55 ”.<br />

Nesse fragmento, Saramago expressa a condição huma<strong>na</strong> sofredora frente à realida<strong>de</strong><br />

da <strong>morte</strong> dos entes queridos, quando o homem muit<strong>as</strong> vezes sente-se dilacerado.<br />

Em O Desconhecido e Mãos Vazi<strong>as</strong>, <strong>de</strong> Lúcio Cardoso (2000), lê-se sobre o<br />

perso<strong>na</strong>gem José Roberto: “(...) vira a <strong>morte</strong> entrar nos seus aposentos abafados, <strong>as</strong> vid<strong>as</strong> se<br />

suce<strong>de</strong>rem, <strong>as</strong> faces p<strong>as</strong>sarem (...) 56 ”. A reflexão feita pelo perso<strong>na</strong>gem manifesta e reflete, <strong>de</strong><br />

algum modo, o comportamento humano diante da <strong>morte</strong>, principalmente quando se trata <strong>de</strong><br />

alguém que já viveu vários anos observando a vida.<br />

Em El Zorro <strong>de</strong> arriba y el Zorro <strong>de</strong> abajo, José Maria Argued<strong>as</strong> (1969), estando já<br />

muito enfermo quando escrevia esta <strong>obra</strong>, <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>-se dos seus alunos e coleg<strong>as</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

com <strong>as</strong> seguintes palavr<strong>as</strong>: “Me retiro ahora porque siento, he comprobado que ya no tengo<br />

energía e ilumi<strong>na</strong>ción para seguir trabajando, es <strong>de</strong>cir, para justificar la vida 57 ”. Aqui o<br />

suicídio se apresenta como solução que dá fim ao sofrimento.<br />

Em Os sofrimentos do jovem Werter, romance <strong>de</strong> Goethe (1970), se lê: “Ao meio-dia,<br />

Werther expirou (...). Às onze hor<strong>as</strong> da noite, (Bailio) mandou sepultar o cadáver <strong>de</strong> Werther<br />

no exato local que este escolhera 58 ”.<br />

Antes <strong>de</strong> tirar a própria vida, Werther escreveu para Carlota, contando-lhe que havia<br />

escrito ao pai <strong>de</strong>le e que lhe pedia que zel<strong>as</strong>se por seu cadáver e o sepult<strong>as</strong>se “no cemitério, no<br />

fundo daquele ângulo que dá para a campi<strong>na</strong> (...), é ali que <strong>de</strong>sejo repousar 59 ”. Werther, <strong>na</strong><br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver com a mulher amada, preferiu a <strong>morte</strong>.<br />

Tanto no fragmento anterior como neste fragmento, observa-se que refugiar-se <strong>na</strong><br />

<strong>morte</strong> é um modo <strong>de</strong> dar fim ao sofrimento. O suicídio aparece como o limite último <strong>de</strong> uma<br />

trajetória <strong>de</strong> luta entre o sofrimento intenso - moral ou físico - e a busca do alívio. Quando<br />

este não vem, o <strong>de</strong>sespero po<strong>de</strong> chegar ao extremo da fatalida<strong>de</strong>. Ernesto Sábato -<br />

conversando com Borges, sobre o suicídio - consi<strong>de</strong>ra esta ação um ato egoísta, pois o suicida<br />

não pensou no sofrimento dos que ficaram 60 .<br />

55<br />

SARAMAGO José. O Evangelho segundo Jesus Cristo. São Paulo: Comp. D<strong>as</strong> Letr<strong>as</strong>, 2005. P.<br />

138;144;165.<br />

56<br />

CARDOSO, Lúcio. O Desconhecido e Mãos Vazi<strong>as</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civilização Br<strong>as</strong>ileira: 2000, p. 46.<br />

57<br />

ARGUEDAS, J. Maria. El zorro <strong>de</strong> arriba y el zorro <strong>de</strong> abajo. Lima: Editorial Horizonte, 1983. “Retiro-me<br />

agora porque sinto, comprovei que já não tenho energia e ilumi<strong>na</strong>ção para seguir trabalhando, quer dizer, para<br />

justificar a vida”.<br />

58<br />

WOLFGANG, Johann Goethe Os sofrimentos <strong>de</strong> Werther. Ediouro 1970, p.138.<br />

59<br />

I<strong>de</strong>m, p. 134<br />

60<br />

CRISTALDO, Janer. Mensageiros d<strong>as</strong> fúri<strong>as</strong> uma leitura camusia<strong>na</strong> <strong>de</strong> Ernesto Sábato trad. Tania Koetz<br />

Edit. Da UFSC Fpolis. 1983 p.51<br />

38

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!