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a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

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sente solitário, órfão, <strong>de</strong>sprotegido, sem teto, sem alimento - como Macário, protagonista <strong>de</strong><br />

Macário (conto) - sem-terra e, por que não, sem corpo, como os habitantes <strong>de</strong> Comala.<br />

O universo ficcio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> El Llano en Llam<strong>as</strong> são povoados <strong>de</strong>sabitados dos campos <strong>de</strong><br />

Jalisco, no centro-oeste do México. Igualmente percebe-se a infertilida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> terr<strong>as</strong>, a miséria<br />

a que foram submetidos esses povos, evocados pelos perso<strong>na</strong>gens que constantemente vagam<br />

<strong>de</strong> um lugar para outro sem saber on<strong>de</strong> querem chegar. Por vezes, permanecem sentados,<br />

acompanhando o sol, do n<strong>as</strong>cer ao oc<strong>as</strong>o, enquanto esperam pela <strong>morte</strong> como alívio da vida.<br />

Esse panorama literário não é pura ficção, pois Rulfo se inspirou <strong>na</strong> realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> povos<br />

empobrecidos. Perdidos no abandono, provocado pela diáspora. A gran<strong>de</strong> maioria não<br />

encontrou alter<strong>na</strong>tiva, a não ser a <strong>de</strong> abando<strong>na</strong>r su<strong>as</strong> terr<strong>as</strong> para sobreviver noutro lugar.<br />

Situação esta, provocada pelo processo pós-revolucionário que causou tanta violência e tant<strong>as</strong><br />

<strong>morte</strong>s - que <strong>de</strong>ixaram muitos órfãos. É, portanto, a orfanda<strong>de</strong> um dos <strong>as</strong>pectos sobre o qual<br />

giram vários contos e perso<strong>na</strong>gens. Neles, a figura do pai representa apen<strong>as</strong> uma presença<br />

odiada ou permanente sauda<strong>de</strong>.<br />

Enquanto em Pedro Páramo, os perso<strong>na</strong>gens não po<strong>de</strong>m amar, estão fadados à <strong>morte</strong>.<br />

Para eles o céu está fechado. É a vida, um inferno. Por tudo e pelo <strong>na</strong>da mais, optar pela <strong>morte</strong><br />

é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> vida. Melhor-vida. Assim encontra-se Eduvigis Dyada, que<br />

optou pelo suicídio. No romance, os vivos parecem mortos, da mesma forma que os mortos<br />

parecem vivos.<br />

E se o amor está ausente dá espaço ao rancor. Juan Preciado dá-se conta que também é<br />

filho do <strong>de</strong>samor. Reclama. Sofre. Fica inseguro. Não encontra o que buscava. Monologa<br />

então: “Hubiera querido <strong>de</strong>cirle: Te equivoc<strong>as</strong>te <strong>de</strong> domicilio. Me diste uma dirección mal<br />

dada. Me mand<strong>as</strong>te al ‘¿don<strong>de</strong> es esto y don<strong>de</strong> es aquello?’ A un pueblo solitario. Buscando a<br />

alguien que no existe 85 ”. Juan Preciado precisava morrer para conhecer o pai. De acordo com<br />

Florence Oliver, é <strong>na</strong> <strong>morte</strong> que existe um “<strong>de</strong>velamiento <strong>de</strong> la verdad 86 ”. Foi da sepultura<br />

compartilhada com Dorotea que Juan Preciado ficou sabendo que seu pai foi o que foi.<br />

Portanto, vida e <strong>morte</strong> estão imbricad<strong>as</strong> para a realização do <strong>de</strong>sejo do filho - que foi<br />

recrutado para que o objetivo se cumprisse. N<strong>as</strong> sepultur<strong>as</strong> há movimento. Pedro Páramo é o<br />

motor movente. Não <strong>de</strong>ixa os mortos quietos. Juan Preciado e Dorotea fazem silêncio para<br />

bem ouvirem os companheiros do cemitério. É o único jeito possível para conhecerem <strong>as</strong><br />

85 I<strong>de</strong>m p. 113. “Havia querido dizer-lhe: Te equivoc<strong>as</strong>-te <strong>de</strong> domicílio. Me <strong>de</strong>ste o en<strong>de</strong>reço errado. Me<br />

mand<strong>as</strong>te para on<strong>de</strong> é isto e on<strong>de</strong> é aquilo? A um povo solitário. Buscando a alguém que não existe”.<br />

86 PARDO, D.Irma U<strong>na</strong> estrella hinchada <strong>de</strong> noche. In: MENA, S. López (org.). Revisión Crítica <strong>de</strong> la <strong>obra</strong> <strong>de</strong><br />

Rulfo. México, D. F.: Praxis Editorial, 1998, p. 83. “(...) e <strong>na</strong> <strong>morte</strong> que existe um <strong>de</strong>svelamento da verda<strong>de</strong>”.<br />

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