a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ameaça ultrap<strong>as</strong>sa seu limite. Nessa circunstância, a fatalida<strong>de</strong> configura-se como a saída,<br />
encontrada pela perso<strong>na</strong>gem.<br />
Não se po<strong>de</strong>ria esquecer <strong>de</strong> Don Quixote <strong>de</strong> la mancha <strong>de</strong> Miguel <strong>de</strong> Cervantes<br />
(2000), no seu leito <strong>de</strong> <strong>morte</strong>, enquanto aguarda morrer a qualquer instante Don Quixote<br />
aproveita para pedir perdão a Sancho Pança e agra<strong>de</strong>ce-lhe a simplicida<strong>de</strong> e a paciência que<br />
este teve com seu amo, acompanhando-o sempre em su<strong>as</strong> aventur<strong>as</strong>; ao que Sancho<br />
renpon<strong>de</strong>u: “No se muera vuestra merced, Senhor mio, sino tome mi consejo, y viva muchos<br />
años, porque la mayor locura que pue<strong>de</strong> hacer un hombre en esta vida es <strong>de</strong>jarse morir, sin<br />
más ni más, sin que <strong>na</strong>die le mate, ni otr<strong>as</strong> manos le acaben que l<strong>as</strong> <strong>de</strong> la melancolía 70 ”.<br />
O homem enfermo procura encontrar-se, avaliar sua vida fazendo uma retrospecção.<br />
Estar sozinho força o homem a entrar em contato consigo mesmo, sentir-se, dar-se atenção e<br />
pensar <strong>na</strong> proximida<strong>de</strong> da própria <strong>morte</strong>, que é intransferível.<br />
Os fragmentos anteriormente <strong>de</strong>stacados são indicativos <strong>de</strong> que a literatura - <strong>na</strong> sua<br />
arte <strong>de</strong> expressar os sentimentos e realida<strong>de</strong>s human<strong>as</strong> - dá conta <strong>de</strong> exteriorizar seus anseios,<br />
valores e su<strong>as</strong> crenç<strong>as</strong>. E por <strong>as</strong>sim ser, encerraremos essa reflexão com um fragmento <strong>de</strong><br />
Cristo Rafael Figueroa, no qual o autor expõe seu modo <strong>de</strong> ver a literatura:<br />
Toda la literatura y la novela, al querer llegar a lo más profundo <strong>de</strong>l hombre y<br />
expresarlo, no pue<strong>de</strong> prescindir en ningún momento <strong>de</strong> la espiritualidad <strong>de</strong> aquél,<br />
espiritualidad que lo cuestio<strong>na</strong> y lo lanza a u<strong>na</strong> transcen<strong>de</strong>ncia dadora <strong>de</strong> sentido<br />
(...). La novela, como todo gran arte, brota <strong>de</strong> la entrega total <strong>de</strong>l hombre, y <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> esa totalidad se encuentra su ser religioso, su ser re-ligare, siempre presente como<br />
afirmación profunda <strong>de</strong> fe o como duda inquietante (...) 71 .<br />
A reflexão <strong>de</strong>sses fragmentos permite constatar que <strong>morte</strong> e vida estão imbricad<strong>as</strong>, que<br />
uma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da outra e que a arte literária foca olhares profundos para o tema <strong>morte</strong>-vida -<br />
como se lanç<strong>as</strong>se gritos <strong>na</strong> noite. Permite-nos constatar também que o temor da <strong>morte</strong><br />
instigou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre o homem e que este inspecio<strong>na</strong> cuidadosamente o seu sentido. Os<br />
70 CERVANTES, Miguel <strong>de</strong>. Don Quijote <strong>de</strong> la mancha v. Ll Rd.<strong>de</strong> John Jay Allen Ed. Vigésimo primeira Ed.<br />
Cátedra Madrid 2000 p. 575 – “Que vossa mercê não morra, meu senhor, aceite meu conselho e viva muitos<br />
anos, porque a maior loucura que po<strong>de</strong> fazer um homem nesta vida é <strong>de</strong>ixar-se morrer, por qualquer coisa, sem<br />
que o matem, nem outr<strong>as</strong> mãos o acabem a não ser <strong>as</strong> da melancolia”.<br />
71 FIGUEROA, Rafael (org.). ¿Agoniza Dios? La problemática <strong>de</strong> Dios en la novela Latinoamerica<strong>na</strong><br />
Bogotá: CELAM, 1988, p. 277. “Toda a literatura e o romance, ao querer chegar ao mais profundo do homem e<br />
expressá-lo, não po<strong>de</strong> prescindir em nenhum momento da espiritualida<strong>de</strong> daquele, espiritualida<strong>de</strong> que questio<strong>na</strong><br />
e lança à transcendência doadora <strong>de</strong> sentido (...). O romance, como toda gran<strong>de</strong> arte, brota da entrega total do<br />
homem, e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta totalida<strong>de</strong> se encontra seu ser religioso, seu ser re-ligare, sempre presente como afirmação<br />
profunda <strong>de</strong> fé ou como dúvida inquietante (...)”.<br />
41