a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Entre outr<strong>as</strong> recordações, Susa<strong>na</strong> lembrava também que fecharam a sepultura com<br />
areia molhada e que “bajaron el cajón <strong>de</strong>spacio, con la paciência <strong>de</strong> su oficio (...)”. Percebe-se<br />
como Susa<strong>na</strong> fala pouco, porém, é gran<strong>de</strong> observadora e tem boa memória. Referindo-se à<br />
Justi<strong>na</strong>, diz que esta pegou o dinheiro do lenço ume<strong>de</strong>cido <strong>de</strong> lágrim<strong>as</strong> e pagou o funeral.<br />
Lembra ainda <strong>de</strong> quando se <strong>de</strong>itava <strong>na</strong> mesma cama em que sua mãe morreu e que estava<br />
tapada com o mesmo cobertor que se cobria para aconchegar-se nos seus braços “creo sentir<br />
la misma pe<strong>na</strong> <strong>de</strong> su muerte (...) pero eso es falso”. Sente que não está <strong>de</strong>itada por pouco<br />
tempo e nem <strong>na</strong> cama, m<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ataú<strong>de</strong> preto - igual ao que se usa para enterrar os<br />
mortos. Porque está morta. Afirma. Ainda referindo-se a Justi<strong>na</strong>: “Y cuando ellos se fueron, te<br />
arrodill<strong>as</strong>te en el lugar don<strong>de</strong> había quedado su cara y bes<strong>as</strong>te la tierra y podrí<strong>as</strong> haber abierto<br />
un agujero, si yo no te hubiera dicho: vámonos, Justi<strong>na</strong>, ella está en outra parte, aquí no hay<br />
más que u<strong>na</strong> cosa muerta 185 ”.<br />
Nada do que se viveu é esquecido. Tudo é motivo <strong>de</strong> recordações e, portanto, <strong>de</strong><br />
sofrimento. A mãe está viva - <strong>na</strong> memória igualmente viva <strong>de</strong> sua filha, Susa<strong>na</strong> san Juan.<br />
3.5.4 Miguel Páramo (Miguelito)<br />
Já <strong>na</strong> <strong>morte</strong> e <strong>na</strong> repercussão da <strong>morte</strong> <strong>de</strong> Miguel Páramo - Miguelito, como o pai o<br />
chamava - há um ponto absolutamente particular: o fato <strong>de</strong> ele ter sido pintado, <strong>na</strong>da<br />
sutilmente, como uma extensão do próprio Pedro Páramo - no que se refere às falcatru<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />
toda or<strong>de</strong>m. O padre Renteria, por exemplo, conhece <strong>de</strong> perto Miguel Páramo e tem razões<br />
suficientes para <strong>de</strong>testá-lo, pois Miguelito matou seu irmão e violou sua sobrinha. E ainda<br />
fazia conchavos com Dorotea para conseguir garot<strong>as</strong>. O padre também sabia - por meio da<br />
confissão <strong>de</strong> seus paroquianos - <strong>de</strong> outros crimes cometidos por Miguelito.<br />
Miguel ficou órfão <strong>de</strong> mãe ao n<strong>as</strong>cer, foi educado pelo pai e seus funcionários.<br />
Cresceu como uma erva daninha. Quando caiu do cavalo “Colorado”, Miguel estava voltando<br />
da c<strong>as</strong>a da <strong>na</strong>morada. Imediatamente após a queda, sua alma aparece à Eduviges Dyada,<br />
<strong>de</strong>screvendo sua <strong>morte</strong>. O que <strong>de</strong> fato era real. Quanto ao Pai, tomando ciência da <strong>morte</strong> do<br />
filho, logo se encheu <strong>de</strong> rancor e quis saber quem o havia matado. Fulgor Sedano, por sua vez,<br />
acalmou-o, dizendo-lhe que o próprio Miguelito havia encontrado a <strong>morte</strong>, quando forçou<br />
185 I<strong>de</strong>m, p.161“E quando eles foram, ajoelh<strong>as</strong>te no lugar on<strong>de</strong> havia ficado seu rosto e beij<strong>as</strong>te a terra, po<strong>de</strong>ri<strong>as</strong><br />
ter aberto um buraco, se eu não tivesse dito: vamos Justi<strong>na</strong>, ela está noutra parte, aqui apen<strong>as</strong> há uma coisa<br />
morta”.<br />
77