13.05.2013 Views

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

qu<strong>as</strong>e sempre há maldição. N<strong>as</strong> lágrim<strong>as</strong> e <strong>na</strong> <strong>morte</strong>, <strong>as</strong>sumiu sua condição. O dinâmico<br />

Ig<strong>na</strong>cio p<strong>as</strong>sou lentamente para a imobilida<strong>de</strong> progressiva, rumo à <strong>morte</strong>.<br />

O <strong>na</strong>rrador sugere também a presença mater<strong>na</strong>l nessa caminhada, em busca <strong>de</strong> cura.<br />

Nesse sentido Rufinelli afirma:<br />

La figura <strong>de</strong> la madre intercesora (...) aparece much<strong>as</strong> veces colocándose entre padre<br />

e hijo, en un esfuerzo por evitar que la maldad <strong>de</strong>l padre se transmita a sus criatur<strong>as</strong><br />

(...). (Não só há) la necesidad <strong>de</strong> encontrar nuevamente el afecto negado <strong>de</strong>l padre<br />

(...) sino también (<strong>de</strong> resolver) la situación básica que separa el padre –frío,<br />

inexpresivo, ‘machista’ – <strong>de</strong> los hijos que procrea c<strong>as</strong>i sin <strong>de</strong>searlos 96 .<br />

Nessa e em outr<strong>as</strong> <strong>na</strong>rrativ<strong>as</strong>, Rulfo <strong>de</strong>ixa claro que a ausência do amor paterno<br />

imprime <strong>na</strong> alma dos filhos um sabor amargo: perda <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, marca que marca toda a<br />

vida do indivíduo. A pessoa sente su<strong>as</strong> raízes arrancad<strong>as</strong> da terra. E isso a impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer e<br />

dar frutos doces. A falta <strong>de</strong> referência e mo<strong>de</strong>lo os coisifica. Proíbe-os <strong>de</strong> avançar. Nesse<br />

sentido, também se lê em Diles que no me maten! “Es algo difícil crecer sabiendo que la<br />

cosa <strong>de</strong> don<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos agarrarnos para enraizar está muerta 97 ”.<br />

A presença da lua é constante, marcante e doadora <strong>de</strong> ânimo. É luz que evoca a<br />

presença da memória mater<strong>na</strong>. Em cinco momentos <strong>de</strong>ssa <strong>na</strong>rrativa, o <strong>na</strong>rrador <strong>de</strong>staca sua<br />

exuberante presença. Deste modo lê-se: “La lu<strong>na</strong> iba subiendo, <strong>de</strong> la tierra, como u<strong>na</strong><br />

llamarada redonda”. Mais adiante, informa que a lua estava ali, banhando-os <strong>de</strong> luz: “c<strong>as</strong>i<br />

azul, sobre un cielo claro, gran<strong>de</strong> y colorada. La cara <strong>de</strong>l viejo, mojada en sudor, se llenó <strong>de</strong><br />

luz 98 ”.<br />

À primeira manifestação da lua, o pai se lembra da esposa falecida. Diz o <strong>na</strong>rrador que<br />

o homem escon<strong>de</strong>u os olhos para não olhá-la <strong>de</strong> frente, pois, segundo o mesmo, o homem não<br />

podia abaixar a cabeça por causa d<strong>as</strong> mãos do filho, que carregava nos ombros. A presença<br />

lua-mãe dá ao pai energia para dizer a Ig<strong>na</strong>cio que o leva para curar em nome <strong>de</strong> sua mãe. A<br />

mãe-lua parece pedir em nome do filho. E o pai obe<strong>de</strong>ce em nome da mãe. Assim, durante<br />

todo o percurso a lua-mãe os acompanha <strong>de</strong> frente. Sua função é guiá-los pelo caminho certo<br />

até To<strong>na</strong>ya. Guiar e dar forç<strong>as</strong>, encher <strong>de</strong> esperança e luz os caminhos da noite-escura do pai.<br />

96 RULFO, Juan. Obra Completa. 2ª ed. Carac<strong>as</strong>: B. Ayacucho, 1985, p. XX. “A figura da mãe intercessora (...)<br />

aparece muit<strong>as</strong> vezes colocando-se entre pai e filho (...) em um esforço por evitar que a malda<strong>de</strong> do pai se<br />

transmita para seus filhos (...). Não só há existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar novamente o afeto negado do pai e<br />

também a resolução da situação básica que separa o pai – frio, inexpressivo, ‘machista’- dos filhos que procria,<br />

qu<strong>as</strong>e sem <strong>de</strong>sejá-los”.<br />

97 I<strong>de</strong>m, p. 58. “É difícil crescer sabendo que a coisa em que po<strong>de</strong>mos nos agarrar para crescer está morta”.<br />

98 RULFO, Juan. Obra Completa. 2ª ed, Carac<strong>as</strong>: Biblioteca Ayacucho, 1985, p.75. A lua ia subindo, da terra,<br />

como uma chama redonda (...) A lua ia subindo, qu<strong>as</strong>e azul, sobre um céu claro. A cara do velho, molhada <strong>de</strong><br />

suor, se encheu <strong>de</strong> luz”.<br />

51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!