a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
a morte e as mortes na obra de juan rulfo - Universidade Federal de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sobre Susa<strong>na</strong> e disse-lhe: “V<strong>as</strong> a ir a la presencia <strong>de</strong> Dios (...) 180 ”. O padre Renteria, para<br />
cumprir um ritual, dá à Susa<strong>na</strong> a comunhão, que ao engolir disse: ‘Hemos p<strong>as</strong>ado un rato muy<br />
feliz, Florencio 181 ”. Depois se afundou nos lençóis - como quem <strong>de</strong>sce à sepultura. Ao ouvir o<br />
choro <strong>de</strong> Justi<strong>na</strong>, Susa<strong>na</strong> pediu-lhe que fosse chorar noutra parte. Em seguida, sentiu a cabeça<br />
afundar-se em seu próprio ventre, como se estivesse <strong>de</strong>ntro da noite-<strong>morte</strong>.<br />
Não é por ac<strong>as</strong>o que o <strong>na</strong>rrador coloca a <strong>morte</strong> <strong>de</strong> Susa<strong>na</strong> numa manhã <strong>de</strong> oito <strong>de</strong><br />
Dezembro. A Igreja Católica celebra, nesse dia, a Imaculada Conceição <strong>de</strong> Maria. Segundo a<br />
tradição católica, Maria <strong>de</strong> Nazaret por ser Imaculada não morreu; apen<strong>as</strong> adormeceu e foi<br />
levada ao céu pelos anjos, em corpo e alma. À semelhança <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Nazaret, o <strong>na</strong>rrador<br />
não fala da <strong>morte</strong>, apen<strong>as</strong> dá a enten<strong>de</strong>r ao afirmar que Susa<strong>na</strong> San Juan “(...) cada vez se<br />
volcaba más como si se hundiera en la noche 182 ”. Depois do sepultamento <strong>de</strong> Susa<strong>na</strong>, Pedro<br />
Páramo p<strong>as</strong>sava os di<strong>as</strong> sentado, olhando o caminho que dava para o cemitério. “Yo aqui,<br />
junto a la puerta mirando el amanecer y mirando cuando te ib<strong>as</strong>, siguiendo el camino <strong>de</strong>l<br />
cielo; por don<strong>de</strong> el cielo comenzaba a abrirse en luces, alejándote, cada vez más <strong>de</strong>stenhida<br />
entre l<strong>as</strong> sombr<strong>as</strong> <strong>de</strong> la tierra 183 .<br />
Susanita sobrevive <strong>na</strong> recordação <strong>de</strong> vários perso<strong>na</strong>gens. Entretanto é, principalmente,<br />
<strong>na</strong> memória afetiva <strong>de</strong> Pedro Páramo que a imagem <strong>de</strong> Susa<strong>na</strong> permanece viva.<br />
3.5.3 Mãe <strong>de</strong> Susa<strong>na</strong> San Juan<br />
A mãe <strong>de</strong> Susa<strong>na</strong> morreu tuberculosa. Susa<strong>na</strong> lembra que <strong>as</strong> ca<strong>de</strong>ir<strong>as</strong> que foram<br />
preparad<strong>as</strong> para o velório ficaram vazi<strong>as</strong>. Ningúem foi vê-la. Aquela tristeza contr<strong>as</strong>tava com<br />
a manhã cheia <strong>de</strong> vento, pardais e uma luz azul. A filha comtempla a mãe-morta e reflete:<br />
“mi madre sóla en médio <strong>de</strong> los círios, su cara pálida y sus dientes blancos <strong>as</strong>omando-se<br />
apenit<strong>as</strong> sus lábios morados, endurecidos por la amaratada muerte (...) “<strong>as</strong>i estuvo mejor. La<br />
muerte no se reparte como si fuera un bien. Nadie anda en busca <strong>de</strong> tristez<strong>as</strong> 184 ”.<br />
180<br />
I<strong>de</strong>m, p. 187 “Vais à presença <strong>de</strong> Deus”.<br />
181<br />
I<strong>de</strong>m, p. 184 “P<strong>as</strong>samos um momento muito feliz, Florencio”.<br />
182<br />
I<strong>de</strong>m, p. 188 “cada vez tombava mais como se penetr<strong>as</strong>se <strong>na</strong> noite”.<br />
183<br />
I<strong>de</strong>m, p. 190 “Eu aqui, junto à porta, olhando o amanhecer e olhando quando tu te i<strong>as</strong>, seguindo o caminho do<br />
céu; por on<strong>de</strong> o céu começava a abrir-se em luzes, distanciando-te entre <strong>as</strong> sombr<strong>as</strong> da terra”.<br />
184<br />
I<strong>de</strong>m, p. 161 “<strong>as</strong>sim esteve melhor. A <strong>morte</strong> não se reparte como se fosse um bem. Ninguém anda buscando<br />
tristez<strong>as</strong>”.<br />
76