O ATENEU Raul Pompéia I “Vais encontrar o mundo, disse-me meu ...
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assuntos, murmarações esmoídas, escabrosidades pulverizadas,<br />
trituradas malícias, algumas vezes malícias ingênuas se é possível,<br />
caracterizando-se no conciliábulo o azedu<strong>me</strong> tagarela do cansaço<br />
podre de um ano, confor<strong>me</strong> a psicologia de cada salão.<br />
Os dormitórios apelidavam-se poetica<strong>me</strong>nte, segundo a decoração<br />
das paredes: salão pérola, o das crianças policiado por uma velha,<br />
mirrada e má, que erigira o beliscão em preceito único disciplinar,<br />
olhos mínimos, chispando, boca sumida entre o nariz e o queixo,<br />
garganta escarlate, uma população de verrugas, cabeça penugenta de<br />
gipaeto sobre um corpo de bruxa; salão azul, amarelo, verde, salão<br />
floresta, dos ramos do papel, aos quais se recolhia a classe inu<strong>me</strong>rável<br />
dos médios. O salão dos grandes, independente do edifício, sobre o<br />
estudo geral, conhecia-se pela denominação a<strong>me</strong>na de chalé. O chalé<br />
fazia vida em separado e misteriosa.<br />
O policia<strong>me</strong>nto dos dormitórios competia aos diversos inspetores,<br />
conveniente<strong>me</strong>nte distribuídos.<br />
Na época atenuavam-se os zelos da policia. O próprio gipaeto do<br />
pérola batia as asas para a folia, uma inocente folia de noventa anos.<br />
A palestra corria desassombrada.<br />
Deitavam-se uns a uma cama, outros cercavam agrupados nas<br />
camas próximas e atacavam os assuntos:<br />
No salão dos médios:<br />
“D. Ema... D. Ema... não se murmura à toa... Reparem na maneira<br />
de falar do Crisóstomo... Tem motivo, um rapagão... Palavra que os<br />
apanhei sozinhos, juntinhos, conversando, a distancia de um beijo...”<br />
— O <strong>me</strong>lhor é que o Crisóstomo não vai para a rua... Que diabo,<br />
nem tanto vale o grego, que se pague a beijocas descontadas pela<br />
mulher... tenho para mim que o negócio ainda acaba mal e<br />
porca<strong>me</strong>nte, kakós kai ruparós, com uma estralada...<br />
— Ora, diretores! empresários! fabricantes de ciência barata e<br />
prodígios de carregação, com que empulham os papais basbaques... O<br />
que querem é a freqüência do negócio... Falam cá em anúncios...<br />
Mulher ao balcão... Que chamariz, uma carinha sedutora! Eu por mim,<br />
se fosse diretor, inaugurava um Kindergarten para taludos; uma bonita<br />
diretora à testa e quatro adjuntas amáveis... Não haveria nhonhô