O ATENEU Raul Pompéia I “Vais encontrar o mundo, disse-me meu ...
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mônada, solidária para a morte e para as reconstruções imperecíveis<br />
da Terra.<br />
O ho<strong>me</strong>m final<strong>me</strong>nte — ventre, coração e cérebro, política,<br />
poemas, critério; a alma, universo de universo, imagem de Deus,<br />
refletor i<strong>me</strong>nso, antropocêntrico, do dia, das cores, que o Sol inflama,<br />
que o Sol não sente.<br />
Falava uma vez sobre educação.<br />
Discutiu a questão do internato. Divergia do parecer vulgar, que o<br />
condena.<br />
É uma organização imperfeita, aprendizagem de corrupção,<br />
ocasião de contato com indivíduos de toda origem? O <strong>me</strong>stre é a<br />
tirania, a injustiça, o terror? O <strong>me</strong>reci<strong>me</strong>nto não tem cotação,<br />
cobrejam as linhas sinuosas da indignidade, aprova-se a espionagem, a<br />
adulação, a humilhação, campeia a intriga, a maledicência, a calúnia,<br />
opri<strong>me</strong>m os prediletos do favoritismo, opri<strong>me</strong>m os maiores, os mais<br />
fortes, abundam as seduções perversas, triunfam as audácias dos<br />
nulos? A reclusão exacerba as tendências ingênitas?<br />
Tanto <strong>me</strong>lhor: é a escola da sociedade.<br />
Ilustrar o espírito é pouco; temperar o caráter é tudo. É preciso que<br />
chegue um dia a desilusão do carinho doméstico. Toda a vantagem em<br />
que se realize o mais cedo.<br />
A educação não faz almas: exercita-as. E o exercício moral não<br />
vem das belas palavras de virtude, mas do atrito com as<br />
circunstâncias.<br />
A energia para afrontá-las é a herança de sangue dos capazes da<br />
moralidade, felizes na loteria do destino. Os deserdados abatem-se.<br />
Ensaiados no microcosmo do internato, não há mais surpresas no<br />
grande <strong>mundo</strong> li fora, onde se vão sofrer todas as convivências,<br />
respirar todos os ambientes; onde a razão da maior força é a dialética<br />
geral, e nos envolvem as evoluções de tudo que rasteja e tudo que<br />
morde, porque a perfídia terra-terra é um dos processos mais eficazes<br />
da vulgaridade vencedora; onde o avilta<strong>me</strong>nto é quase sempre a<br />
condição do êxito, como se houvesse ascensões para baixo; onde o<br />
poder é uma redoma de chumbo sobre as aspirações altivas; onde a<br />
cidade é franca para as dissoluções babilônicas do instinto; onde o que