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O ATENEU Raul Pompéia I “Vais encontrar o mundo, disse-me meu ...

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transporte do prazer, reconciliaram-se; Barbalho saudou-<strong>me</strong><br />

fogosa<strong>me</strong>nte. Rômulo, já tonto, afastado das <strong>me</strong>sas, brindava o<br />

copeiro que lhe arranjara uma garrafa; depois brindou a noiva; o<br />

criado, bebendo também, tocou-lhe o copo.<br />

Como escurecia, o diretor fez o clarim chamar à forma.<br />

Debaixo do aguaceiro que não cessava, o colégio alinhou-se como<br />

bem pôde. Muitos, queixando-se de saúde delicada, obtiveram<br />

dispensa desta inoportuna disciplina de equilíbrio; seguiram adiante<br />

para o portão abrigado do jardim... Após, fomos os outros, em marcha<br />

regular, pingando de molhados. A fita ver<strong>me</strong>lha dos gorros desbotavase-nos<br />

pelo rosto em fios sanguíneos.<br />

Quando chegamos ao portão, já nos esperavam os bondes especiais.<br />

Do outro lado da rua, à entrada do conhecido restaurante, apareceu a<br />

família do Aristarco com alguns professores, que lá tinham jantado. D.<br />

Ema, pelo braço do Crisóstomo, a Melica altiva<strong>me</strong>nte só e<br />

distanciada.<br />

No colégio, tivemos ordem de subir a descanso nos dormitórios.<br />

Preventivo louvável de prudência, depois dos excessos e da<br />

tempestade sofrida. O descanso foi simples<strong>me</strong>nte um prolonga<strong>me</strong>nto<br />

da pândega do passeio. Para cessar a desordem, tocou-se a estudo...<br />

Baixamos ao salão geral. Aristarco, reassumindo a dureza olímpica da<br />

seriedade habitual, apresentou-se e perguntou aspera<strong>me</strong>nte se<br />

pretendíamos que a vida passasse a ser agora um piquenique perpétuo<br />

na desmoralização. Tacita<strong>me</strong>nte negamos e a tranqüilidade normal<br />

entrou nos eixos.<br />

Não sabíamos que, a essas horas, preparava o segredo da alta justiça<br />

uma trama de intrigas, que devia estragar em terrores a lembrança do<br />

grande passeio.<br />

A hora da ceia, na <strong>me</strong>sma porta em que se lia a gazetilha das aulas,<br />

sombrio como nunca, vagaroso como os compassos de réquiem,<br />

tétrico como o Juízo Final, entrou o diretor.<br />

Pausa preliminar, frêmito de sensação pelo refeitório: “Tenho a alma<br />

triste”, co<strong>me</strong>çou, cavernosa<strong>me</strong>nte. Uma cinta de trovões no horizonte,<br />

restos da tor<strong>me</strong>nta da tarde, faziam fundo às palavras em coro<br />

esquiliano.

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