VOLUME 19, NÚMERO 4 • OUTUBRO, NOVEMBRO ... - SBNPE
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outros elementos presentes na dieta testada, tais como gorduras<br />
e minerais 6 . Também, resultados contraditórios podem ter<br />
sido originados em diferenças nos protocolos experimentais,<br />
na quantidade e tipo de substância carcinogênica utilizada<br />
para induzir o tumor 6 .<br />
Hill <strong>19</strong> concluiu que muitos erros têm sido cometidos nos<br />
estudos sobre o efeito das fibras no câncer do cólon, entre eles<br />
especialmente a negligência sobre o efeito diferencial que<br />
fibras de diferentes origens têm no processo cancerígeno.<br />
A análise do efeito das fibras no câncer também não tem<br />
abordado a complexidade e variabilidade do câncer do cólon,<br />
o qual possui diferentes etiologias, dependendo se localizado<br />
no cólon proximal, distal ou no cólon retal, de forma<br />
que o aparecimento de adenomas não pode ser utilizado para<br />
predizer a habilidade de um nutriente em proteger contra o<br />
câncer de cólon 51 . Outra deficiência a ser sanada é a falta de<br />
estudos do butirato in vivo 39 .<br />
A mudança no foco dos estudos sobre o efeito da nutrição<br />
no câncer tem sido proposto por Rock et al. 52 , os quais<br />
argumentam que a recente e maior disponibilidade de dados<br />
sobre a origem da suscetibilidade ao câncer baseada em fatores<br />
genéticos, deve agora ser acompanhada da focalização dos<br />
efeitos da intervenção da dieta em indivíduos mais prováveis<br />
em serem beneficiários dessa dieta. Os mesmos autores apontam<br />
que historicamente, as estratégias para prevenir doenças<br />
como o câncer, objetivam e são desenvolvidas para a população<br />
em geral, envolvendo muito debate e discussão de prioridades,<br />
foco esse não adequado frente a limitação de recursos<br />
e ao efeito negativo da diluição dos esforços. Contudo,<br />
essa sugestão deve ser considerada de validade limitada para<br />
o caso do câncer do cólon, onde o fator genético tem pequena<br />
contribuição frente ao efeito da dieta.<br />
A aplicação das metodologias de estudo funcional do<br />
genoma pode também contribuir com importantes informações<br />
39 . A definição mais completa dos genes e mecanismos<br />
envolvidos poderá ser caracterizada mais detalhadamente por<br />
análises do transcriptoma e do proteoma em diferentes fases<br />
e tipos de câncer do cólon com o uso de diferentes níveis e<br />
tipos de fibras. Uma grande força tarefa para o estudo do<br />
genoma funcional do câncer já foi estabelecida em nível<br />
mundial e, provavelmente, tornará este tipo de informação<br />
disponível em breve, o que certamente fornecerá um quadro<br />
mais complexo e holístico dos mecanismos envolvidos.<br />
Desta forma, ainda não há um consenso satisfatório para<br />
a hipótese do efeito protetor das fibras na carcinogênese do<br />
cólon, visto a inconsistência dos dados que, de um lado,<br />
baseados em estudos clínicos e experimentais, demonstram<br />
1. Brouns F, Kettlitz B, Arrigoni E. Resistant starch and “the butyrate<br />
revolution”. Trends Food Scien Technol 2002;13(8):251-61.<br />
2. Schatzkin A. Going against the grain? Current status of the dietary<br />
fiber-colorectal cancer hypothesis. Biofactors 2000;12(1-4):305-11.<br />
3. Gibbs W. Raízes do câncer. Scien Americ Bras 2003:39-47.<br />
4. Griffiths A, Gelbart W, Miller J, Lewontin R. Modern genetic analysis. 2.<br />
ed. New York: Freeman, WH and Company, <strong>19</strong>99. p.675.<br />
5. Chapkin R, Fan Y-Y, Lupton JR. Effect of diet on colonic-programmed<br />
cell death: molecular mechanism of action. Toxicol Letters 2000;112-<br />
Referências bibliográficas<br />
Rev Bras Nutr Clin 2004; <strong>19</strong>(4):<strong>19</strong>6-202<br />
um claro efeito benéfico das fibras no câncer de cólon, e, por<br />
outro lado, alguns estudos epidemiológicos e de intervenção<br />
dietética mostram dados da inexistência do efeito da mesma.<br />
Sugestões para novas estratégias para esclarecer essas inconsistências<br />
foram propostas por Schatzkin 2 , como, por<br />
exemplo: estudos do efeito da fibra em modelos espontâneos<br />
de câncer animal (utilizando o camundongo MIN, por<br />
exemplo); investigações adicionais da complexidade ecológica<br />
e da fisiologia do cólon proximal; desenvolvimento de<br />
ensaios de carboidratos alcançando o cólon, com os dados das<br />
modificações resultantes na composição dos nutrientes; novos<br />
estudos da determinação da estrutura do erro nos instrumentos<br />
de análise da ingestão da fibra alimentar; estudos<br />
adicionais de prospecção envolvendo populações com<br />
ingestão heterogênea de fibra, conduzidos em áreas geográficas<br />
diversas, de forma a refletir a diversidade das fontes de<br />
fibra; estudos de intervenção da fibra alimentar em pessoas<br />
com predisposição hereditária para o câncer colorretal, de<br />
forma a testar o paradigma da interação dieta/gene neste tipo<br />
de câncer; repetição dos estudos feitos por Funchs et al. 18 , e<br />
estudos de intervenção da fibra alimentar em diversas áreas<br />
geográficas.<br />
Considerações finais<br />
Como conclusão, pode-se enfatizar que, apesar de não<br />
existir ainda um nível de consenso satisfatório sobre o efeito<br />
protetor das fibras na redução da carcinogênese do cólon, a<br />
maioria dos estudos bem conduzidos apontam para a confirmação<br />
desta hipótese e ademais que este efeito possa também<br />
depender da interação de outros fatores de forma sinérgica,<br />
ainda por serem desvendados.<br />
Analisado sob uma perspectiva mais ampla, pode-se<br />
considerar o consumo de fibras como eficiente na redução de<br />
risco do câncer somente quando acompanhado de outras<br />
estratégias ou estilos de vida, como aquelas definidas como<br />
estratégias para a prevenção do câncer pelo Fundo Mundial<br />
para a Pesquisa em câncer (World Cancer Research Fund,<br />
WCRF - www.wcrf-uk.org): 1) dieta rica em uma variedade<br />
de alimentos de origem vegetal; 2) alto consumo de vegetais<br />
e frutas; 3) manter um peso corporal saudável e um estilo de<br />
vida ativo; 3) não beber ou beber álcool com moderação; 4)<br />
dietas com baixo teor de gordura e sal; 5) preparo e<br />
armazenamento adequado dos alimentos. Neste contexto, há<br />
um consenso global na comunidade cientifica sobre a eficiência<br />
dessas estratégias na redução da incidência do câncer<br />
em geral.<br />
113:411-4.<br />
6. Lipkin M, Reddy B, Newmark H, Lamprecht SA. Dietary factors in<br />
human colorectal cancer. Annu Rev Nutr <strong>19</strong>99;<strong>19</strong>:545-86.<br />
7. Bedi A, Pasricha PJ, Alchtar AJ, Barber JP, Bedi GC, Giairdiello FM,<br />
Zehnbauer BA, Hamilton SR,<br />
Jones RJ. Inhibition of apoptosis during development of colorectal cancer.<br />
Cancer Res <strong>19</strong>95;55:1811-6.<br />
8. IOM. Dietary, functional, and total fiber. In: Press TNA, ed. Dietary<br />
Reference Intakes - Energy, carbohydrate, fiber, fat, fatty acids, cholesterol,<br />
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