VOLUME 19, NÚMERO 4 • OUTUBRO, NOVEMBRO ... - SBNPE

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Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(4):209-215 Tabela 1 - Valores de referência dos lipídios séricos. Lipídios Valores> 20 anos a Categoria Valores< 20 anos Categoria Colesterol total – CT (mg/dL) < 200 Ótimo > 170 e < 185 b Leve 200-239 Limítrofe > 185 e < 200 b Moderado e 240 Alto > 200 b Grave LDL-colesterol (mg/dL) < 100 Ótimo 100-129 Desejável < 110 c Aceitável 130-159 Limítrofe 110-129 c Limítrofe 160-189 Alto > 130 c Alto e 190 Muito alto HDL-colesterol (mg/dL) < 40 Baixo LDL/HDL = 2 a 3,5 d Razão adequada > 60 Alto CT/HDL = 3,3 a 5 d Razão adequada Triglicérides (mg/dL) < 150 Ótimo < 150 d Normal 150-200 Limítrofe 201-499 Alto e 500 Muito alto Fonte: a. NCEP 33 e SBC 34 ; b. Moura et al. 35 ; c. Baker et al. 30 ; d. NIH 36 Tabela 2 - Valores de referência dos lipídios séricos de 0 a 19 anos. Sexo masculino Sexo feminino Idade (anos) Colesterol (mg/dL) Triglicérides (mg/dL) Idadeanos Colesterol (mg/dL) Triglicérides(mg/dL) P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 0 a 4 114 155 203 29 56 99 0 a 4 112 156 200 34 64 112 5 a 9 121 160 203 30 56 101 5 a 9 126 164 205 32 60 105 10 a 14 119 158 202 32 66 125 10 a 14 124 160 201 37 75 131 15 a 19 113 150 197 37 78 148 15 a 19 120 158 203 39 75 132 Idade anos HDL(mg/dL) LDL(mg/dL) VLDL(mg/dL) Idade anos HDL(mg/dL) LDL(mg/dL) VLDL(mg/dL) P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 P5 P50 P95 5 a 9 38 56 5 63 93 129 0 8 18 5 a 9 36 53 73 68 100 140 1 10 24 10 a 14 37 55 74 64 97 133 1 10 22 10 a 14 37 52 70 68 97 136 2 11 23 15 a 19 40 46 63 62 94 130 2 13 26 15 a 19 35 52 74 59 96 137 2 12 24 Fonte: AHA 37 Tabela 3 - Valores de referência dos lipídios séricos de 2 a 19 anos. Lipídios Idade (anos) Valores (mg/dL) Desejáveis Limítrofes Aumentados CT ≥ 170 170 – 199 ≥ 200 LDL-C ≥ 110 110 - 129 ≥ 130 HDL-C < 10 ≥ 40 10 – 19 ≥ 35 TG < 10 ≥ 100 ≥ 100 10 - 19 ≥ 130 ≥ 130 [* O filtro não suporta esse formato de arquivo | incorporado.TIF *] Fonte: Kwiterovich Jr 38 A aterosclerose se inicia na infância e é acelerada em alguns indivíduos. A correlação do colesterol sangüíneo com a incidência de doenças cardiovasculares demonstra que há um risco aumentado quando o colesterol é maior que 200mg/ 100ml de sangue 35 . O colesterol é um éster. A quantidade de colesterol no plasma sangüíneo é determinada parcialmente por herança genética e parcialmente pela gordura e colesterol veiculados pela dieta 40 . Os lipídios são insolúveis no meio aquoso. Sendo assim, para que sejam transportados na circulação sistêmica, organizam-se em estruturas macromoleculares denominadas lipoproteínas. Estas se compõem de uma proteína específica (apoproteína) ligada a um agregado lipídico, onde triglicérides e colesterol esterificado estão envolvidos por 212 fosfolipídios e colesterol livre. As lipoproteínas transportam os lipídios até os tecidos onde desempenharão suas funções como reservatório de energia, componentes de membranas celulares e como precursores de hormônios esteróides ou ácidos biliares 41 . Existem cinco classes principais de lipoproteínas: os quilomícrons, as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL-c), as lipoproteínas de densidade intermediária (IDLc), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c) e as lipoproteínas de alta densidade (HDL-c) 42 . As lipoproteínas de baixa densidade estão mais relacionadas com a formação do processo da aterogênese, enquanto as lipoproteínas de alta densidade, com sua redução. Assim como na obesidade, a dislipidemia na infância e adolescência é fator gerador de hipertensão, intolerância à glicose e complicações ateroscleróticas na idade adulta 43 . Embora o desenvolvimento das doenças cardíacas ateroscleróticas seja atribuído geralmente a fatores genéticos, a doença cardíaca está comprovadamente relacionada também ao ambiente, como foi observado entre os japoneses, que migraram para o Hawai ou para os Estados Unidos, com aumento da prevalência dessas doenças 44 . Foi demonstrada uma clara relação entre a dieta e o risco da doença cardiovascular como demonstram vários estudos experimentais em humanos e animais 44,45,46,47 . Ornish et al. 48 , tiveram resultados semelhantes aos das drogas
aterogênicas fazendo uma rígida modificação na dieta e administrando o stress. Variações na dieta de diferentes culturas têm correlação com a prevalência de doenças coronárias e seus fatores de risco, de acordo com estudos transversais internacionais. Em contraste, estudos com populações mostram uma fraca associação entre a dieta e os fatores de risco, subestimando uma base genética para diferença interindividual, dentro de uma população exposta, com padrões dietéticos similares. Embora exista essa fraca associação, quando a relação entre dieta e lesões das coronárias foi examinada em estudos com autópsias, verificou-se que uma alta ingestão de amido e proteínas vegetais estava associada com um índice menor de aterosclerose do que quando a ingestão provinha de alimentos ricos em proteína animal e/ou gordura. A aterosclerose começa como um processo silencioso. Pacientes são geralmente assintomáticos até estados avançados da doença. Anormalidades no perfil lipídico como, níveis elevados de colesterol sérico e de LDL-c, e baixos de HDL-c, são importantes determinantes no desenvolvimento desta enfermidade. O termo dislipidemia tem substituído hiperlipidemia para definir estas desordens resultantes do baixo HDL-colesterol 30 . Um seguimento das concentrações de colesterol sangüíneo entre crianças e jovens tem sido documentado por alguns autores como Porkka et al. 49 e Webber et al. 50 . A prevenção precoce da aterosclerose é uma preocupação de saúde pública e, nos Estados Unidos, o Programa Nacional de Educação sobre o Colesterol tem recomendado uma dieta de intervenção em crianças com níveis plasmáticos de colesterol elevados 51 . O estudo do consumo de lipídios por crianças é de interesse porque se sabe que as experiências iniciais com os alimentos podem definir os padrões definitivos de alimentação. Há também evidências que o consumo dietético na primeira infância esteja relacionado aos fatores de risco de doenças coronarianas, embora esta relação seja mais fraca para crianças mais velhas do que para as mais novas 11 . Apesar disto, são poucos os estudos destinados a avaliá-los nesta faixa etária 28 . Um estudo recente do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, com crianças de um a quatro anos, mostrou consumo de gordura total na dieta de 34% das calorias, sendo 13% destas calorias provenientes de gordura saturada. Estudos com escolares mostraram consumo total de gordura entre 38% a 41% das calorias. Guias alimentares para adultos recomendam limitar o consumo de gordura a no máximo 30% das calorias e gorduras saturadas a menos de 10% das calorias. Parece haver um crescente consenso que recomendações similares são apropriadas para crianças maiores de dois anos. Nos Estados Unidos, 87% das crianças de dez anos excedem ao consumo destas recomendações para lipídios. Altos níveis de colesterol em crianças são preditores de altos níveis na fase adulta e aumento do risco de doença cardíaca coronária. Estudos mostram que cerca de 20% das crianças em idade escolar têm valores de colesterol sérico maior que 185 mg/dl (percentil 90). Prega cutânea acima do percentil 70 em crianças está associada com nível elevado de colesterol sérico 52 . Dietas com baixo teor de gorduras, de gorduras saturadas e de colesterol, podem diminuir o LDL-c em adultos, porém, Rev Bras Nutr Clin 2004; 19(4):209-215 poucos estudos têm demonstrado este efeito em crianças, havendo preocupação sobre a segurança em diminuir o colesterol da dieta destas, particularmente nos anos em que há picos de crescimento. Esta preocupação está relacionada a possíveis deficiências no crescimento e na adequação de nutrientes, especificamente consumo de ferro. Em 1987, teve início, nos Estados Unidos, um estudo clínico controlado, para testar a eficácia e segurança de uma intervenção dietética de longo prazo, para redução do LDL-c de crianças em crescimento. Concluiu-se que a modificação da gordura pode ser realizada em crianças com alto nível de LDL-c, sem que afete o crescimento normal e melhorando estes níveis 53,54 . A definição e a pesquisa de fatores novos e não investigados até o momento, são de suma importância na formulação de estratégias para neutralizar fatores conhecidos e para a prevenção primária da aterosclerose. Medidas simples e efetivas de prevenção incluem aumento da preocupação com as doenças, manutenção do peso corporal ideal, exercícios físicos regulares, consumo de dieta balanceada, evitar o fumo e o controle da pressão e do estado metabólico desde cedo. Estas medidas iniciando na infância devem ser aplicadas a todos e em particular aos indivíduos predispostos e populações 43 . Framingham indicou uma contínua elevação de risco para doença cardíaca coronária à medida que o colesterol ultrapassa o nível de 180 mg% 55 . A meta de epidemiologistas, nos Estados Unidos, é que as crianças deste país atinjam uma média de colesterol plasmático de 150 mg% 56 . No estudo de Muscatini, 24% das crianças possuíam colesterol acima de 220 mg% 57 . No Brasil, há os estudos de Moura et al. 35 , com escolares de 8 e 9 anos, na cidade de Campinas, SP, apontando prevalência de 13,5% de hipercolesterolemia, maior em meninas do que em meninos, com valores médios de colesterol-143 mg/dl, HDL-colesterol – 35mg/dl, LDLcolesterol – 96mg/dl, VLDL-colesterol – 12mg/dl e trglicerídeos – 61mg/dl. Em Bento Gonçalves (RS), Gerber & Zielinsky 28 encontraram 27,98% de estudantes de 6 a 16 anos com colesterol > 180 mg%. Moura et al. 58 referem valores médios de 160mg/dl de colesterol, 96 mg/dl de LDLcolesterol, 16 mg /dl de VLDL-colesterol, 79 mg/dl de triglicerídeos, 3,5 para a razão colesterol/HDL-colesterol e 2,1 para a razão LDL-colesterol/HDL-colesterol, em escolares de 7 a 14 anos na cidade de Campinas (SP). Apresentam ainda uma prevalência, nesta mesma população, de 35% de hipercolesterolemia dividida em 15,7% leve, 9,8% moderada e 9,5% grave, sendo que a prevalência no sexo feminino foi maior que a do masculino. Apesar da alta mortalidade por doenças cardiovasculares, no Brasil não há dados sobre o nível de colesterol em crianças e, por este motivo, os padrões utilizados para classificar o teor de colesterol é o mesmo utilizado para adultos 35 . O tratamento e a detecção da dislipidemia, em crianças, é altamente controverso. Uns são favoráveis a que se avaliem todas as crianças, outros que se faça uma avaliação seletiva para as de risco e uns poucos são contrários a avaliação. O consenso do NCEP (National Cholesterol Education Panel) e da Academia Americana de Pediatria, é de que se faça a 213
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