Gênero e Diversidade na Escola - Portal do Professor - Ministério da ...
Gênero e Diversidade na Escola - Portal do Professor - Ministério da ...
Gênero e Diversidade na Escola - Portal do Professor - Ministério da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Educação, diferença,<br />
diversi<strong>da</strong>de e desigual<strong>da</strong>de<br />
Sérgio Carrara<br />
Trabalhar simultaneamente a problemática de gênero, <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de sexual<br />
e <strong>da</strong>s relações étnico-raciais, ou seja, abor<strong>da</strong>r em conjunto a misoginia, a<br />
homofobia e o racismo não é ape<strong>na</strong>s uma proposta absolutamente ousa<strong>da</strong>, mas<br />
oportu<strong>na</strong> e necessária. No Brasil, o estu<strong>do</strong> destes três temas e <strong>do</strong>s correlativos<br />
processos de discrimi<strong>na</strong>ção social deu origem a campos discipli<strong>na</strong>res distintos<br />
(quem estu<strong>da</strong> uma coisa não estu<strong>da</strong> outra), a diferentes are<strong>na</strong>s de atuação de<br />
ativistas (cujo diálogo entre si nem sempre é fácil) e, fi<strong>na</strong>lmente, a políticas<br />
públicas específicas.<br />
Apesar dessa fragmentação, gênero, raça, etnia e sexuali<strong>da</strong>de estão intimamente<br />
imbrica<strong>do</strong>s <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> social e <strong>na</strong> história <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des ocidentais e, portanto,<br />
necessitam de uma abor<strong>da</strong>gem conjunta. Para trabalhar estes temas de forma<br />
transversal, será fun<strong>da</strong>mental manter uma perspectiva não-essencialista em<br />
relação às diferenças. A a<strong>do</strong>ção dessa perspectiva justifica-se eticamente, uma<br />
vez que o processo de <strong>na</strong>turalização <strong>da</strong>s diferenças étnico-raciais, de gênero ou<br />
de orientação sexual, que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição<br />
<strong>do</strong> acesso à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia a negros, indíge<strong>na</strong>s, mulheres e homossexuais.<br />
Lembremos, por exemplo, que até o início <strong>do</strong> século XX uma <strong>da</strong>s justificativas<br />
para a não extensão às mulheres <strong>do</strong> direito ao voto baseava-se <strong>na</strong> idéia de que<br />
elas possuíam um cérebro menor e menos desenvolvi<strong>do</strong> que o <strong>do</strong>s homens.<br />
Este imperativo de encontrar no corpo as razões de tais diferenças, ou seja,<br />
de essencializá-las ou <strong>na</strong>turalizá-las, explica-se pela preponderância formal<br />
<strong>do</strong>s princípios políticos <strong>do</strong> Iluminismo, muito especialmente <strong>do</strong> princípio <strong>da</strong><br />
igual<strong>da</strong>de. Depois <strong>da</strong> Revolução Francesa, <strong>na</strong>s democracias liberais moder<strong>na</strong>s,<br />
ape<strong>na</strong>s desigual<strong>da</strong>des <strong>na</strong>turais, inscritas nos corpos, podiam justificar o nãoacesso<br />
pleno à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
. 13