Gênero e Diversidade na Escola - Portal do Professor - Ministério da ...
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(...)<br />
a humani<strong>da</strong>de<br />
se encontrava<br />
irremediavelmente<br />
dividi<strong>da</strong> em tipos<br />
raciais, e (...)<br />
esses tipos(...) não<br />
tinham as mesmas<br />
capaci<strong>da</strong>des<br />
para “evoluir”<br />
culturalmente<br />
ou “progredir”<br />
socialmente.<br />
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existem entre as classes no interior de uma mesma socie<strong>da</strong>de,<br />
ou as que existem entre os europeus e os povos que estes colonizaram<br />
<strong>na</strong> África, <strong>na</strong> Ásia e <strong>na</strong> América.<br />
Foi com base neste racismo que, <strong>na</strong> segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong> século<br />
XIX, a concepção religiosa cristã <strong>da</strong> irman<strong>da</strong>de entre to<strong>do</strong>s os<br />
homens e mulheres e a concepção filosófica de que ca<strong>da</strong> pessoa<br />
huma<strong>na</strong> estava igualmente apta a “progredir” foram substituí<strong>da</strong>s<br />
pela idéia de que a humani<strong>da</strong>de se encontrava irremediavelmente<br />
dividi<strong>da</strong> em tipos raciais, e que esses tipos – em<br />
função de suas diferenças i<strong>na</strong>tas e hereditárias – não tinham as<br />
mesmas capaci<strong>da</strong>des para “evoluir” culturalmente ou “progredir”<br />
socialmente.<br />
Estes <strong>do</strong>is importantes fatos históricos (o cientificismo e o colonialismo),<br />
que estamos associan<strong>do</strong> diretamente ao racismo,<br />
são contemporâneos também de um terceiro, com o qual estão<br />
em relativa discordância: o liberalismo.<br />
Depois <strong>da</strong> Revolução Francesa e <strong>da</strong> instituição <strong>do</strong>s parlamentos<br />
nos Esta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is unifica<strong>do</strong>s e reforma<strong>do</strong>s, impôs-se<br />
<strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de ocidental moder<strong>na</strong> o modelo de ideologia política<br />
basea<strong>do</strong> no governo representativo, que se sustenta no<br />
princípio formal iluminista <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de entre to<strong>da</strong>s as pessoas<br />
huma<strong>na</strong>s. Parte <strong>da</strong> auto-imagem de superiori<strong>da</strong>de <strong>do</strong> povo<br />
europeu moderno vinha justamente <strong>da</strong> a<strong>do</strong>ção deste modelo<br />
de organização social; entretanto, a sua <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção sobre os<br />
povos não-europeus e as formas de tratamento e de governo<br />
que mantinham em suas colônias estavam em gritante para-<br />
O “liberalismo” é um termo que<br />
teve muitas acepções, mas que<br />
pode ser resumi<strong>do</strong> aqui pela referência<br />
ao seu significa<strong>do</strong> mais<br />
comum nos campos político e<br />
econômico. No campo político, ele<br />
<strong>na</strong>sceu como um movimento contra<br />
as arbitrarie<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s governos<br />
despóticos através <strong>da</strong> implantação<br />
<strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des e <strong>do</strong>s direitos<br />
individuais e pela criação <strong>do</strong> Poder<br />
Legislativo que, sen<strong>do</strong> eleito pelo<br />
povo, tem por função criar tais leis<br />
e regular a ação <strong>do</strong> Poder Executivo.<br />
Esta ideologia política está <strong>na</strong><br />
base <strong>da</strong> revolta <strong>do</strong>s barões contra o<br />
rei <strong>na</strong> Inglaterra, mas também <strong>na</strong><br />
Guerra de Independência <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s contra o controle Inglês.<br />
Trata-se de uma ideologia política<br />
que, ao longo <strong>do</strong> século XIX,<br />
desenvolveu-se como uma filosofia<br />
centra<strong>da</strong> fun<strong>da</strong>mentalmente no<br />
indivíduo e no individualismo. No<br />
campo econômico, por extensão, o<br />
liberalismo também defende a extinção<br />
de qualquer controle estatal<br />
sobre a economia, em especial<br />
contra to<strong>da</strong>s as formas de tributação<br />
de oferta de serviços públicos,<br />
que seriam uma maneira de redistribuição<br />
de riquezas. Durante o<br />
século XX, porém, o liberalismo<br />
atenuou esta oposição às funções<br />
de redistribuição <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como<br />
forma de regular as crises endêmicas<br />
e cíclicas <strong>do</strong> capitalismo.<br />
<strong>do</strong>xo em relação a este mesmo modelo. A aplicação desigual <strong>do</strong> modelo político só poderia se<br />
justificar em razão de diferenças que estivessem para além <strong>da</strong> política, isto é, no plano <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza.<br />
É neste ponto que o racismo ganha o seu novo e fun<strong>da</strong>mental papel social e histórico.<br />
Se até a primeira metade <strong>do</strong> século XX as teorias racialistas haviam si<strong>do</strong> alimenta<strong>da</strong>s por<br />
razões políticas, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que aju<strong>da</strong>vam a explicar as singulari<strong>da</strong>des e as diferenças inter<strong>na</strong>s<br />
<strong>da</strong>s tribos e, depois, as <strong>do</strong>s países europeus (estabelecen<strong>do</strong> entre uns e outros, é bom<br />
lembrar, uma linha de descendência <strong>na</strong>tural por meio <strong>da</strong> idéia de linhagens), as relações<br />
coloniais <strong>da</strong>vam um outro estatuto a esta explicação. Diante <strong>do</strong> radicalismo <strong>da</strong>s diferenças<br />
sociais e culturais encontra<strong>da</strong>s no contato com os povos de ultramar, os europeus passa-