A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB
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A valoração de serviços ecossistêmicos regulatórios e de<br />
alguns serviços de abastecimento deve estar basea<strong>da</strong><br />
em um entendimento <strong>dos</strong> processos físicos e biológicos<br />
subjacentes que levam ao fornecimento desses serviços.<br />
Por exemplo, para valorar a regulação <strong>da</strong> água forneci<strong>da</strong><br />
por uma floresta, é necessário primeiramente ter informações<br />
sobre o uso do solo, a hidrologia <strong>da</strong> área e outras<br />
características, de modo que se tenha uma avaliação biofísica<br />
do serviço fornecido.<br />
Este tipo de entendimento torna possível estimar o custo<br />
do valor econômico, mas existem alguns desafios que<br />
precisam ser trata<strong>dos</strong>:<br />
• Medir a quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>de de serviços forneci<strong>dos</strong><br />
pelos <strong>ecossistemas</strong> e pela biodiversi<strong>da</strong>de em vários<br />
esta<strong>dos</strong> possíveis é um desafio chave, e também<br />
uma oportuni<strong>da</strong>de para evitar falhas de generalização.<br />
A valoração é melhor aplica<strong>da</strong> condições ou situações<br />
alternativas (como por exemplo os serviços<br />
presta<strong>dos</strong> segundo práticas divergentes do uso do<br />
solo, consequência <strong>dos</strong> diferentes cenários políticos).<br />
Exemplificando, a captação hídrica nas florestas tropicais<br />
pode fornecer benefícios líqui<strong>dos</strong> à conservação<br />
<strong>da</strong> água, comparando a mesma área se utiliza<strong>da</strong><br />
para pastagem ou cultivo, mas estes benefícios não<br />
podem exceder os benefícios agroflorestais no mesmo<br />
lote de terra (Chomitz and Kumari 1998, Konarska<br />
2002). Estimar a biodiversi<strong>da</strong>de existente nesses<br />
diferentes cenários seria outro desafio. Seria importante<br />
abor<strong>da</strong>r essa avaliação basea<strong>da</strong> em cenários<br />
de forma adequa<strong>da</strong> para garantir que o objetivo principal<br />
<strong>da</strong>s valorações (estimar os custos de benefícios<br />
<strong>da</strong> conservação <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de) não fique perdido<br />
na modelação de usos alternativos do solo.<br />
• A não lineari<strong>da</strong>de no fluxo de serviços precisa de<br />
uma atenção especial. Por exemplo, estu<strong>dos</strong> recentes<br />
em mangues no litoral <strong>da</strong> Tailândia levaram em<br />
consideração que o serviço ecosssitêmico que fornece<br />
proteção ao litoral não varia ao longo <strong>da</strong> área<br />
do mangue natural. Isto leva a conclusões políticas e<br />
valores significativamente diferentes <strong>da</strong>queles obti<strong>dos</strong><br />
em estu<strong>dos</strong> prévios, em particular a combinação espera<strong>da</strong><br />
entre conservação e desenvolvimento (Barbier<br />
et al. 2008). Outro aspecto importante é a existência<br />
de efeitos limiares e a necessi<strong>da</strong>de de se avaliar de<br />
quanto tempo um ecossistema dispõe antes que alguns<br />
de seus serviços entrem em colapso. Ain<strong>da</strong> há<br />
grandes lacunas no conhecimento científico sobre o<br />
papel <strong>da</strong>s espécies nos <strong>ecossistemas</strong> e quais fatores<br />
chaves produzem fluxos de serviços benéficos que<br />
assegurem sua resiliência. Entretanto, para alguns<br />
serviços, há evidência <strong>da</strong> influência de certos indicadores<br />
biofísicos (áreas de habitat, indicadores de saúde,<br />
diversi<strong>da</strong>de de espécies, etc). O Estudo Explorando<br />
a Ciência – Scoping the Science – (Balmford et al.<br />
2008) revisou como está o conhecimento ecológico<br />
sobre uma série de serviços ecossistêmicos e avaliou<br />
as informações disponíveis. As conclusões deste estudo<br />
serão utiliza<strong>da</strong>s na Fase II e servirão de base para<br />
a avaliação econômica por meio <strong>da</strong>:<br />
º º construção de cenários para o fornecimento <strong>da</strong><br />
ca<strong>da</strong> serviço ecosssitêmico;<br />
º º definição de um método para pelo menos um conjunto<br />
de serviços de modo a gerar uma quantificação<br />
global e o mapeamento do fornecimento do<br />
serviço em diferentes cenários, no qual a valoração<br />
econômica será basea<strong>da</strong>;<br />
º º formulação de pressupostos razoáveis que permitam<br />
a extrapolação de valores estima<strong>dos</strong> para<br />
certos <strong>ecossistemas</strong> para que se possa preencher<br />
as lacunas <strong>dos</strong> <strong>da</strong><strong>dos</strong>;<br />
As relações entre os processos <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e os<br />
benefícios que eles fornecem às pessoas variam em<br />
complexi<strong>da</strong>de. É necessário um sistema de classificação,<br />
que pode ser desenvolvido a partir do sistema elaborado<br />
no contexto <strong>da</strong> Avaliação Ecossistêmica do Milênio (Millennium<br />
Ecosystem Assessment 2005b). Esse sistema<br />
ain<strong>da</strong> pode ser aprimorado de modo a fornecer uma boa<br />
base para a valoração econômica (seguindo, por exemplo,<br />
Boyd e Banzhalf 2007, Wallace 2007, Fisher et al. in<br />
press). Parece ser útil fazer uma distinção entre serviço<br />
“final” (ex. fornecimento de culturas agrícolas e água limpa)<br />
que fornece benefícios diretamente importantes para<br />
o bem estar humano e serviços “intermediários” que servem<br />
como insumos para a produção de outros serviços<br />
(ex. polinização, regulação <strong>da</strong> água). O valor econômico<br />
<strong>da</strong> polinização, por exemplo, não pode ser avaliado separa<strong>da</strong>mente<br />
do fornecimento de culturas. A perspectiva<br />
do usuário final: o valor <strong>dos</strong> serviços intermediários pode<br />
apenas ser medido por meio de sua contribuição para a<br />
produção <strong>dos</strong> benefícios ao usuário final. A intenção é<br />
estruturar a classificação <strong>dos</strong> serviços para a avaliação<br />
que será feita na Fase II em torno desta perspectiva.<br />
PRINCÍPIOS-CHAVE DAS MELHORES PRÁTICAS<br />
NA VALORAÇÃO DE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS<br />
Estes princípios baseiam-se nas recomen<strong>da</strong>ções feitas<br />
no Workshop <strong>da</strong> Economia <strong>da</strong> Per<strong>da</strong> Global <strong>da</strong> Diversi<strong>da</strong>de<br />
Biológica organizado no contexto deste projeto em<br />
Bruxelas em março de 2008 (ten Brink and Bräuer 2008).<br />
1. O foco <strong>da</strong> valoração deve ser em mu<strong>da</strong>nças marginais<br />
ao invés do valor “total” de um ecossistema.<br />
2. A valoração de serviços deve ser específica ao contexto,<br />
específica ao ecossistema e relevante ao estado<br />
inicial do ecossistema.<br />
3. Boas práticas em “transferência de benefícios” precisam<br />
ser a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s à valoração <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de,<br />
46 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de