A economia dos ecossistemas e da biodiversidade - TEEB
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European Commission – LIFE04NAT/HU/000118<br />
COMPARTILHAR OS BENEFÍCIOS<br />
DA CONSERVAÇÃO<br />
É preciso compreender e explicitar melhor os valores econômicos<br />
produzi<strong>dos</strong> pela conservação. A avaliação pode<br />
aju<strong>da</strong>r a informar as escolhas de políticas para a criação<br />
ou manutenção de áreas protegi<strong>da</strong>s. Exemplos como o<br />
Sistema de Barragem Gabcikovo-Nagymaros na Hungria<br />
mostram que quando o valor <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de é medido<br />
em relação aos benefícios <strong>dos</strong> grandes projetos de<br />
desenvolvimento, a possibili<strong>da</strong>de de proteger áreas sensíveis<br />
aumenta. Neste exemplo específico, a análise demonstrou<br />
que o capital natural envolvido excedia amplamente<br />
o benefício do projeto de barragem proposto, que<br />
teria causado enormes impactos negativos sobre a biodiversi<strong>da</strong>de<br />
nas áreas úmi<strong>da</strong>s de Szigetkov (OCDE, 2001).<br />
As comuni<strong>da</strong>des locais são as primeiras a arcar com<br />
os custos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de. Por isso, elas<br />
devem compartilhar os benefícios <strong>da</strong> conservação.<br />
As comuni<strong>da</strong>des locais, bem como os governos locais,<br />
normalmente buscam o crescimento e o desenvolvimento<br />
econômico, atraindo mais pessoas e empresas,<br />
promovendo a construção civil e o desenvolvimento de<br />
infraestrutura. Podem considerar as áreas protegi<strong>da</strong>s<br />
como entraves ao desenvolvimento, especialmente onde<br />
a terra é escassa e seu uso é limitado. É o nível local que<br />
arca com os custos decorrentes <strong>da</strong>s restrições ao uso<br />
<strong>da</strong> terra, mas os benefícios tendem a se estender muito<br />
além <strong>da</strong>s fronteiras municipais.<br />
As áreas protegi<strong>da</strong>s poderiam produzir benefícios a<br />
partir de bens e serviços ecossistêmicos em valores<br />
que variam entre US$4,4 e 5,2 bilhões por ano.<br />
Balmford et al. 2002<br />
É fun<strong>da</strong>mental compreender melhor a <strong>economia</strong> <strong>dos</strong><br />
serviços ecossistêmicos para garantir e aumentar as<br />
áreas protegi<strong>da</strong>s, mostrando como perceber e compartilhar<br />
seu valor com as comuni<strong>da</strong>des locais sem<br />
comprometer seus benefícios para a biodiversi<strong>da</strong>de.<br />
Mais de 11% <strong>da</strong> superfície terrestre do planeta já está<br />
legalmente protegi<strong>da</strong>, graças a uma rede de mais de<br />
100.000 áreas protegi<strong>da</strong>s (UNEP-WCMC/IUCN-WCPA<br />
2008), que juntas contêm a maior parte <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de<br />
do planeta. A rede Natura 2000 <strong>da</strong> UE é um exemplo,<br />
que representa cerca de 20% do território <strong>dos</strong> 27 membros<br />
<strong>da</strong> UE (UE 2008).<br />
Mas a rede de áreas protegi<strong>da</strong>s não está completa, e as<br />
que existem estão ameaça<strong>da</strong>s (Bruner et al. 2001) pela<br />
falta de financiamento e apoio político. Especialmente no<br />
contexto do nosso trabalho, as áreas protegi<strong>da</strong>s enfrentam<br />
pressão financeira gera<strong>da</strong> pelos ganhos potenciais<br />
advin<strong>dos</strong> <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> madeira, <strong>da</strong> carne, <strong>dos</strong> biocombustíveis<br />
e de outros recursos (CDB 2003, 2004; Terborgh<br />
1999).<br />
Essa incompatibili<strong>da</strong>de deve ser corrigi<strong>da</strong>, de preferência<br />
por meio <strong>da</strong> participação nas receitas oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s áreas<br />
protegi<strong>da</strong>s, como em Ugan<strong>da</strong> (ver Quadro 4.7). Os custos<br />
<strong>da</strong> conservação comunitária, como as per<strong>da</strong>s agropecuárias,<br />
podem ser significativos e precisam ser administra<strong>dos</strong><br />
pelas comuni<strong>da</strong>des, pelos conservadores <strong>da</strong><br />
floresta e pelas ONGs. É comum a falta de indenização<br />
adequa<strong>da</strong>, embora existam outros exemplos recentes<br />
Quadro 4.5: Reflorestamento<br />
do Canal do Panamá<br />
Seguradoras e grandes companhias de navegação<br />
estão financiando um projeto de 25 anos para restaurar<br />
os <strong>ecossistemas</strong> florestais ao longo <strong>dos</strong> 80<br />
quilômetros do Canal do Panamá. É a rota de navegação<br />
preferi<strong>da</strong> entre os oceanos Atlântico e Pacífico,<br />
com mais de 14.000 navios tendo passado<br />
pelo canal em 2007. Mas seu funcionamento está<br />
sendo ca<strong>da</strong> vez mais afetado pelas cheias, abastecimento<br />
de água irregular e assoreamento como<br />
resultado do desmatamento <strong>da</strong>s terras circunvizinhas<br />
(Gentry et al. 2007).<br />
Os custos de manutenção do canal estão aumentando,<br />
e há um risco crescente de que tenha que<br />
ser fechado. As companhias de navegação enfrentavam<br />
prêmios de seguro ca<strong>da</strong> vez mais altos, até<br />
que a ForestRe – enti<strong>da</strong>de seguradora especializa<strong>da</strong><br />
foca<strong>da</strong> em riscos florestais – convenceu-as a financiar<br />
a restauração do ecossistema (The Banker<br />
2007). As vantagens são menor erosão e um fluxo<br />
mais controlado de água doce para o canal, o que<br />
reduz o risco de seguro para que as transportadoras<br />
possam se beneficiar de prêmios mais baixos.<br />
56 A <strong>economia</strong> <strong>dos</strong> <strong>ecossistemas</strong> e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de