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Medicina

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m<br />

( C ) O titulo do poema produz efeito polissêmico, que se<br />

confirma pelo desenvolvimento do texto, e coloca em<br />

evidência uma das propostas estéticas defendidas pela<br />

geração de 22 do Modernismo brasileiro, a saber, a<br />

valorização da linguagem culta - sem erros ou vícios -<br />

como uma forma de expressão da identidade nacional.<br />

( D ) No poema, as formas verbais ”Vestiu" (verso 3) e<br />

"tinha despido" (verso 6) configuram antítese, que<br />

encontra correlato na oposição entre os conceitos de<br />

"catequização" e ”antropofagia", desenvolvidos por<br />

Oswald de Andrade no Manifesto Antropófago de 1928.<br />

T ex t o I V<br />

João Porém, o criador de perus.<br />

1 Agora o caso não cabendo em nossa cabeça. O pai<br />

teimava que ele não fosse João, nem não. A mãe, sim. Daí<br />

o engano e nome no assento de batismo. Indistinguível<br />

disso, ele viçara, sensato, vesgo, não feio, algo gago,<br />

saudoso, semi-surdo; moço. Pai e mãe passaram, pondo-o<br />

sozinho. A aventura é obrigatória. Deixavam ao Porém o<br />

terreno e, ainda mais, um peru pastor e três ou duas suas<br />

peruas.<br />

2 E tanto; aquilo tudo e egiptos. Desprendado quanto ao<br />

resto, João Porém voltou-se às aves - vocação e meio de<br />

ganho. De dele rir-se? A de criar perus, os perusinhos<br />

mofinos, foi sempre matéria atribulativa, que malpaga, às<br />

poucas estimas.<br />

3 Não para o João. Qual o homem e tal a tarefa:<br />

congruíam-se, como um tom de vida, com riqueza de<br />

fundo e deveres muito recortados. Avante, até próspero.<br />

Tomara a gosto. O pão é que faz o cada dia.<br />

4 Já o invejavam os do lugar - o céu aberto ao público -<br />

aldeiazinha indiscreta, mal saída da paisagem. Ali<br />

qualquer certeza seria imprudência. Vexavam-no a vender<br />

o pequeno terreiro, próprio aos perus vingados gordos.<br />

Porém tardava-os, com a indecisão falsa do zarolho e o<br />

pigarro inconcusso da prudência. Tornaram; e Porém<br />

punha convicção no tossir, prático de economias<br />

quiméricas, tomadas as coisas em seu meio.<br />

João Guimarães Rosa - Tutamela<br />

1 2 .A respeito das estruturas linguísticas e literárias do<br />

texto, assinale a alternativa correta.<br />

A ) Depreende-se, da leitura do primeiro parágrafo, que o<br />

protagonista recebeu o nome "João Porém" por vontade<br />

inequívoca de seus pais.<br />

B ) O período “Agora o caso não cabendo em nossa<br />

cabeça”, empregado para iniciar a narrativa, contribui para<br />

que se delimite o lugar de fala do narrador, cujo discurso<br />

permite aproximá-lo da realidade sertaneja e caracterizálo,<br />

possivelmente, como um contador de causos da região.<br />

C ) Após a morte de seus pais, "J o ã o P o r" éresolveu<br />

m<br />

dedicar-se à tarefa vexatória de criar perus, porque a<br />

modesta herança que lhe fora deixada não lhe permitiria<br />

outra forma de sobrevivência.<br />

D ) Não obstante a universalidade dos temas explorados,<br />

o tratamento dado à linguagem confere caráter<br />

regionalista ao estilo de João Guimarães Rosa, porquanto<br />

o escritor procurou reproduzir fidedignamente a fala do<br />

sertanejo que habita o interior mineiro, conforme se pode<br />

observar no texto.<br />

1 3 .Com relação aos recursos estilísticos do texto, assinale<br />

a alternativa correta. O trecho "t r ê s o u du as s u as ” p er u as<br />

(1° parágrafo) revela que, no processo de seleção lexical,<br />

o autor' levou em consideração o significante dos<br />

vocábulos - que foram combinados não apenas em virtude<br />

de seu significado -, portanto constitui indício da função<br />

emotiva da linguagem no texto. Por meio do emprego de<br />

máximas como "A av ent u r a é o b r ig ” at ó(1°<br />

r ia<br />

parágrafo) e "O p ã o é q u e f az o cada ” (3° parágrafo), dia<br />

o narrador induz o leitor a refletir acerca da matéria<br />

narrada, cujo sentido adquire conotação simbólica e<br />

metafísica, universalizando o drama individual do<br />

protagonista, que se converte em arquétipo do ser<br />

humano.<br />

C ) O emprego de neologismos, como ”D es p r endado " e<br />

"m al p ag a" (2° parágrafo), torna inovadora a linguagem<br />

do texto no que concerne ao plano morfológico, embora<br />

sua sintaxe seja convencional.<br />

D ) A substituição do vocábulo "algo” (1° parágrafo) por<br />

eio seria coerente com as ideias do texto e não lhe traria<br />

prejuízo do ponto de vista semântico ou estilístico.<br />

1 4 .Em cada um dos itens abaixo, propõe-se substituir um<br />

vocábulo do texto por outro. Assinale a alternativa em<br />

que, desconsiderando-se a feição estilística, a substituição<br />

proposta N Ã O preservaria as relações semânticas do<br />

texto. "inconcusso" (4° parágrafo) - indeciso. ”vingados"<br />

(4° parágrafo) - crescidos. ”atribulativa” (2° parágrafo) -<br />

adversa. "viçara" (1° parágrafo) - crescera.<br />

1 5 .No que concerne às estruturas morfossintáticas do<br />

texto, assinale a alternativa correta.<br />

( A ) Os segmentos "a indecisão falsa do zarolho” e "o<br />

pigarro inconcusso da prudência” (4° parágrafo)<br />

aparecem coordenados entre si e apresentam idêntica<br />

estrutura sintática.<br />

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