Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
3. A NATUREZA MORTA COMO ALEGORIA: UMA OUTRA MANEIRA DE<br />
FALAR SOBRE O OUTRO<br />
Com a queda de Roma e a penetração dos povos bárbaros na chamada “Europa<br />
civilizada”, houve um choque de culturas e iniciou-se um processo de convivência e<br />
integração de diferentes povos e suas concepções de mundo. A cultura clássica, proveniente<br />
da Europa civilizada e católica, e a cultura não clássica, proveniente da Europa não civilizada,<br />
passaram a conviver num mesmo espaço geográfico. A partir do século XVI, devido às<br />
diferenças de comportamento e atitudes entre o mundo europeu clássico e o mundo europeu<br />
não clássico, e também devido à incapacidade da parte “incivilizada” de aceitar os abusos de<br />
autoridade da Igreja Católica Romana, deu-se origem ao processo da Reforma Protestante.<br />
Foi com o protestantismo e através de sua busca por uma fé pura e livre de dogmas, em<br />
que o indivíduo buscava um encontro direto com Deus sem o intermédio de uma instituição,<br />
que o homem se libertou da submissão teológica. Com isso a humanidade pôde experimentar<br />
um nível de desenvolvimento artístico e científico jamais experimentado anteriormente, e foi<br />
nesse período que a Europa protestante inaugurou uma nova fase do humanismo, um<br />
humanismo que se distingue do humanismo do Ocidente católico romano pela forte inclinação<br />
à ciência, inclinação esta que é demonstrada através de novas práticas experimentais e<br />
especulativas baseadas na intensa observação da natureza e do meio ambiente como forma de<br />
entender os fenômenos do mundo (COUTINHO, 1999, p. 36).<br />
Desvinculada da exortação moral e munida de um espírito liberto dos dogmas religiosos,<br />
a cultura do norte europeu avançou e se desenvolveu nos mais diversos aspectos, inclusive no<br />
comércio. Segundo Julie Berger Hochstrasser (2007, p. 13), no final do século XVI o sistema<br />
comercial do Velho <strong>Mundo</strong> podia ser descrito como um sistema triangular em que os pólos de<br />
poder eram ocupados pelos Países Baixos na primeira ponta, pelo Báltico na segunda e pela<br />
Península Ibérica e França na terceira e última ponta. No início do século XVII essa realidade<br />
iria sofrer profundas alterações e esse sistema iria expandir-se, gerando uma série de<br />
mudanças institucionais e técnicas que fariam com que os Países Baixos assumissem uma<br />
posição de superioridade com relação aos demais pólos dominantes desse sistema.<br />
Assim, os Países Baixos do século XVII viviam um período de grande prosperidade<br />
econômica, com suas famosas companhias de comércio, que geravam altos lucros e riqueza<br />
para os Estados e cidades que compunham as Províncias Unidas. Naquele período, os<br />
comerciantes holandeses alcançaram os mais distantes lugares do Velho <strong>Mundo</strong> e<br />
estabeleceram uma sólida rede de comércio que, em pouco tempo, deixaria o mundo à sua<br />
16