Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
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Diante dessas possibilidades interpretativas podemos dizer que suas pinturas são de<br />
grande importância para entender o processo de assimilação e entendimento do outro pelo<br />
Europeu, pois foi através delas que o europeu “decodificou” o homem do <strong>Novo</strong> <strong>Mundo</strong> para<br />
assim dominá-lo de maneira mais eficaz. Além disso, suas telas registraram a riqueza das<br />
terras sob domínio da Companhia das Índias Ocidentais e, assim como as imagens produzidas<br />
por seu companheiro Frans Post “foram responsáveis por criar imagens fundantes da<br />
representação do Brasil e de sua paisagem étnica e geográfica” (OLIVEIRA, 2007).<br />
Podemos afirmar ainda, que o intuito dessas telas, principalmente aquelas produzidas no<br />
Brasil, era o de registrar a riqueza daquelas terras de modo a fazer propaganda dos domínios<br />
da gloriosa Companhia da Índias Ocidentais. Por isso, devemos ter em mente que elas<br />
constituem uma representação alegórica da realidade do Nordeste colonial, são imagens<br />
teatralizadas que fizeram com que o Brasil seiscentista fosse encarado, pelo homem moderno,<br />
como um lugar exótico, e que por mais realistas que essas pinturas possam ser elas não estão a<br />
salvo de carregar as convicções e preconceitos daqueles que as produziram e a influência<br />
daqueles que as patrocinaram. Assim, é importante que não percamos de vista a influência<br />
exercida pelo conde Maurício de Nassau na produção dessas telas, já que foi ele quem<br />
patrocinou o trabalho de artistas como <strong>Eckhout</strong> com o objetivo de mostrar, aos seus<br />
conterrâneos, o sucesso de seu governo representando a Companhia das Índias Ocidentais nas<br />
terras brasileiras.<br />
Nesse sentido, podemos observar nas telas do pintor <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> que, apesar de elas<br />
retratarem os povos indígenas e sua fisionomia de maneira realista, também mostram os<br />
costumes desses povos de forma exagerada, e isso, em nenhum momento, vai de encontro à<br />
ideia já existente. Pelo contrário, isso contribuiu para a manutenção do imaginário da época,<br />
que entendia o índio como um ser selvagem e incivilizado. Embora o índio, através das telas<br />
de <strong>Eckhout</strong>, tenha passado a ser retratado de forma fidedigna e não mais com traços europeus,<br />
ele continuou sendo tido como um ser selvagem, pois nas telas de <strong>Eckhout</strong> também estavam<br />
presentes simbolismos como, por exemplo, o pé encontrado no cesto carregado pela mulher<br />
tapuia, que deixavam claro que o europeu continuava vendo o indígena e seus costumes com<br />
certo preconceito.<br />
Concluímos, portanto, que as obras “etnográficas” de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> trabalharam tanto<br />
para a transformação da imagem quinhentista a respeito do índio, no que diz respeito a sua<br />
fisionomia, quanto para a manutenção da ideia já presente no imaginário europeu, em que o<br />
índio era concebido como um ser selvagem, exótico, animalesco e incivilizado. Assim, o índio<br />
embora representado de maneira fiel, continuava a ser encarado como uma criatura de alma<br />
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