Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
deixando claro que o europeu continuava vendo o indígena e seus costumes com certo<br />
estranhamento e preconceito.<br />
Os simbolismos presentes na arte de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, sem dúvida, nos fornecem muitas<br />
informações sobre o período colonial e sobre o seu objeto de representação, no caso, a<br />
colônia, mas é através dos preconceitos impressos em sua obra que <strong>Eckhout</strong> deixa clara a<br />
maneira como um típico europeu enxergava o indígena, o negro, o mulato e mais ainda, sobre<br />
como este europeu enxergava e entendia as relações existentes entre esses povos. Em suas<br />
pinceladas, o pintor deixou transparecer a sua condição de homem branco observador e<br />
acabou por cair no mesmo pecado cometido pelos cronistas do século XVI, representando os<br />
costumes indígenas da mesma forma que, até então, estes vinham sendo representados, ou<br />
seja, como demoníacos, selvagens e incivilizados. Nesse sentido, podemos dizer que <strong>Eckhout</strong><br />
em nada se diferencia dos cronistas e viajantes do XVI e acaba por ratificar a ideia imposta<br />
por eles em suas representações.<br />
Dessa maneira, podemos perceber, em suas telas, esse preconceito do europeu com<br />
relação ao índio no exagero expresso na tela Mulher Tapuia, que é permeada por símbolos e<br />
estereótipos que fazem o espectador perceber o índio como um ser selvagem e incivilizado. Se<br />
fizermos, por exemplo, uma rápida comparação entre as telas Mulher Tapuia e Mulher<br />
Mameluca perceberemos, claramente, o preconceito do homem europeu, e aqui incluo o<br />
próprio <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong>, com relação ao indígena.<br />
Considerando que para <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> o Tapuia 13 ocuparia o mais baixo nível de sua<br />
escala civilizatória, enquanto que a Mameluca 14 , por ser o resultado da mistura entre brancos<br />
e índios, representaria o mais alto nível civilizatório da colônia, podemos perceber claramente<br />
a diferenciação feita pelo pintor na representação desses dois tipos étnicos. Enquanto na tela<br />
Mulher Mameluca há, visivelmente, um apelo de sensualidade e uma série de símbolos que<br />
remetem ao intenso contato da personagem com a cultura europeia e a sua total incorporação<br />
à civilização, demonstrado por sua vestimenta e por sua maneira de se portar, na tela Mulher<br />
Tapuia não se percebe as mesmas características sensuais e os traços sutis dados à mameluca,<br />
pelo contrário, a tela é permeada de ícones que remetem ao selvagem e ao incivilizado, que<br />
deixam a obra carregada de um ar pesado e amedrontador. O que se vê ali é a representação<br />
de uma “humanidade desumana” que em nada se assemelha ao europeu e que vive de forma<br />
inaceitável, fazendo de outros seres humanos presas e pratos principais de seus banquetes. O<br />
13 Termo usado para designar uma determinada classe de indígenas que habitava regiões mais interiores. Em tupi<br />
o termo significa forasteiro, bárbaro, inimigo.<br />
14 Grupo étnico resultante da miscigenação entre indígena e branco.<br />
32