Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira
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disposição. Em meio a esse contexto de desenvolvimento comercial e de intensa circulação de<br />
produtos de todas as partes do mundo se estabeleceu, naquela região, uma sociedade<br />
consumista que, devido a seu poder de compra, impulsionou o comércio holandês para o<br />
sucesso.<br />
Nesse mesmo período se constatava ali, devido ao protestantismo humanista, um intenso<br />
desenvolvimento nas artes em geral, marcando esse período definitivamente como o “Século<br />
de Ouro” das artes e da ciência, e assim o nascimento e estabelecimento de um novo gênero<br />
de pintura como gênero independente: a pintura de naturezas mortas (HOCHSTRASSER,<br />
2007).<br />
A pintura de naturezas mortas neerlandesa tinha um caráter descritivo e transformava<br />
em temas principais de telas as mercadorias, mercadorias estas que circulavam intensamente<br />
nos grandes portos da região como, por exemplo, no porto de Amsterdã. Além disso, é claro,<br />
eram também representados, em muitas telas, os produtos locais e de fabricação e uso<br />
doméstico como a manteiga, a cerveja e o queijo, que apareciam com frequência nas telas<br />
produzidas durante as primeiras décadas do século XVII nas Províncias Unidas.<br />
Portanto, para Julie Hochstrasser (2007) as naturezas mortas, assim como as pinturas de<br />
outros gêneros, também são fontes narrativas e podem fornecer pistas de descrições sobre<br />
uma determinada realidade. Segundo a autora, esse gênero foi responsável, na Europa do<br />
século XVII, por narrar a história do nascimento e desenvolvimento do comércio e da<br />
indústria holandesas daquela época.<br />
Sendo assim, é possível afirmar, de acordo com o pensamento de Hochstrasser, que a<br />
natureza morta pode assumir um papel alegórico, no sentido de exprimir um conjunto de<br />
ideias sobre uma determinada realidade, ultrapassando assim, a função meramente estética<br />
que normalmente lhe é atribuída, como é o caso das pinturas de natureza morta produzidas<br />
pelo pintor <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> durante a sua estada nas terras dominadas pela WIC no litoral<br />
brasileiro.<br />
De acordo com a função de documentarista da flora e da fauna locais, que<br />
desempenhava enquanto membro da comitiva do Conde Maurício de Nassau, <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong><br />
pintou uma série composta por doze naturezas mortas que retratavam tanto as plantas próprias<br />
do continente sul-americano como, por exemplo, o caju e o mamão, quanto aquelas que foram<br />
introduzidas no Brasil pelos europeus e permaneceram sendo domesticadas com sucesso,<br />
como é o caso do pepino e do coco. Há, porém, uma peculiaridade na obra de <strong>Eckhout</strong>: o fato<br />
de o pintor ter representado extensivamente plantas cultivadas desprezando, assim, a<br />
vegetação espontânea da região. Essa escolha não teria ocorrido por coincidência ou por<br />
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