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Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

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humana. Esses elementos fazem alusão direta à característica antropofágica de algumas tribos<br />

indígenas embora, nesta tela, o ritual tenha sido exageradamente estereotipado. A sensação<br />

que temos ao olhar para o quadro Mulher Tapuia é a de que ela irá fazer uma sopa de carne<br />

humana e, mais ainda, de que isso era um hábito corriqueiro quando, na verdade, sabemos que<br />

o consumo de carne humana pelos indígenas ocorria apenas em forma de ritual com<br />

prisioneiros de guerra ou entes queridos, dependendo da etnia. A paisagem ao fundo é, assim<br />

como na tela Homem Tapuia, de mata fechada, sem símbolos que apontem para o cultivo de<br />

qualquer gênero alimentício. Em primeiro plano, no lado direito da tela, percebemos uma<br />

enorme quantidade de vagens que caem de uma frondosa árvore, além de um cão com aspecto<br />

de lobo. No fundo da imagem, no espaço existente entre as pernas da índia, observamos a<br />

representação de um grupo de índios descendo a colina e empunhando lanças, provavelmente<br />

dirigindo-se a alguma peleja.<br />

Essas duas representações interpretam o índio tapuia como um ser isolado e sem contato<br />

com o povo europeu. Os símbolos colocados em ambas as telas remetem, quase que<br />

instantaneamente, a uma condição de barbárie e selvageria, condição essa atribuída ao<br />

indígena desde as primeiras representações feitas por cronistas e viajantes. Nesse sentido,<br />

portanto, as representações de <strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> não se diferenciam daquelas feitas ao longo do<br />

século XVI. Pelo contrário: suas imagens acabam por ratificar esse pensamento europeu a<br />

respeito do índio brasileiro, demonizando suas tradições e rituais.<br />

Da mesma maneira, o casal de índios tupis também não foge ao estilo eckhoutiano de<br />

representação e é pintado com traços físicos “reais” e provavelmente fiéis àqueles vistos por<br />

<strong>Eckhout</strong>. O Homem Tupi, por exemplo, não apresenta músculos trabalhados e é representado,<br />

da mesma maneira que a Mulher Tupi, como um homem de estatura mediana e cor de pele<br />

avermelhada. Ele aparece na imagem, vestindo uma espécie de calção, de onde podemos ver,<br />

na sua cintura, uma faca com cabo de madeira, o que, em nossa concepção denota um maior<br />

contato dessa tribo com a “civilização”, já que esse tipo de objeto era de origem europeia. Em<br />

sua mão esquerda, ele segura um arco e quatro flechas, mostrando que apesar do intenso<br />

contato com o homem branco ele ainda preservava seus costumes e hábitos. Na paisagem ao<br />

fundo, podemos perceber a presença de um rio onde alguns indígenas estão se banhando. Em<br />

primeiro plano, ao lado direito da personagem principal, observamos o que seria um pé de<br />

mandioca, além de um exemplar de mandioca aberto aos pés do tapuia, denotando a<br />

importância desse gênero na dieta alimentícia daquele povo. Do lado esquerdo percebemos<br />

um outro elemento dessa dieta, um caranguejo.<br />

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