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Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

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isso contribuiu, em outra via, para a manutenção de uma imagem do índio como um ser<br />

selvagem e animalesco que permanece viva até os dias atuais. Isso fica bastante claro não só<br />

através dos simbolismos usados pelo pintor, mas também pelo fato de ele ter utilizado,<br />

segundo alguns autores, para compor sua série de retratos etnográficos, um tipo de escala<br />

civilizatória. Os estudiosos acreditam que essa escala “incorpore uma hierarquia da<br />

humanidade, com os tapuias na base da escala de civilidade e o homem mulato e a mulher<br />

mameluca no topo” (BRIENEN, 2002 p. 87). Isso é facilmente percebido quando<br />

comparamos as características animalescas atribuídas ao homem e à mulher tapuia com as<br />

características civilizadas e dóceis atribuídas ao mulato e à mameluca, que embora estejam no<br />

topo dessa escala ainda carregam características que fazem lembrar que ainda permaneciam<br />

inferiores ao grande dominador e explorador do mundo, o homem branco.<br />

Além desses preconceitos e conceitos pessoais, suas pinturas, assim como a maioria<br />

dos registros iconográficos, trazem consigo uma grande carga de intenções e finalidades pré-<br />

concebidas, assim como influências de fatores externos – como, por exemplo, o fato de o<br />

artista estar a serviço do Conde Maurício de Nassau e, por isso, ter que pintar focado num<br />

projeto de propaganda do governo deste nobre e dos domínios da WIC no Brasil – sobre o<br />

resultado final da obra. Como bom contratado que era, <strong>Eckhout</strong> fez de seus quadros grandes<br />

outdoors de publicidade e representou neles apenas os melhores aspectos dos trópicos<br />

brasileiros, deixando propositalmente de retratar, em suas telas, muitas das características e<br />

transformações sociais presentes naquela sociedade depois da chegada do homem branco,<br />

mascarando e tentando esconder aspectos como a crueldade da escravidão, que constituía a<br />

base da organização econômica do Brasil colonial e que, em momento algum, é referenciada<br />

com algum símbolo em sua obra.<br />

Esse empenho em esconder as mazelas da sociedade colonial brasileira fica claro<br />

quando analisamos a tela intitulada Mulher Negra. Nesta tela temos a nítida sensação de que a<br />

mulher ali representada é uma cidadã livre, não percebemos ali nenhum indício que nos leve a<br />

crer que ela é uma escrava, a não ser o fato de sabermos que aquela era uma sociedade com<br />

economia baseada no trabalho escravo e que a mesma negra que pousou para <strong>Eckhout</strong> foi<br />

também representada por Zacharias Wagener, em seu diário visual 15 , e tinha em seu peito,<br />

marcado a ferros quentes, o monograma de Nassau, indicando que ela realmente era uma<br />

escrava.<br />

15 O diário visual de Zacharias Wagener é intitulado de Thierbuch, que em alemão significa “Livro dos<br />

Animais”.<br />

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