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Albert Eckhout e o Novo Mundo - Profª Carla Mary S. Oliveira

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Em Mulher Negra percebemos uma negra com seios à mostra e vestida com um tipo de<br />

saia presa por uma faixa de tecido vermelho amarrado na cintura. Além disso, o que chama a<br />

atenção na tela é a enorme quantidade de adornos tipicamente europeus usados pela negra: ela<br />

traz consigo braceletes, brincos, chapéu, pulseiras e até um colar de pérolas com uma<br />

medalha, fato que não condiz com sua posição de escrava e, em nossa opinião, aponta para a<br />

hipótese de que tais objetos teriam sido ofertados em troca de favores sexuais, ideia ratificada<br />

pela figura do garoto que a acompanha na tela, pois ele ostenta um tom de pele mais claro, o<br />

que, em nossa concepção, apontaria para sua origem mestiça. Totalmente inserido no contexto<br />

e regime escravocrata, essa personagem e seu possível rebento são colocados numa paisagem<br />

de praia, com negros trabalhando na areia e vários navios em alto mar, uma referência clara<br />

ao transporte e comércio de escravos.<br />

Além disso, a tela está recheada de símbolos que remetem à fertilidade e sexualidade<br />

dos africanos, como por exemplo, o periquito empunhado pelo garoto que a acompanha e a<br />

espiga de milho apontada por ele em direção ao baixo ventre da negra. Assim como as outras<br />

mulheres representadas por <strong>Eckhout</strong>, a negra também segura uma cesta carregada de objetos.<br />

Essa cesta, segundo Ernest van den Boogaart (2002, p. 124), seria proveniente na região do<br />

Congo e, portanto, associaria essa mulher ao ponto de origem da maioria dos escravos que,<br />

àquela época, viviam no Brasil holandês.<br />

Assim, entendemos que o casal de negros representado por <strong>Eckhout</strong> constrói a ideia de<br />

que o negro estava adaptado e inserido no sistema escravocrata de modo que não constituía,<br />

portanto, ameaça alguma às possessões da WIC e, além disso, possuía um tipo físico forte e<br />

que era próprio para o trabalho, pois sua saúde e estrutura eram resistentes, além de esbanjar<br />

virilidade. Essas representações denunciam que todas essas qualidades estavam sob domínio<br />

holandês, comandados e integrados pela figura do Conde de Nassau.<br />

Por fim, chegamos ao que seria, para <strong>Eckhout</strong>, a representação do mais alto nível de sua<br />

escala evolutiva: o casal formado pelo mulato e pela mameluca. Em Mulher Mameluca,<br />

<strong>Albert</strong> <strong>Eckhout</strong> nos presenteia com a beleza extravagante da mistura entre índios e brancos e<br />

com uma mescla de elementos e características que atraem olhares de todo o mundo. É<br />

possível perceber, na tela, o simbolismo que carrega cada um de seus elementos: é como se<br />

cada folha da paisagem tivesse algo a nos dizer. A mulher mameluca está no centro da tela,<br />

usando um vestido decotado e flores de laranjeira no cabelo e segurando um cesto de flores,<br />

ela transpira sensualidade através de seu decote, postura e até mesmo no simples gesto de<br />

levantar o vestido mostrando, assim, parte de sua perna, usa brincos, colares e pulseiras, e<br />

seus modos são bastante europeizados.<br />

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